Tambores de guerra na Síria?
Tambores de guerra na Síria?
por Pedro Campos
Ron Paul, congressista republicano, duas vezes candidato à presidência dos Estados Unidos, médico de profissão, cirurgião da força aérea durante a guerra de Vietname e autor de vários livros, considerado padrinho espiritual do conservador Tea Party e que frequentemente choca com as posições dos seus colegas de partido e também com as dos democratas, acaba de publicar, em Information Clearing House [i], um polémico artigo sobre a Síria, no qual avança com várias verdade «incómodas», que começam com o título desta nota.
Sobre um dos massacres mais recentes (o artigo é de 5 de Junho) registado de forma manipulada pelos media, Ron Paul comenta que, «tal como seria de esperar numa administração (a do seu país) com uma política declarada de ‘mudança de regime’ na Síria, a reacção foi atirar as culpas só para cima do governo da Síria», expulsar o pessoal diplomático e «anunciar que os EUA poderiam atacar a Síria mesmo sem a aprovação da ONU». Sem negar que o ataque possa ter sido perpetrado pela forças governamentais, o congressista recorda que «bombardeamentos e ataques recentes foram obra dos rebeldes, que têm relações com a Al Qaeda» e que num caso tão sensível «faria sentido esperar por uma investigação completa (...) a menos que a verdade seja menos importante que agitar as emoções a favor de um ataque dos EUA».
Temos razões, afirma, para ser cépticos com o que nos diz o governo: «Quantas vezes se usaram recentemente mentiras e exagerações para utilizar a força no estrangeiro? Não há muito tempo nos disseram que Kadhafi estava a preparar o genocídio do povo da Líbia e que a única maneira era detê-lo com um ataque dos EUA. Terminámos por saber que isso era falso, mas então já os EUA e a NATO tinham bombardeado a Líbia, destruído as suas infra-estruturas, assassinado um número não revelado de civis e colocado um bando de criminosos no poder».
O mesmo se passou no caso do Iraque em 2003 com as histórias das armas de destruição maciça. Os advogados da guerra nunca entenderam as complexidades da sociedade iraquiana e as diferenças tribais e religiosas, afirma. E hoje o Iraque «é um caos absoluto, com a sua velha população cristã eliminada e uma economia que regressou várias décadas no tempo».
Mas Ron Paul também viaja no tempo para nos lembrar que no caso do Kosovo sucedeu o mesmo. «Contaram-nos mentiras sobre genocídios e massacres (...) de forma a abrir o caminho para que o presidente Clinton bombardeasse a Jugoslávia. Mais de 12 anos depois, a região está tão instável como antes da intervenção dos EUA – e as tropas da América ainda lá estão».
Por estranho que possa parecer, não há uma linha do artigo que não mereça a nossa atenção. Sobre o massacre ao qual se refere no início, Ron Paul sublinha que a história do mesmo tem vindo a mudar. «Primeiro disseram-nos que as mortes foram causadas pelos bombardeamentos do governo, mas depois viu-se que a maioria tinha sido assassinada a curta distância com pistolas e facas. Ninguém explicou a razão pela qual as forças do governo perderiam tempo a ir casa por casa para amarrar as mãos das vítimas antes de as matar e abandonar depois o local para permitir que as forças rebeldes filmassem os detalhes mais chocantes». É como se ninguém quisesse «fazer perguntas ou responder a estas questões», mas nós deveríamos perguntar-nos «a quem beneficiam estas histórias».
O artigo termina com uma denúncia, que se não é nova vale por quem a faz. «Ao longo de várias semanas temos visto nos media que a administração Obama fornece directamente assistência ‘não-letal’ aos rebeldes da Síria ao mesmo tempo que facilita o transporte de armas desde outros estados do Golfo». Ajuda semi-encoberta, é como lhe chamam. Entretanto e a propósito de uma declaração do general Martin Dempsey no sentido de que «a opção militar deveria ser considerada» contra a Síria, não sem uma certa ironia, o senador Ron Paul comenta: «Eu sempre pensei que era assunto do Congresso, e não dos generais, decidir quando começar uma guerra».
