por Said Bouamama*
"Desde que Cristóvão Colombo mandou os seus soldados desembarcarem a história mundial transformou-se numa história única, global, relacionada, globalizada. A pobreza de uns já não se pode explicar sem nos interrogarmos sobre as relações de causalidade com a riqueza dos demais. O desenvolvimento econômico de uns é indissociável do subdesenvolvimento de outros. O progresso dos direitos sociais só aqui é possível por meio da negociação dos direitos dali.""Há invariabilidade porque todos os rostos do racismo, desde o biologismo à islamofobia, têm uma comunidade de resultado: a hierarquização da humanidade. Também há mutação porque cada rosto do racismo corresponde a um estado do sistema econômico de depreciação e a um estado de relação de forças políticas. Ao capitalismo monopolista corresponderá a escravatura e a colonização como forma de dominação política e o biologismo como forma do racismo. Ao capitalismo monopolista globalizado e senil corresponderá a balcanização e o caos como forma de dominação, e a islamofobia (em espera de outras versões para outras religiões do Sul em função dos países que há que balcanizar) como forma de racismo."
As três idades de uma dominação
O autor defende que a lista de países destruídos pela intervenção militar do imperialismo norte-americano acolitado pela UE aumenta sem cessar.
Defendendo que a uma «primeira idade» do capitalismo e ao neocolonialismo de uma «segunda idade» está a suceder uma «terceira idade»: a balcanização, uma generalização do caos.
«Paralelamente, constata-se uma mutação das formas do racismo. Depois da Segunda Guerra Mundial o racismo culturalista sucedeu ao racismo biológico e desde há algumas décadas tende a apresentar-se a partir da religiosidade, sob a forma dominante da islamofobia. Na opinião do autor estamos na presença de três historicidades estreitamente ligadas: a do sistema económico, a das formas políticas e a das ideologias de legitimação».
Regresso a Cristóvão Colombo
A visão dominante do eurocentrismo explica a emergência e posterior extensão do capitalismo a partir de factores internos das sociedades europeias. Dai se depreende a famosa tese de que algumas sociedades (algumas culturas, algumas religiões, etc.) estão dotadas de uma historicidade e outras carecem dela. Quando Nicolas Sarkozy afirma em 2007 que «o drama de África é que o homem africano não entrou suficientemente na história [1]» não faz mais do que retornar a um tema reiterativo das ideologias de justificação da escravatura e da colonização.