A Síria não se ajoelhará

A Síria não se ajoelhará
A contribuição do Partido Comunista Sírio
"As forças antirregime usam amplamente táticas terroristas, de assassinato coletivo a assassinatos individuais, juntamente com ações de sabotagem económica. Muitas das cidades sírias testemunharam terríveis e brutais ações como bombardeamentos indiscriminados que afetaram centenas de cidadãos. De igual modo, as ações individuais de assassinatos continuaram e ampliaram-se. É difícil distinguir os métodos adotados pelos grupos armados do crime não político, perante o sequestro de cidadãos, pedidos de resgate pela sua libertação e métodos similares de bandidos."

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Partido Comunista Libanês por acolher o 14.º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários.

A nossa reunião realiza-se numa atmosfera de intenso conflito entre o imperialismo internacional e o movimento revolucionário internacional em todas as frentes. A evolução dos acontecimentos mais uma vez confirma a justeza da conclusão leninista sobre a correlação orgânica entre as questões de libertação nacional e as tarefas de libertação social; por outras palavras, sobre a necessidade de reforçar as ligações entre os partidos comunistas e operários e as fações do movimento de libertação nacional, esses dois componentes principais do processo revolucionário internacional na era do imperialismo.

Presentemente, o Partido Comunista Sírio considera que o desenvolvimentos do acontecimentos no mundo, incluindo os mais importantes traços que ocorrem na nossa região (região do Médio Oriente) são determinados pela escalada da intensa crise estrutural que o capitalismo contemporâneo, especialmente, os principais centros imperialistas estão a testemunhar. Esta crise estrutural aprofundou-se e intensificou-se em resultado do impacto da grave crise cíclica que o mundo sofreu em (2008-2009). Esta crise estrutural multifacetada, que sacode os pilares económicos capitalistas, incrementa o pior das contradições do capitalismo contemporâneo, sendo as mais importantes a contradição entre os monopólios imperialistas e os interesses dos trabalhadores, as contradições entre os Estados e os centros imperialistas e as contradições entre os centros imperialistas e os partidos estatais e os seus povos.


O movimento de massas anticapitalista em todo o mundo está a aumentar, como uma reação dos trabalhadores contra a política integrada seguida pelos monopólios capitalistas e os governos que os representam, independentemente do seu tipo, de conservadores a social-democratas, passando por formas intermédias;esta política transfere todas as consequências da crise para as massas. Está a realizar-se um processo de redução contínua das vitórias obtidas pelos trabalhadores ao longo da sua luta de décadas. 


O nosso partido saúda de forma fraterna os partidos comunistas que vão na vanguarda do movimento de revolta das massas, que seguem fortes posições de classe, baseadas na sinceridade do pensamento marxista-leninista, como o caso do valente Partido Comunista Grego. Como seria útil para a nossa causa comum se a posição de luta noutros países fosse semelhante a essa. 

É claro que a oligarquia financeira nos países da União Europeia está, muitas vezes, a tentar conter o movimento de revolta das massas usando a social-democracia – forma tradicional, que está mais perto do liberalismo –, ou a nova forma que vem das fileiras do movimento comunista com a reversão completa dos princípios e ideais. A ausência de uma alternativa revolucionária convincente leva, às vezes, ao surgimento de movimentos de revolta espontânea sem claras visões de futuro, ou ao crescente aparecimento de movimentos com caráter de esquerda ou extremistas de direita. A situação que o movimento de massas apresenta em muitos países do mundo confirma a justeza do argumento leninista de que a luta eficaz contra o imperialismo colabora com a luta constante contra o revisionismo e o oportunismo. 

A realidade atual da crise capitalista produz dois fatores contraditórios; por um lado, aumenta a agressividade dos centros imperialistas; entretanto, por outro lado, a base material para lançar grandes guerras agressivas está atualmente instável e a diminuir. Além dos custos das consequências para superar a crise económica, há impactos morais e físicos da derrota imperialista no Iraque e de repetidos fracassos no Afeganistão. No entanto, muitos conflitos assumem a forma de confronto armado ou vão converter-se em tal. Mas, em geral, os centros imperialistas, atualmente, preferem lutar pelas mãos de outros, pelos seus regimes e forças mercenárias. 

