A Anistia Internacional e a agressão contra a Síria
Bandido fundamentalista islâmico matando na Síria |
A Anistia Internacional e a agressão contra a Síria
por Mikel Itulain*
"A Amnistia Internacional é conhecida pelos dois pesos e duas medidas que costuma aplicar de cada vez que se pronuncia e intervém sobre a paz e os direitos humanos. O papel que vem desempenhando em relação à actual escalada imperialista no Médio Oriente, nomeadamente na agressão contra a Líbia e na ofensiva contra a Síria é um exemplo particularmente chocante dessa duplicidade."
O grande desafio para todas as associações humanitárias catalogadas sob a denominação de ONG’s — quer dizer Organizações Não Governamentais — é o de conseguir uma autonomia económica e financeira que as blinde de modo a garantir uma independência objectiva e soberana no momento em que tenham de posicionar-se como mediador ou entidade auxiliadora num conflito social, numa guerra, numa catástrofe natural. Mas em geral nenhuma conta com essa independência ou autonomia financeira. As ONG’s são hoje em dia grandes estruturas, com centenas de empregados, instalações, e tudo isso tem um preço — apesar dos que trabalham voluntariamente — e só podem existir graças à indispensável ajuda financeira de certos poderes estatais ou empresariais que compreenderam a grande utilidade que pode ter controlar ou dirigir de certa maneira estes instrumentos humanitários, muitas vezes instrumentalizados.
A Amnistia Internacional, na sua página web, na secção Actua, em Abril de 2012, pedia a colaboração dos cidadãos e informava já ter recolhido 11.962 assinaturas para supostamente pedir o fim da repressão na Síria. Encabeçava com o título: «Por que se cala o mundo perante a situação na Síria?», mencionando no texto que estavam a fazer pressão, e pedindo ajuda para fazê-la, junto de governos como: Brasil, India ou África do Sul, com o objectivo de que «demonstrem a sua liderança apoiando uma resolução firme e juridicamente vinculante que ajude a parar o banho de sangue na Síria».
A Amnistia Internacional, na sua página web, na secção Actua, em Abril de 2012, pedia a colaboração dos cidadãos e informava já ter recolhido 11.962 assinaturas para supostamente pedir o fim da repressão na Síria. Encabeçava com o título: «Por que se cala o mundo perante a situação na Síria?», mencionando no texto que estavam a fazer pressão, e pedindo ajuda para fazê-la, junto de governos como: Brasil, India ou África do Sul, com o objectivo de que «demonstrem a sua liderança apoiando uma resolução firme e juridicamente vinculante que ajude a parar o banho de sangue na Síria».
A que tipo de resolução se refere a Amnistia Internacional? A uma como a 1973 aplicada à Líbia? À suposta Responsabilidade para Proteger que conduziu à destruição do país líbio e à chegada dos fundamentalistas islâmicos juntamente com a milhares de assassínios e violações? A outro bombardeamento criminoso da OTAN matando milhares de civis?
Estas coisas preocupam. Ainda que a Amnistia Internacional (AI) possa dizer que não aprovava isto tudo, a verdade é que aprovou a actuação das Nações Unidas na Líbia e fê-lo apoiando-se em dados falsos, como vimos no capítulo sobre os meios de comunicação. Kadhafi não bombardeou nem atacou a população civil, não havia motivos para nenhuma intervenção militar. E a AI não deve esquecer que essa Responsabilidade para Proteger elaborada em 2005 não está na Carta das Nações Unidas, porque é um pretexto que pode servir, como valeu na Líbia, para arruinar a um país e condená-lo à repressão e morte realmente exercidas pelos islamitas e à exploração colonial exterior.
Seguindo com esse comunicado vemos que culpabiliza as forças de segurança sírias pelas mortes de civis e que nada diz dos extremistas islâmicos que têm entrado no país que, como a AI bem deve saber, estão alargando o terror e causando estragos na população civil.
Nada diz igualmente sobre que o facto de já em finais do ano 2011, mais de 2.000 mortos pertencerem às próprias forças de segurança sírias, algo que deveria chamar a atenção. Se houvesse 2.000 soldados israelitas mortos numa luta com os palestinos, ¿que sucederia? o que não se justificaria para aprovar as acções militares de Israel?, o melhor, creio, será nem sequer fazer a pergunta, porque com apenas dois ou três soldados israelitas mortos se justificam bombardeamentos que matam milhares de civis.
