Os colégios para nobres e o elitismo no ensino
Uma sociedade baseada no saber, diziam eles…
Os colégios para nobres e o elitismo no ensino
por Vaz de Carvalho
por Vaz de Carvalho
A recente classificação a nível europeu das universidades e faculdades de economia, traz à memória os colégios para nobres do século XVIII. Em Portugal o "Colégio dos Nobres" foi criado por decreto de José I em 1761, preparado pelo primeiro-ministro Conde de Oeiras, futuro marquês de Pombal. Em conformidade com o elitismo classista da sociedade feudal, procurava preparar os jovens da aristocracia para as atividades da administração. Pode dizer-se que para a época, excluindo neste campo a Inglaterra, representava um certo avanço, dado incluir além das matérias clássicas o ensino da matemática e da física sendo adquiridos mais de 500 aparelhos e instrumentos científicos, hoje no Museu da Universidade de Coimbra.
A classificação a que nos referimos procura desempenhar um papel análogo à das agências de rating no sector financeiro. Aliás as universidades de economia adotaram um nome mais apropriado ao que promovem: "business schools".
Ali a economia não é uma ciência social, trata-se da gestão de negócios, do "menos Estado" a nível macroeconómico, do "free trade" e da desregulação económica e financeira como objetivos a manter "custe o custar".
Ganhar dinheiro, não importa de que maneira, é "criar riqueza"; proporcionar altos dividendos é "criar valor". A satisfação das necessidades sociais, o aumento da produção e fomentar o emprego, são aspetos puramente subsidiários a resolver deixando funcionar o mercado. Assim, o desemprego resulta do facto de os salários estarem acima do que o "mercado" permite e de haver demasiados incentivos a não trabalhar, isto é, prestações sociais. Aliás um dos "papas" da "nova economia", Milton Friedmann, definiu uma "taxa natural de desemprego" correspondente a um funcionamento "eficiente" da economia. Apenas outro nome para o conhecido exército de reserva do trabalho, sempre desejado pelo grande capital. Quanto á "eficiência" cabe perguntar, recorrendo a Marx: eficiente para quem?
Os encargos que as escolas mais bem cotadas impõem, só são acessíveis a famílias de altos rendimentos. São os novos colégios para nobres, para a aristocracia do dinheiro, para as elites que prosseguirão a defesa do "feudalismo" financeiro e do rentismo monopolista. Colégios onde aprendem que os trabalhadores devem ser tratados como ignaros e sacrificarem-se para ganhar a confiança dos senhores que dominam os "mercados", como outrora a plebe se sacrificava e se ajoelhava perante os senhores de castelo e pendão.
A classificação a que nos referimos procura desempenhar um papel análogo à das agências de rating no sector financeiro. Aliás as universidades de economia adotaram um nome mais apropriado ao que promovem: "business schools".
Ali a economia não é uma ciência social, trata-se da gestão de negócios, do "menos Estado" a nível macroeconómico, do "free trade" e da desregulação económica e financeira como objetivos a manter "custe o custar".
Ganhar dinheiro, não importa de que maneira, é "criar riqueza"; proporcionar altos dividendos é "criar valor". A satisfação das necessidades sociais, o aumento da produção e fomentar o emprego, são aspetos puramente subsidiários a resolver deixando funcionar o mercado. Assim, o desemprego resulta do facto de os salários estarem acima do que o "mercado" permite e de haver demasiados incentivos a não trabalhar, isto é, prestações sociais. Aliás um dos "papas" da "nova economia", Milton Friedmann, definiu uma "taxa natural de desemprego" correspondente a um funcionamento "eficiente" da economia. Apenas outro nome para o conhecido exército de reserva do trabalho, sempre desejado pelo grande capital. Quanto á "eficiência" cabe perguntar, recorrendo a Marx: eficiente para quem?
Os encargos que as escolas mais bem cotadas impõem, só são acessíveis a famílias de altos rendimentos. São os novos colégios para nobres, para a aristocracia do dinheiro, para as elites que prosseguirão a defesa do "feudalismo" financeiro e do rentismo monopolista. Colégios onde aprendem que os trabalhadores devem ser tratados como ignaros e sacrificarem-se para ganhar a confiança dos senhores que dominam os "mercados", como outrora a plebe se sacrificava e se ajoelhava perante os senhores de castelo e pendão.