[i] http://www.informationclearinghouse.info/article31513.htm Share on orkutShare on twitterShare on facebookShare on emailMore Sharing Services0
por Pedro Campos
Ron Paul, congressista republicano, duas vezes candidato à presidência dos Estados Unidos, médico de profissão, cirurgião da força aérea durante a guerra de Vietname e autor de vários livros, considerado padrinho espiritual do conservador Tea Party e que frequentemente choca com as posições dos seus colegas de partido e também com as dos democratas, acaba de publicar, em Information Clearing House [i], um polémico artigo sobre a Síria, no qual avança com várias verdade «incómodas», que começam com o título desta nota.
Sobre um dos massacres mais recentes (o artigo é de 5 de Junho) registado de forma manipulada pelos media, Ron Paul comenta que, «tal como seria de esperar numa administração (a do seu país) com uma política declarada de ‘mudança de regime’ na Síria, a reacção foi atirar as culpas só para cima do governo da Síria», expulsar o pessoal diplomático e «anunciar que os EUA poderiam atacar a Síria mesmo sem a aprovação da ONU». Sem negar que o ataque possa ter sido perpetrado pela forças governamentais, o congressista recorda que «bombardeamentos e ataques recentes foram obra dos rebeldes, que têm relações com a Al Qaeda» e que num caso tão sensível «faria sentido esperar por uma investigação completa (...) a menos que a verdade seja menos importante que agitar as emoções a favor de um ataque dos EUA».
Temos razões, afirma, para ser cépticos com o que nos diz o governo: «Quantas vezes se usaram recentemente mentiras e exagerações para utilizar a força no estrangeiro? Não há muito tempo nos disseram que Kadhafi estava a preparar o genocídio do povo da Líbia e que a única maneira era detê-lo com um ataque dos EUA. Terminámos por saber que isso era falso, mas então já os EUA e a NATO tinham bombardeado a Líbia, destruído as suas infra-estruturas, assassinado um número não revelado de civis e colocado um bando de criminosos no poder».
O mesmo se passou no caso do Iraque em 2003 com as histórias das armas de destruição maciça. Os advogados da guerra nunca entenderam as complexidades da sociedade iraquiana e as diferenças tribais e religiosas, afirma. E hoje o Iraque «é um caos absoluto, com a sua velha população cristã eliminada e uma economia que regressou várias décadas no tempo».
Mas Ron Paul também viaja no tempo para nos lembrar que no caso do Kosovo sucedeu o mesmo. «Contaram-nos mentiras sobre genocídios e massacres (...) de forma a abrir o caminho para que o presidente Clinton bombardeasse a Jugoslávia. Mais de 12 anos depois, a região está tão instável como antes da intervenção dos EUA – e as tropas da América ainda lá estão».
Por estranho que possa parecer, não há uma linha do artigo que não mereça a nossa atenção. Sobre o massacre ao qual se refere no início, Ron Paul sublinha que a história do mesmo tem vindo a mudar. «Primeiro disseram-nos que as mortes foram causadas pelos bombardeamentos do governo, mas depois viu-se que a maioria tinha sido assassinada a curta distância com pistolas e facas. Ninguém explicou a razão pela qual as forças do governo perderiam tempo a ir casa por casa para amarrar as mãos das vítimas antes de as matar e abandonar depois o local para permitir que as forças rebeldes filmassem os detalhes mais chocantes». É como se ninguém quisesse «fazer perguntas ou responder a estas questões», mas nós deveríamos perguntar-nos «a quem beneficiam estas histórias».
O artigo termina com uma denúncia, que se não é nova vale por quem a faz. «Ao longo de várias semanas temos visto nos media que a administração Obama fornece directamente assistência ‘não-letal’ aos rebeldes da Síria ao mesmo tempo que facilita o transporte de armas desde outros estados do Golfo». Ajuda semi-encoberta, é como lhe chamam. Entretanto e a propósito de uma declaração do general Martin Dempsey no sentido de que «a opção militar deveria ser considerada» contra a Síria, não sem uma certa ironia, o senador Ron Paul comenta: «Eu sempre pensei que era assunto do Congresso, e não dos generais, decidir quando começar uma guerra».
[i] http://www.informationclearinghouse.info/article31513.htm Share on orkutShare on twitterShare on facebookShare on emailMore Sharing Services0
Texto original no Jornal Avante
Comentários
Postar um comentário