No que diz respeito às mortes de civis, de acordo com investigações levadas a cabo com rigor, os seus principais responsáveis são as organizações islamitas financiadas a partir do exterior, e isto não é mencionado no relatório da AI. Outra cosa que chama a atenção é que não cita as fontes onde obtiveram essa informação e isso é necessário. A Amnistia Internacional, como comentámos, divulgou informações que não eram fundamentadas, como o caso da mulher, Zeinab al-Hosni, que supostamente havia sido: «decapitada, mutilada e desmembrada numa prisão Síria», mas que afinal apareceu viva e de boa saúde.
Que pretende com isto a Amnistia Internacional? culpabilizar por tudo o governo sírio e calar-se perante outras atrocidades - inclusivamente maiores - cometidas pelos fundamentalistas e por quem os apoia? Do mesmo modo e até agora a Amnistia não fundamentou com provas os crimes relativos a civis atribuídos ao governo.
Por que se cala o mundo? ou por que se cala a Amnistia perante certas coisas? Querem criar um clima favorável a uma guerra? Desde logo aquilo que apresenta não corresponde nem de longe àquilo que se esperaria de uma organização equânime e que realmente procura proteger os direitos humanos e a paz.
A AI já havia mostrado a sua parcialidade, falta de rigor e de ética informativa e humanitária em 25 de Outubro de 2011 no seu relatório: “Crise Sanitária”, sobre os hospitais na Síria, no qual referia coisas como que cidadãos feridos nos protestos «tinham sido agredidos fisicamente nos hospitais do governo pela equipa médica, e em alguns casos lhes tinham sido negados os cuidados médicos, enquanto outros que tinham sido levados para o hospital foram detidos ou tinham simplesmente desaparecido». Estas «informações» foram claramente criticadas pelo professor Franklin Lamb, que para além do mais era membro da Amnistia, porque não eram sustentadas em fontes fiáveis e verificadas, mas em fontes como Al Jazeera, nas mãos da ditadura do Qatar, cujo papel e ingerência descarada na questão Síria é obvio dada a sua inimizade face ao governo deste país. Mas o que é mais importante e grave é que novamente se voltava a acusar sem provas, segundo indica Lamb. Além disso este professor tinha estado recentemente visitando vários hospitais sírios e comentou com eles o que havia dito a AI, que na verdade não tinha contactado com nenhuma equipa médica e informava que se baseava num testemunho anónimo. O pessoal sanitário qualificou as afirmações da AI como uma «difamação gratuita da comunidade médica síria». Franklin Lamb disponibiliza os nomes dos médicos e os locais onde esteve, assim como o contacto por telefone ou por e.mail para falar inclusivamente com os pacientes. Termina o seu artigo referindo:
O facto de que a AI pareça ter sido algo preguiçosa no seu trabalho e continue a dar ampla publicidade à sua profundamente errónea «investigação» é de bradar aos céus.
Para além do mais falhou no cumprimento daquele padrão de trabalho de investigação que todos aqueles que continuamos a apoiar o seu trabalho pelos direitos humanos esperamos.
A AI, em outra das suas campanhas que visam centrar a ira das pessoas em algum indivíduo demonizado, acusava o governo sírio de cometer crimes contra a humanidade e de ter morto centenas de mulheres, para além de o responsabilizar por 6.000 mortos, mais uma vez todos por acção do governo, sem apresentar provas, nem mencionar os terroristas islâmicos.
Nesta campanha, para além disso, pedia que se enviassem cartas à mulher de Assad a fim de que esta interviesse e parasse esse suposto massacre de mulheres que o seu marido levava a cabo. É desnecessário dizer que essa mesma carta e essa mesma campanha podia tê-la feito enviando-a a Hillary Clinton, responsável directa pelo brutal ataque da OTAN e dos islamitas contra a Líbia, que matou milhares de civis, entre os quais muitas mulheres e crianças, e que levou a que muitas mulheres líbias tenham sido e sejam objecto de violação, humilhação e discriminação pelos fanáticos que controlam agora o país.
A Amnistia Internacional não enviou, como era de esperar, nenhuma carta à Sra. Clinton, o que demonstra a sua hipocrisia e falsidade, porque neste caso dispunha efectivamente de provas contundentes, com factos reais e crimes reais, mas aqui não actuou. Se acrescentarmos que como Directora Executiva da AI nos EUA EE.UU. está Suzanne Nossel, assistente de Hillary Clinton e ex assistente de Richard Holbrooke, igualmente famoso também pelas suas falsidades na guerra na Jugoslávia, então tudo se compreende. E também a função e o papel da Amnistia.
