O imperialismo ameaça o Congo

O imperialismo ameaça o Congo
por Carlos Lopes Pereira


Os países da África Austral decidiram enviar tropas para o Leste da República Democrática do Congo (RDC), visando estabilizar a região do Kivu, onde grupos armados têm levado a cabo acções militares. A força africana, designada Força Internacional Neutra (FIN), será comandada pela Tanzânia e constituída por soldados daquele país e da África do Sul.

A decisão foi tomada no sábado, 8, em Dar-es-Salam, pela cimeira extraordinária de chefes de Estado e de governo da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), convocada pelo seu presidente, Armando Guebuza, de Moçambique.

No Leste do Congo já se encontra uma força das Nações Unidas, a MONUSCO, mas a SADC considera que ela apenas garante actividades humanitárias, numa zona em que são reportadas diariamente «mortes, violações e pilhagens, entre outros crimes praticados por grupos armados». E pede à ONU que altere o mandato desta força, conferindo-lhe «poderes de reacção armada directa em caso de ataque».

A cimeira de Dar-es-Salam reafirmou «a indivisibilidade e o respeito da soberania e da integridade territorial» da RDC, manifestou profunda preocupação em relação à deterioração da situação de segurança e humanitária no Leste do país, e «condenou veementemente o grupo M23 e os seus ataques contra as populações civis, as forças de manutenção da paz da ONU e as agências humanitárias, entre outros males».

O presidente Guebuza afirmou no final da cimeira que «estamos abertos ao diálogo, mas não estamos dispostos a continuar a ver pessoas indefesas a serem mortas».

Guebuza revelou que a SADC vai trabalhar em conjunto com a Conferência Internacional dos Grandes Lagos (CIEPD), com a União Africana e a própria ONU em busca de apoios para o êxito da força militar africana.

Por seu turno, o presidente do CIEPD, Yoweri Museveni, do Uganda, considerou que os quase 20 mil efectivos destacados no Congo sob a bandeira da ONU estão a promover uma espécie de «turismo militar», já que mesmo com a sua presença a RDC continua a ser destabilizada.

No mesmo dia em que se realizou em Dar-es-Salam a cimeira da SADC, representantes do governo da RDC e do Movimento 23 de Março – o grupo «rebelde» responsável pelas acções de guerra no Kivu – reuniram-se em Kampala, capital ugandesa, para negociar a paz no Leste congolês.

Sobre a situação na RDC, a República de Angola, sua vizinha, tem posições claras, que ajudam a compreender melhor o que se passa num dos maiores e potencialmente mais ricos países africanos.

«A situação no Leste da RDC está a ser apresentada pelos agressores como sendo um ataque de “rebeldes”. Na verdade é uma invasão externa com fortes apoios nas potências ocidentais, as mesmas que deram força ao Uganda e Ruanda. Os grupos armados levam uma bandeira criada à pressa porque parecia mal içarem as bandeiras dos que apoiam a agressão», escreveu há dias o Jornal de Angola.

Num editorial intitulado «Depois do Sudão, o Congo», o diário acusou não só os governos ugandês e ruandês mas também «os países ocidentais que apoiam o regime de Paul Kagame» de pretender fazer «chegar a Kinshasa» os «rebeldes» e de ameaçarem a paz na região dos Grandes Lagos e até na África Austral.

«Na Líbia foi dada luz verde à OTAN para depor o presidente de um país soberano. Na República Democrática do Congo os grupos armados podem derrubar um governo legitimado pelo voto popular e não há problema nenhum. Pelos vistos só interessam os recursos mineiros do Kivu, que de resto andam a ser pilhados há décadas pelos países ocidentais que estão por trás da actual agressão», considera o JA.

O jornal denuncia que «o objectivo dos fabricantes de armas é provocar uma guerra nos Grandes Lagos que leve ao desmembramento da República Democrática do Congo». Acusa a ONU e a OTAN, ao fomentar uma nova guerra no Congo, de pretenderem «criar nos Grandes Lagos o exemplo que justifica futuros ataques à soberania de cada estado africano, até apagarem o mapa de África desenhado na Conferência de Berlim». E defende que «manter as fronteiras herdadas do colonialismo», ao contrário do que aconteceu recentemente com a divisão do Sudão, «é um compromisso de honra, inviolável e inegociável». As novas ameaças que pairam sobre a pátria de Patrice Lumumba evidenciam como o imperialismo continua a dividir para dominar. E a utilizar todos os meios, incluindo a guerra, para recolonizar a África – com a conivência de aliados indígenas – e prosseguir a exploração das suas riquezas e dos seus povos.
 
 
Fonte: Jornal Avante   www.avante.pt
 
 
 
 

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