Massas precarizadas e desempregadas já são maioria da força de trabalho em Portugal

Massas precarizadas e desempregadas já são maioria da força de trabalho em Portugal


A associação verificou as estatísticas do emprego do INE nos últimos seis anos, e em particular desde a intervenção da ´troika' em Portugal - em maio de 2011 - concluindo que surgiram, desde essa data, mais 316 mil desempregados no país.
As tendências do desemprego e precariedade desmentem a propaganda económica – a precariedade não evita o desemprego, mas promove-o.
O número de precários e de desempregados em Portugal "ultrapassou a metade de toda a força de trabalho", atingindo 2,9 milhões, alertou ontem, dia 1, em Lisboa, a Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis (ACP-PI).

Os dados foram apresentados pela direção da ACP-PI numa conferência de imprensa, em frente aos Armazéns do Chiado, realizada para assinalar o primeiro Dia Europeu de Ação Contra a Precariedade e a Injustiça Social.

Membros da direção da associação falaram aos jornalistas e também realizaram várias ações de sensibilização em lojas do Chiado, onde entregaram panfletos baseados nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em declarações à agência Lusa, João Camargo, da ACP-PI, sublinhou que as estatísticas do emprego apontavam, no final do segundo trimestre de 2012, para uma situação inédita: "Pela primeira vez os precários e os desempregados ultrapassaram metade de toda a força de trabalho no país".

A ACP-PI foi criada há seis meses, após cinco anos de existência como movimento de defesa dos trabalhadores em situação precária, prestando apoio jurídico e fazendo denúncias públicas de violações de direitos laborais.

João Camargo sublinhou que o período que antecede a época de Natal "é o da exploração máxima dos trabalhadores no retalho: contratam-se pessoas por algumas semanas ou um mês, obrigadas a fazer horas extraordinárias não pagas, sem pausas para as refeições".

A associação verificou as estatísticas do emprego do INE nos últimos seis anos, e em particular desde a intervenção da ´troika' em Portugal - em maio de 2011 - concluindo que surgiram, desde essa data, mais 316 mil desempregados no país.

João Camargo acrescentou que também aumentou em 33 mil o número de trabalhadores em part-time, e perderam-se 90 mil empregos de trabalhadores contratados a prazo.
"Os trabalhadores devem denunciar as ilegalidades e chantagens a que são sujeitos, e para quebrarem o isolamento que tantas vezes sentem", apelou o dirigente da ACP-PI.

A entidade considera ainda que "o atual regime de austeridade permanente propõe para todos a precariedade, combinando a diminuição de direitos no trabalho com cortes abruptos no salário direto e indireto".

A ACP-PI apresenta a sua análise das Estatísticas do Emprego do INE desde o 1º trimestre de 2006 até ao 3º trimestre de 2012, concluindo sobre o efeito no emprego das políticas de austeridade executadas nos últimos anos. Os dados são claros e o resultado assustador: os dados oficiais já admitem que precários e desempregados são a condição maioritária entre os trabalhadores; há um declínio contínuo do número de trabalhadores com direitos, e mesmo dentro do trabalho precário ascendem as formas mais extremas de precariedade como o subemprego e o part-time involuntário. As tendências do desemprego e precariedade desmentem a propaganda económica – a precariedade não evita o desemprego, mas promove-o.

Da análise aos relatórios Estatísticas do Emprego desde o 1º trimestre de 2006 até ao 3º trimestre de 2012,, do Instituto Nacional de Estatística, pudemos concluir que, só desde a intervenção da troika (Maio de 2011):

- Perderam-se 90 mil empregos de trabalhadores contratados a prazo;

- O número de trabalhadores em situação de subemprego aumentou em 73 mil;

- O número de trabalhadores a part-time aumentou em 33 mil.

- Há mais 316 mil desempregados;
- No 2º trimestre de 2012 o número de trabalhadores precários e desempregados ultrapassou pela primeira vez a metade de toda a força de trabalho em Portugal.

Conclusões

Os dados oficiais já admitem que os precários e desempregados são a condição maioritária entre os trabalhadores em Portugal, são a norma.

As estatísticas mostram ainda o declínio contínuo e coerente no número de trabalhadores com direitos. Todas as alterações à legislação laboral apontam nesse sentido: menos direitos e menos salário, que é quase sempre demasiado baixo no trabalho precário.

Dentro do trabalho precário, nota-se a ascensão de formas extremas de precariedade, como o sub-emprego ou o part-time involuntário.

A relação entre precariedade e desemprego e a forma simétrica das curvas que comparam trabalho permanente com trabalho precário provam que a precariedade não evita o desemprego, mas promove-o.

Os dados comprovam também que a precarização se faz pela reconversão de todo o mundo do trabalho, ou seja, na mudança do regime social. Este regime. de austeridade permanente, propõe para todos a precariedade, combinando a diminuição direitos no trabalho com cortes abruptos no salário directo e indirecto.

O documento com a análise completa da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, será disponibilizado no seu website até ao final desta semana. Explicações mais detalhadas sobre as conclusões serão divulgadas a partir de hoje no blog da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis: "Trabalhadores Precários", "Emprego a Tempo Inteiro vs Emprego a Tempo Parcial", "Precariedade, Desemprego Oficial e Real", "Declínio dos Trabalhadores a Tempo Inteiro, por Conta de Outrem e a Contrato Sem Termo", "Desemprego e Desemprego Jovem", "Trabalhadores Precários e Desempregados na Força de Trabalho do País".
 
 
 
 
 
 
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O complexo militar industrial e a energia nuclear

Tortura nas prisões colombianas: sistematismo e impunidade revelam uma lógica de Estado

Campo de Concentração do Tarrafal - o Campo da Morte Lenta