Sobre a Sra. Nossel a Rede Voltaire comenta o seguinte:
O conselho de administração da Amnesty International USA considerou que o trabalho de Suzanne Nossel nas administrações dos presidentes Bill Clinton e Barack Obama constitui uma garantia da sua competência, obviando todavia os crimes que ambas administrações cometeram na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbano, entre outros países. A senhora Nossel desencadeou diversas campanhas contra o Irão, a Líbia e a Síria. Nos últimos meses destacou-se na campanha de mentiras destinada a intoxicar o Conselho de Direitos Humanos, com sede em Genebra, para conseguir que o Conselho de Segurança da ONU viesse a adoptar uma resolução que autorizasse a guerra contra a Líbia. Finalmente as acusações da senhora Nossel foram desmentidas.
Sem ir mais longe, a própria Nossel, à cabeça da Amnistia Internacional USA, convidou Madeleine Albright e outros funcionários do Departamento de Estado para falar no seu fórum de mulheres da OTAN; e não se tratava da primeira vez que a AI aparecia na companhia da secretaria de Estado responsável por dizer que as sanções que provocaram a morte no Iraque de possivelmente mais de um milhão de civis, crianças na sua maioria, em resultado das sanções económicas, valiam a pena, que era um preço que valia a pena pagar.
Não deveria a Amnistia ter levado a Albright e outros como Bush, Chenney ou Blair perante uma Corte Penal Internacional? Não, não os levaram, não o consideraram oportuno, mas em contrapartida atiraram-se aos inimigos oficiais da administração estado-unidense, fossem ou não culpados de delitos contra os direitos humanos.
Nossel, pouco depois de se converter em Directora executiva, em Janeiro de 2012, moderou uma mesa redonda no Wellesley College, compartilhando a mesa com Albright. Logo ali, nessa mesma mesa, incitou da seguinte forma não à paz e ao diálogo, mas à agressão militar, tal como foi feito na Líbia, falsificando claramente os factos e acontecimentos na Síria:
«Agora como dirigente da Amnistia Internacional-USA, um ponto de grande frustração e consternação para as organizações de direitos humanos e as organizações da sociedade civil durante os últimos oito ou nove meses foi o fracasso do Conselho de Segurança de la ONU em abordar, de algum modo, as mortes agora de 5.000 civis na Síria por parte do presidente Assad e do seu exército.»
De que fonte? a partir de que relatório ou relatórios pode a Amnistia dizer com rigor que o governo é responsável pela morte de 5.000 civis? É necessário que recordemos o que dizem os relatórios realizados por investigadores, que em cada caso estudado com certo rigor têm atribuído as mortes deliberadas de civis fundamentalmente e principalmente aos fundamentalistas islâmicos, que na sua grande maioria provêem do estrangeiro?
Parece que a Amnistia, à conta de repetir incessantemente a mesma coisa, como fazem os meios de comunicação das corporações, quer convertê-la em evidencia; os factos, todavia, são diferentes. A factura de toda esta falsidade e do jogo pouco limpo desta organização supostamente humanitária há-de ser-lhe cobrada no futuro, porque não poderá dizer que estava interessada em resolver um conflito, em apostar na paz e nos direitos humanos, mas apenas que o que realmente está a fazer é servir o jogo dos interesses do poder, os interesses das corporações. A tal ponto é assim que a própria Nossel, nesse discurso, se abalançava a afirmar, numa linguagem bélica e impiedosa, aquilo que nem Albright nem o próprio Obama se atreveriam por pudor a dizer em público:
Na primavera passada o Conselho de Segurança conseguiu formar uma maioria para uma acção enérgica na Líbia e isso foi ao princípio muito controvertido, [causando] muitos receios entre os membros do Conselho de Segurança. Mas Kadhafi caiu, houve ali uma transição e creio que poderíamos ter pensado que esses receios se teriam apagado. Como explicar isto e qual crêem que será o ingrediente que falta para romper com esta retracção e conseguir que o Conselho de Segurança esteja à altura das suas responsabilidades na Síria?