Os conflitos entre os centros imperialistas e as maiores potências, incluindo os chamados países emergentes, estão a aumentar, com o objetivo de controlar as regiões vitais do mundo. Isto é muito claro na África, através da divisão do Sudão, no conflito no Corno de África e nos acontecimentos que tiveram lugar em muitos países da África Ocidental: Mali, Nigéria, Guiné e outros. 

O conflito aberto ocorre para controlar a região que se estende desde o leste do Mediterrâneo até as proximidades do mar Cáspio – esta área é chamada, no dicionário imperialista, como Próximo e Médio Oriente. Nesta região, os interesses imperialistas europeus e americanos enfrentam os interesses russos e chineses. O sionismo internacional desempenha um papel vital para aumentar a tensão na região. O tom agressivo de Israel sionista cresce continuamente para com o Irão e o seu regime anti-imperialista. Atualmente, presenciamos uma nova etapa da escalada da agressividade israelita contra o povo palestiniano.

Muitos dos países árabes assistem a uma luta e a um confronto intensivo sobre o caminho a seguir por esses países, que testemunharam revoluções populares maciças contra regimes ditatoriais mercenários, como o do Egito e da Tunísia. É notório que as potências imperialistas, especialmente os EUA,
com a cooperação de regimes reacionários árabes, dependem fortemente das forças religiosas disfarçadas, a fim de conter o movimento revolucionário de massas e desviar o trajeto do país, de acordo com os interesses imperialistas norte-americanos, e de não preocupar o sionista Israel. É cada vez mais claro, com o desenrolar dos acontecimentos, que a principal tarefa das forças religiosas disfarçadas e reacionárias reside em fazer passar o apoio às políticas do imperialismo e em mobilizar as suas massas de militantes de base em torno desta política. 

A crescente loucura dos regimes reacionários árabes mostra-se na luta contra qualquer movimento anti-imperialista nacional. Uma das razões desta luta é o profundo medo da possibilidade de expansão da maré revolucionária, para varrer os bastiões do imperialismo no Golfo e na Península Arábica em geral. 

O papel sujo dos regimes reacionários árabes mostra-se claramente no seu apoio a todas as ações terroristas e de sabotagem na Síria e na sua contínua busca para atingir as instalações da resistência nacional libanesa e do seu poder de ataque, o Hezbollah, e nas suas diversas frentes para prosseguir o objetivo de conter e domar a resistência palestiniana com as suas principais componentes. Note-se que a Turquia, essa força marcante na região atlântica, tem uma longa tradição em todas estas operações sujas contra os movimentos de libertação e o regime nacional sírio.


Queridos camaradas


Na conspiração contra a Síria, que visa derrubar o seu projeto antissionista de dominação imperialista, as potências imperialistas e os seus leais regimes reacionários utilizam todos os métodos a fim de atingir esse objetivo estratégico e vital; sem alcançar essa meta é impossível alcançar o projeto «novo grande Médio Oriente», isto é, o projeto «grande sionismo» para a escravidão de todas as pessoas na região, através do controle total pelo sionismo e o imperialismo de todos os países do Mediterrâneo Oriental até ao mar Cáspio. 

Os círculos imperialistas e reacionários árabes de informações secretas, especialmente o Qatar e a Arábia Saudita, financiam a sabotagem e as ações terroristas desencadeadas por grupos armados em toda a Síria. Além dos países árabes reacionários, a Turquia, que é a principal base da NATO na região, apoia as fações reacionárias, especialmente as religiosas disfarçadas, em todas as suas ações contra a Síria. Os círculos de informações secretas, com a participação do sionismo, também realizaram uma campanha de propaganda feroz contra a Síria. E também exerceram diferentes pressões diplomáticas, com a participação de muitos partidos, contra a Síria.