Olhando para o currículo dos ministros do atual governo vemos o domínio absoluto das duas faculdades de economia, perdão, "business schools", portuguesas com mais alta classificação na referida avaliação: as da Universidade Nova e da Universidade Católica de Lisboa. Lá estão com licenciaturas, mestrados e doutoramentos cá ou em ainda mais cotadas instituições no estrangeiro. Se mais não fosse preciso, a forma como este governo, tal como outros similares por essa Europa (e EUA), estão a destruir os países e os povos serve para compreender a validade do que lá se ensina.
"Uma sociedade baseada no saber", diziam socialistas e social-democratas já então convertidos ao neoliberalismo, tentando iludir com a "modernidade" o agudizar das contradições do capitalismo. Porém a sua modernidade, foi que licenciados que na década 90 entravam para empresas a ganhar de início 750 a 1 000 €, obtendo um contrato passados seis meses, recebem hoje 500€ ou menos, sem direitos, sujeitos à precariedade ou vegetando no desemprego. O governo assume o seu capitalismo dependente, a sua visão de sujeito neocolonizado e recomenda à juventude que emigre. É esta a sociedade baseada no saber que a política de direita tem para oferecer.
Enquanto há nas escolas cada vez mais crianças a passar fome, o que está a ser promovido desde o secundário é o elitismo no ensino, de que o ministro Crato é um dedicado sectário. Um elitismo baseado no dinheiro e não no saber e na formação integral do indivíduo. Um ensino de cariz utilitarista, acentuadamente neoliberal, promovendo os objetivos do sistema e a formação de acríticos tecnocratas totalmente desumanizados.
A teoria economia tornou-se uma apologética travestida de ciência, com laivos normativos do "tem de ser" que circunscrevem "inevitabilidades". Os seus padrões não são os da teoria do conhecimento científico, mas sim os dos interesses instituídos.
Falou-se de uma "nova economia" porém o que há é uma economia de desemprego e de empobrecimento. Foi-se rebuscar ao arsenal ideológico mais reacionário do século XIX os seus princípios para a promover e justificar a privatização dos espaços sociais. Domina quem dispõe de capital e na sua proporção, assegurando o quase monopólio das suas teses quer nas universidades quer na comunicação social.
Pretende-se independente, científica, não ideológica, visando exclusivamente as soluções ótimas e mais eficientes para a sociedade, não passa porém de pura ideologia e dogmatismo, alheio aos resultados e consequências da sua aplicação.
Nos seus critérios, os mercados livres são capazes de se autorregularem e a intervenção do Estado apenas iria impedir ou prejudicar esta regulação. O facto de milhões de milhões de euros ou dólares serem dados pelos Estados à custa da austeridade sobre os trabalhadores, para "resgatar" da falência entidades financeiras que no entanto seguiam os critérios de máxima utilidade e eficiência na aplicação dos capitais, tal como definido pelo neoliberalismo, não parece abalar a ortodoxia vigente.
Assim, grandezas como a taxa de juro e a cotação das ações, objetivamente ligadas à economia real, isto é, produtiva, passaram a estar dependentes do jogo especulativo, servindo como indicadores, absolutamente erróneos, do desempenho macroeconómico
É fácil verificar que a ética e os aspectos ambientais são desde logo ignorados. Tudo se baseia no interesse próprio que cada agente económico racionalmente procuraria. É a tese do "homo economicus", abrindo as portas à corrupção, à fraude e ao domínio do poder político pelo poder económico.
A propaganda do sistema apresenta-o como um ideal de liberdade e livre escolha, escondendo que esta depende do rendimento auferido e da segurança de existência de que se disponha, que simplesmente não existe perante salários de miséria, precariedade e desemprego.
Professor que defenda ideias contrárias é marginalizado; aluno que se exprima de maneira diferente é reprovado. Estamos no domínio da escolástica e do neofascismo.
O que a falsa independência da entidade avaliadora consagra não é qualidade de ensino nem capacidade científica, apenas a conformidade com os dogmas neoliberais.
No entanto, para além desta preconceituosa e fundamentalista avaliação o povo nas ruas das principais cidades em Portugal como no resto da Europa, também faz a sua avaliação. Esta é de repúdio e contestação ao totalitarismo neoliberal imposto através da mentira, da chantagem psicológica e do embuste das promessas eleitorais dos partidos da troika.
Comentários
Postar um comentário