Coolen Rowley, o analista que comenta este discurso, refere como até a experimentada Albright estava visivelmente surpreendida por essa atitude tão directa da directora da Amnistia Internacional e como ela e outros se mostravam cépticos acerca do que poderia conseguir-se com um ataque por meio de bombardeamentos como foi feito na Líbia.
Isto é triste, que até os mais experimentados responsáveis por guerras se mostrem mais prudentes e cuidadosos sobre o tema da guerra do que uma suposta organização humanitária. Diz muito sobre a Amnistia e diz muito mal. Os milhares de civis mortos pelo bombardeamento da OTAN e pelos fundamentalistas islâmicos que invadiram o país convertendo-o numa ruina social e económica parecem não significar grande coisa para esta organização; chamando a isto acção enérgica e esquecendo-se das suas desastrosas consequências para os direitos humanos e as vidas de muitas pessoas.
Tony Cartalucci, o perito analista político estado-unidense, recorda que a Amnistia Internacional recebe financiamento do Open Society Institute de George Soros, para além do Departamento para o Desenvolvimento Internacional da Grã Bretanha e da União Europeia. Demasiados interesses e demasiados vínculos ao mundo do poder e das corporações para que se possa esperar justiça e equanimidade nas suas actuações. E de facto o seu comportamento, como estamos vendo, revela-o claramente.
No caso sírio prosseguiu com sua campanha e as suas acusações também, como não podia deixar de ser, contra a Rússia: “Rússia: não mais desculpas, toma posição contra o banho de sangue na Síria”, clamava a organização. Quando o que a Rússia fez na realidade foi pedir um diálogo para solucionar os problemas e, ao contrário de outros países e instituições, denunciou também a violência dos grupos islamitas armados. Mas não quer cair no erro e na loucura que representou a anterior actuação das Nações Unidas na Líbia, que permitiu o criminoso e implacável bombardeamento da OTAN.
A Amnistia tenta perversamente tergiversar à volta da violência e do mal-estar claramente fomentado pelo ocidente no interior da Síria como se estes fossem de alguma forma o resultado da recusa da Rússia em capitular perante outra intervenção da OTAN.
Uma intervenção, deve ser dito, que seguramente irá criar uma grande ampliação da violência, divisões étnicas e derramamentos de sangue por toda a Síria, para além do saque pelas corporações ocidentais desejosas de ocupar o vazio quando o poder nacionalista sírio seja violentamente eliminado como o foi na Líbia.
A Amnistia não fala do financiamento e apoio exterior aos fundamentalistas que têm entrado na Síria, alguns dos quais procedentes da Líbia. Nem fala também da participação dos serviços de inteligência estado-unidenses, britânicos ou inclusivamente israelitas no processo de desestabilização da Síria.
A resposta à duplicidade e hipocrisia da Amnistia Internacional quando interroga: «¿quantas vítimas mais devem sofrer antes que a Rússia assuma uma postura decisiva contra os crimes contra a humanidade na Síria?», pode ser uma pregunta ainda mais contundente:
Quantas vítimas mais devem sofrer antes que o mundo assuma uma postura decisiva contra Wall Street e Londres na sua matança global que se estende da Líbia à Síria, ao Irão, a toda a extensão do Iraque e às montanhas e aldeias do Afeganistão?
Dá-me a impressão de que a AI não vai fazer campanha contra esta barbárie muito maior e cujos responsáveis estão bem à vista.
A AI defende os direitos humanos ou defende o quê? Atacar o fraco e fazer reverencias e favores ao poderoso não é próprio de uma organização humanitária, mas antes da vassalagem, inclusivamente com implicações criminais.
Estas coisas preocupam. Ainda que a Amnistia Internacional (AI) possa dizer que não aprovava isto tudo, a verdade é que aprovou a actuação das Nações Unidas na Líbia e fê-lo apoiando-se em dados falsos, como vimos no capítulo sobre os meios de comunicação. Kadhafi não bombardeou nem atacou a população civil, não havia motivos para nenhuma intervenção militar. E a AI não deve esquecer que essa Responsabilidade para Proteger elaborada em 2005 não está na Carta das Nações Unidas, porque é um pretexto que pode servir, como valeu na Líbia, para arruinar a um país e condená-lo à repressão e morte realmente exercidas pelos islamitas e à exploração colonial exterior.
