Nos sectores público e privado em Espanha . Luta contra a política de miséria

Nos sectores público e privado em Espanha . Luta contra a política de miséria
 
"Milhares de espanhóis contestam a política de miséria imposta pelo Governo num país onde o desemprego e a pobreza avançam sem freio, e o capital financeiro salva lucros. 4,9 milhões de trabalhadores estão desempregados."


Os protestos, ocorridos a semana passada, culminaram domingo, 9, com uma grande acção de massas em Madrid contra os cortes e as privatizações na Saúde que o governo regional, nas mãos do Partido Popular, procura impor seguindo a cartilha do executivo central, liderado por Mariano Rajoy.

À chamada «maré branca» em defesa do serviço público, universal, gratuito e de qualidade, aderiram profissionais de todas as áreas do sector e milhares de populares que, como os clínicos, não aceitam que a Comunidade de Madrid aplique o chamado Plano de Sustentabilidade do Sistema de Saúde Pública, o qual prevê a entrega a privados de seis hospitais e 27 centros de saúde, bem como toda a rede de administração não-sanitária – unidades de retaguarda e a Central de Radio-diagnóstico, por exemplo.

Acresce a eliminação de 26 categorias profissionais e a implementação de uma taxa moderadora de um euro por receita, entre outras medidas intituladas de co-pagamento, e o encerramento de laboratórios e de instituições como o Instituto de Cardiologia.

Os sindicatos dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde dizem que o plano coloca em perigo oito mil postos de trabalho, por isso convocaram para os próximos dias 19 e 20 uma nova greve no sector.

Na quarta-feira, 5, cerca de 75 mil trabalhadores da saúde pública madrilena (mais de 90 por cento do total) já haviam aderido a uma paralisação pelos mesmos motivos, desfilando, nesse mesmo dia, pelas ruas da capital até ao parlamento.

No dia anterior, alguns profissionais aproveitaram a sessão aberta ao público e invadiram o Senado, vestidos de batas brancas, em protesto contra as medidas, e no domingo dia 2, uma multidão de portadores de deficiência e familiares protagonizou uma manifestação em Madrid repudiando o desmantelamento do serviço de saúde.

Entretanto, na Andaluzia, a plataforma «Compromisso Social pelo Progresso», que agrega organizações sindicais, sociais, comunitárias e de consumidores, expressou publicamente o seu apoio à luta na região de Madrid, sublinhando que «o triunfo ou a derrota do processo de privatização terá influência na generalização do ataque em todo o país».


Luta não pára

Contra a chamada política de austeridade estão, igualmente, os reitores de 50 universidades públicas espanholas, que contestam a «asfixia económica» e alertam que a redução de 18 por cento no financiamento estatal e de 80 por cento nas despesas não financeiras na investigação, vão provocar a «deterioração irreparável» do Ensino Superior.

Em luta estiveram, ainda, milhares de trabalhadores dos «paradores de turismo», que rejeitam o plano de «reestruturação» da empresa pública responsável pela gestão de unidades de turismo em locais históricos, muitos dos quais classificados. O plano, denunciam os trabalhadores, prevê o despedimento de 644 funcionários, a fusão de unidades e o encerramento durante cinco meses de 27 hotéis, o que, por sua vez, implicará a passagem de 877 trabalhadores a regime de «descontinuados». O objectivo é privatizar os segmentos mais lucrativos, acusam.

Também contra os despedimentos estão os trabalhadores da «Caja3», que iniciaram uma greve diária de quinze minutos contra a saída de 592 trabalhadores e o encerramento de 187 sucursais do banco privado.

A vaga de despedimentos e encerramentos no país ocorre quando o desemprego bateu um novo recorde: são já mais de 4,9 milhões ou cerca de 25 por cento do total da população activa.

Neste contexto, não é de estranhar que as estatísticas indiquem que em Espanha cerca de 22 por cento do povo está em risco de cair na pobreza, número similar ao registado na Grécia, Roménia ou Bulgária.

Nos antípodas do desespero está o grande capital financeiro espanhol. Por estes dias viram libertados pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade os prometidos 40 mil milhões de euros destinados a recapitalizar a banca. BFA-Bankia, Catalunya Banc, NCG Banco e Banco de Valencia, cujos prejuízos foram nacionalizados, recebem a fatia de leão – 37 mil milhões de euros. Barclays e Banco Popular correram a juntar-se a Santander, La Caixa ou Sabadel na participação da Sociedade de Activos para onde será canalizado o restante montante.

 
 
Fonte: Avante www.avante.pt
 
 
 

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