Nos últimos tempos, os confrontos violentos entre as forças rebeldes armadas e os dispositivos da autoridade têm aumentado e expandiram-se geograficamente em várias províncias da Síria, incluindo os subúrbios da capital, Damasco, e os bairros de Aleppo, a segunda cidade Síria e o maior centro económico do país. As forças antirregime usam amplamente táticas terroristas, de assassinato coletivo a assassinatos individuais, juntamente com ações de sabotagem económica. Muitas das cidades sírias testemunharam terríveis e brutais ações como bombardeamentos indiscriminados que afetaram centenas de cidadãos. De igual modo,
as ações individuais de assassinatos continuaram e ampliaram-se. É difícil distinguir os métodos adotados pelos grupos armados do crime não político, perante o sequestro de cidadãos, pedidos de resgate pela sua libertação e métodos similares de bandidos.
 
Com o desenvolvimento da crise síria, torna-se claro o que o Partido Comunista referiu logo no início desta crise: o facto da força impressionante das forças antirregime ser composta por grupos disfarçados e reacionários, e organizações que buscam inflamar conflitos sectários de várias maneiras, incluindo atos de violência coletiva e assassinatos seletivos. Aqueles que olham para a terra natal através dos seus interesses de classe veem o imperialismo internacional e regimes reacionários árabes como seus apoiantes, contra o regime nacional e as forças progressistas. Estão prontos para tudo, até mesmo à «cooperação com o diabo», a fim de alcançar os seus objetivos obscurantistas.


Queridos camaradas


A posição do Partido Comunista Sírio é clara e está na defesa da pátria e a fazer frente aos projetos imperialistas. O nosso partido apoiou as reformas que têm carácter democrático e as mais importantes, de acordo com o nosso partido, são: o levantamento da lei marcial de estado, a alteração à lei de imprensa e de publicações, o que se tornou sobretudo conveniente para o exercício de opinião e da liberdade de expressão, assim como a devolução da nacionalidade síria aos cidadãos curdos a quem tinha sido negada, como resultado de medidas opressivas das autoridades reacionárias, em 1962. Também se nota aqui que a maioria dos curdos na Síria tinham os direitos de cidadania. As massas curdas na Síria têm, em geral, uma posição clara contra as forças reacionárias associados ao imperialismo, que devastam a Síria com sabotagens e assassinatos.

Note-se que muitas medidas tomadas no sentido da expansão das liberdades democráticas estão perto das orientações programadas pelo nosso partido neste campo, e o que bloqueia a sua plena implementação são as ações das forças reacionárias, que são estranhas ao conceito democrático e têm uma forte ligação com regimes ditatoriais, não só no conteúdo, mas também na forma, como a Arábia Saudita e o Qatar. 

O nosso partido luta de forma constante por uma rutura completa com a abordagem económica liberal que prevaleceu no país nos últimos anos. Enfatizamos a necessidade de rever todas as leis que têm abordagens económicas liberais tomadas nesse período e que levaram a aumentar a polarização na sociedade, ao empobrecimento das massas populares, à marginalização de um grande número de produtores e desestabilizaram os pilares produtivos da economia nacional, o que levou à criação do ambiente adequado à conspiração e sabotagem por parte das forças reacionárias extremistas. Uma das principais manifestações da atual crise na Síria é a contradição entre a abordagem nacional antissionista, que resiste aos projetos imperialistas, e a política económica liberal que está em contradição com esta abordagem de combate e mina os seus pilares e fundações sociais e económicos. 

Os comunistas sírios consideram que o seu apoio à estabilidade nacional da Síria é um dever internacional, nacional e de classe. A estabilidade da Síria e a sua resistência ao feroz ataque imperialista reforçará as posições do movimento revolucionário internacional.
 
O Partido Comunista Sírio confirma que a estabilidade é, não só um dever, mas uma possibilidade. 
 
Desta importante tribuna, gostaria de agradecer aos partidos comunistas irmãos a sua solidariedade com a luta justa da minha terra natal, a Síria.

O slogan do Partido Comunista Sírio tem sido: «A Síria não se ajoelhará». 

Obrigado pela vossa atenção.


Secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista Sírio
Ammar bagdache


 

Fonte: Pelo Socialismo em www.pelosocialismo.net
 
 
 

 




















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