Seguindo com esse comunicado vemos que culpabiliza as forças de segurança sírias pelas mortes de civis e que nada diz dos extremistas islâmicos que têm entrado no país que, como a AI bem deve saber, estão alargando o terror e causando estragos na população civil.
Nada diz igualmente sobre que o facto de já em finais do ano 2011, mais de 2.000 mortos pertencerem às próprias forças de segurança sírias, algo que deveria chamar a atenção. Se houvesse 2.000 soldados israelitas mortos numa luta com os palestinos, ¿que sucederia? o que não se justificaria para aprovar as acções militares de Israel?, o melhor, creio, será nem sequer fazer a pergunta, porque com apenas dois ou três soldados israelitas mortos se justificam bombardeamentos que matam milhares de civis.
No que diz respeito às mortes de civis, de acordo com investigações levadas a cabo com rigor, os seus principais responsáveis são as organizações islamitas financiadas a partir do exterior, e isto não é mencionado no relatório da AI. Outra cosa que chama a atenção é que não cita as fontes onde obtiveram essa informação e isso é necessário. A Amnistia Internacional, como comentámos, divulgou informações que não eram fundamentadas, como o caso da mulher, Zeinab al-Hosni, que supostamente havia sido: «decapitada, mutilada e desmembrada numa prisão Síria», mas que afinal apareceu viva e de boa saúde.
Que pretende com isto a Amnistia Internacional? culpabilizar por tudo o governo sírio e calar-se perante outras atrocidades - inclusivamente maiores - cometidas pelos fundamentalistas e por quem os apoia? Do mesmo modo e até agora a Amnistia não fundamentou com provas os crimes relativos a civis atribuídos ao governo.
Por que se cala o mundo? ou por que se cala a Amnistia perante certas coisas? Querem criar um clima favorável a uma guerra? Desde logo aquilo que apresenta não corresponde nem de longe àquilo que se esperaria de uma organização equânime e que realmente procura proteger os direitos humanos e a paz.
A AI já havia mostrado a sua parcialidade, falta de rigor e de ética informativa e humanitária em 25 de Outubro de 2011 no seu relatório: “Crise Sanitária”, sobre os hospitais na Síria, no qual referia coisas como que cidadãos feridos nos protestos «tinham sido agredidos fisicamente nos hospitais do governo pela equipa médica, e em alguns casos lhes tinham sido negados os cuidados médicos, enquanto outros que tinham sido levados para o hospital foram detidos ou tinham simplesmente desaparecido». Estas «informações» foram claramente criticadas pelo professor Franklin Lamb, que para além do mais era membro da Amnistia, porque não eram sustentadas em fontes fiáveis e verificadas, mas em fontes como Al Jazeera, nas mãos da ditadura do Qatar, cujo papel e ingerência descarada na questão Síria é obvio dada a sua inimizade face ao governo deste país. Mas o que é mais importante e grave é que novamente se voltava a acusar sem provas, segundo indica Lamb. Além disso este professor tinha estado recentemente visitando vários hospitais sírios e comentou com eles o que havia dito a AI, que na verdade não tinha contactado com nenhuma equipa médica e informava que se baseava num testemunho anónimo. O pessoal sanitário qualificou as afirmações da AI como uma «difamação gratuita da comunidade médica síria». Franklin Lamb disponibiliza os nomes dos médicos e os locais onde esteve, assim como o contacto por telefone ou por e.mail para falar inclusivamente com os pacientes. Termina o seu artigo referindo:
O facto de que a AI pareça ter sido algo preguiçosa no seu trabalho e continue a dar ampla publicidade à sua profundamente errónea «investigação» é de bradar aos céus.
Para além do mais falhou no cumprimento daquele padrão de trabalho de investigação que todos aqueles que continuamos a apoiar o seu trabalho pelos direitos humanos esperamos.
A AI, em outra das suas campanhas que visam centrar a ira das pessoas em algum indivíduo demonizado, acusava o governo sírio de cometer crimes contra a humanidade e de ter morto centenas de mulheres, para além de o responsabilizar por 6.000 mortos, mais uma vez todos por acção do governo, sem apresentar provas, nem mencionar os terroristas islâmicos.
Nesta campanha, para além disso, pedia que se enviassem cartas à mulher de Assad a fim de que esta interviesse e parasse esse suposto massacre de mulheres que o seu marido levava a cabo. É desnecessário dizer que essa mesma carta e essa mesma campanha podia tê-la feito enviando-a a Hillary Clinton, responsável directa pelo brutal ataque da OTAN e dos islamitas contra a Líbia, que matou milhares de civis, entre os quais muitas mulheres e crianças, e que levou a que muitas mulheres líbias tenham sido e sejam objecto de violação, humilhação e discriminação pelos fanáticos que controlam agora o país.
A Amnistia Internacional não enviou, como era de esperar, nenhuma carta à Sra. Clinton, o que demonstra a sua hipocrisia e falsidade, porque neste caso dispunha efectivamente de provas contundentes, com factos reais e crimes reais, mas aqui não actuou. Se acrescentarmos que como Directora Executiva da AI nos EUA EE.UU. está Suzanne Nossel, assistente de Hillary Clinton e ex assistente de Richard Holbrooke, igualmente famoso também pelas suas falsidades na guerra na Jugoslávia, então tudo se compreende. E também a função e o papel da Amnistia.
Sobre a Sra. Nossel a Rede Voltaire comenta o seguinte:
O conselho de administração da Amnesty International USA considerou que o trabalho de Suzanne Nossel nas administrações dos presidentes Bill Clinton e Barack Obama constitui uma garantia da sua competência, obviando todavia os crimes que ambas administrações cometeram na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbano, entre outros países. A senhora Nossel desencadeou diversas campanhas contra o Irão, a Líbia e a Síria. Nos últimos meses destacou-se na campanha de mentiras destinada a intoxicar o Conselho de Direitos Humanos, com sede em Genebra, para conseguir que o Conselho de Segurança da ONU viesse a adoptar uma resolução que autorizasse a guerra contra a Líbia. Finalmente as acusações da senhora Nossel foram desmentidas.
Sem ir mais longe, a própria Nossel, à cabeça da Amnistia Internacional USA, convidou Madeleine Albright e outros funcionários do Departamento de Estado para falar no seu fórum de mulheres da OTAN; e não se tratava da primeira vez que a AI aparecia na companhia da secretaria de Estado responsável por dizer que as sanções que provocaram a morte no Iraque de possivelmente mais de um milhão de civis, crianças na sua maioria, em resultado das sanções económicas, valiam a pena, que era um preço que valia a pena pagar.
Não deveria a Amnistia ter levado a Albright e outros como Bush, Chenney ou Blair perante uma Corte Penal Internacional? Não, não os levaram, não o consideraram oportuno, mas em contrapartida atiraram-se aos inimigos oficiais da administração estado-unidense, fossem ou não culpados de delitos contra os direitos humanos.
Nossel, pouco depois de se converter em Directora executiva, em Janeiro de 2012, moderou uma mesa redonda no Wellesley College, compartilhando a mesa com Albright. Logo ali, nessa mesma mesa, incitou da seguinte forma não à paz e ao diálogo, mas à agressão militar, tal como foi feito na Líbia, falsificando claramente os factos e acontecimentos na Síria:
«Agora como dirigente da Amnistia Internacional-USA, um ponto de grande frustração e consternação para as organizações de direitos humanos e as organizações da sociedade civil durante os últimos oito ou nove meses foi o fracasso do Conselho de Segurança de la ONU em abordar, de algum modo, as mortes agora de 5.000 civis na Síria por parte do presidente Assad e do seu exército.»
De que fonte? a partir de que relatório ou relatórios pode a Amnistia dizer com rigor que o governo é responsável pela morte de 5.000 civis? É necessário que recordemos o que dizem os relatórios realizados por investigadores, que em cada caso estudado com certo rigor têm atribuído as mortes deliberadas de civis fundamentalmente e principalmente aos fundamentalistas islâmicos, que na sua grande maioria provêem do estrangeiro?
Parece que a Amnistia, à conta de repetir incessantemente a mesma coisa, como fazem os meios de comunicação das corporações, quer convertê-la em evidencia; os factos, todavia, são diferentes. A factura de toda esta falsidade e do jogo pouco limpo desta organização supostamente humanitária há-de ser-lhe cobrada no futuro, porque não poderá dizer que estava interessada em resolver um conflito, em apostar na paz e nos direitos humanos, mas apenas que o que realmente está a fazer é servir o jogo dos interesses do poder, os interesses das corporações. A tal ponto é assim que a própria Nossel, nesse discurso, se abalançava a afirmar, numa linguagem bélica e impiedosa, aquilo que nem Albright nem o próprio Obama se atreveriam por pudor a dizer em público:
Na primavera passada o Conselho de Segurança conseguiu formar uma maioria para uma acção enérgica na Líbia e isso foi ao princípio muito controvertido, [causando] muitos receios entre os membros do Conselho de Segurança. Mas Kadhafi caiu, houve ali uma transição e creio que poderíamos ter pensado que esses receios se teriam apagado. Como explicar isto e qual crêem que será o ingrediente que falta para romper com esta retracção e conseguir que o Conselho de Segurança esteja à altura das suas responsabilidades na Síria?
Coolen Rowley, o analista que comenta este discurso, refere como até a experimentada Albright estava visivelmente surpreendida por essa atitude tão directa da directora da Amnistia Internacional e como ela e outros se mostravam cépticos acerca do que poderia conseguir-se com um ataque por meio de bombardeamentos como foi feito na Líbia.
Isto é triste, que até os mais experimentados responsáveis por guerras se mostrem mais prudentes e cuidadosos sobre o tema da guerra do que uma suposta organização humanitária. Diz muito sobre a Amnistia e diz muito mal. Os milhares de civis mortos pelo bombardeamento da OTAN e pelos fundamentalistas islâmicos que invadiram o país convertendo-o numa ruina social e económica parecem não significar grande coisa para esta organização; chamando a isto acção enérgica e esquecendo-se das suas desastrosas consequências para os direitos humanos e as vidas de muitas pessoas.
Tony Cartalucci, o perito analista político estado-unidense, recorda que a Amnistia Internacional recebe financiamento do Open Society Institute de George Soros, para além do Departamento para o Desenvolvimento Internacional da Grã Bretanha e da União Europeia. Demasiados interesses e demasiados vínculos ao mundo do poder e das corporações para que se possa esperar justiça e equanimidade nas suas actuações. E de facto o seu comportamento, como estamos vendo, revela-o claramente.
No caso sírio prosseguiu com sua campanha e as suas acusações também, como não podia deixar de ser, contra a Rússia: “Rússia: não mais desculpas, toma posição contra o banho de sangue na Síria”, clamava a organização. Quando o que a Rússia fez na realidade foi pedir um diálogo para solucionar os problemas e, ao contrário de outros países e instituições, denunciou também a violência dos grupos islamitas armados. Mas não quer cair no erro e na loucura que representou a anterior actuação das Nações Unidas na Líbia, que permitiu o criminoso e implacável bombardeamento da OTAN.
A Amnistia tenta perversamente tergiversar à volta da violência e do mal-estar claramente fomentado pelo ocidente no interior da Síria como se estes fossem de alguma forma o resultado da recusa da Rússia em capitular perante outra intervenção da OTAN.
Uma intervenção, deve ser dito, que seguramente irá criar uma grande ampliação da violência, divisões étnicas e derramamentos de sangue por toda a Síria, para além do saque pelas corporações ocidentais desejosas de ocupar o vazio quando o poder nacionalista sírio seja violentamente eliminado como o foi na Líbia.
A Amnistia não fala do financiamento e apoio exterior aos fundamentalistas que têm entrado na Síria, alguns dos quais procedentes da Líbia. Nem fala também da participação dos serviços de inteligência estado-unidenses, britânicos ou inclusivamente israelitas no processo de desestabilização da Síria.
A resposta à duplicidade e hipocrisia da Amnistia Internacional quando interroga: «¿quantas vítimas mais devem sofrer antes que a Rússia assuma uma postura decisiva contra os crimes contra a humanidade na Síria?», pode ser uma pregunta ainda mais contundente:
Quantas vítimas mais devem sofrer antes que o mundo assuma uma postura decisiva contra Wall Street e Londres na sua matança global que se estende da Líbia à Síria, ao Irão, a toda a extensão do Iraque e às montanhas e aldeias do Afeganistão?
Dá-me a impressão de que a AI não vai fazer campanha contra esta barbárie muito maior e cujos responsáveis estão bem à vista.
A AI defende os direitos humanos ou defende o quê? Atacar o fraco e fazer reverencias e favores ao poderoso não é próprio de uma organização humanitária, mas antes da vassalagem, inclusivamente com implicações criminais.
FONTE: Mikel Itulain / Rede Voltaire http://miguel-esposiblelapaz.blogspot
Fonte: O Diário em www.odiario.info
Mafarrico Vermelho
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