A loucura belicista não poderá salvar o capitalismo da sua crise estrutural
Soldados psicopatas dos EUA barbarizando o povo afegão. |
Por Luís Carapinha
As bombas assassinas da NATO continuam a cair ininterruptamente no Afeganistão. No passado fim-de-semana as agências noticiosas davam conta de mais uma matança – oito membros de uma família, incluindo seis crianças – em mais um bombardeamento aéreo da NATO. Por terra e ar tem sido assim, quotidianamente, ao longo dos 11 anos que já dura a ocupação do martirizado país centro-asiático às mãos do imperialismo.
Afeganistão que foi precisamente um dos temas centrais da recente Cimeira da NATO em Chicago (20-21 de Maio), a primeira a realizar-se após a adopção do novo conceito estratégico saído de Lisboa em 2010. Ali foi reiterada a decisão de evacuar as chamadas tropas de combate do Afeganistão até final de 2014. Por agora a guerra prosseguirá e ao elevado número de vítimas afegãs continuarão a juntar-se aqueles que, mortos ou estropiados, conhecerão o triste destino que lhes foi reservado pelos «senhores da guerra» do grande capital nesta agressão estratégica de inspiração colonial a muitos milhares de quilómetros das suas casas. E para lá de 2014 os EUA e a NATO já anunciaram a intenção de manter milhares de militares, pretensamente, para treinar o novo exército afegão. Uma coisa é certa: a intervenção liderada pelos EUA deixa um longo e explosivo rastro desestabilizador numa vasta região da Ásia Central confinante com o Paquistão, as ex-repúblicas soviéticas e a região chinesa do Xinjiang, em que sobressaem o narcotráfico, o terrorismo, fundamentalismo islâmico e sectarismo étnico.
Por Chicago passou também a promessa de continuar a estender as «parcerias globais» da NATO e dar novo fôlego à cavalgada de alargamento da aliança transatlântica em direcção aos Balcãs e ao Cáucaso. Na calha está a incorporação de três países-protectorados resultantes da fragmentação da Jugoslávia (Macedónia, Montenegro e Bósnia) e da quarta ex-república soviética – Geórgia. Presente em Chicago, o presidente Saakachivili que luta para manter o poder nas eleições de 2013 afirmou-se mais confiante do que nunca na adesão, já em 2014. A NATO voltou a expressar o apoio à integridade territorial da Geórgia e exortar a Rússia a retroceder no reconhecimento da Abkházia e Ossétia do Sul (ignorando que o separatismo na Geórgia resulta da desintegração da URSS e não da guerra de 2008, para a qual os EUA empurraram o governo de Tbilissi). Sem pejo a declaração aprovada reafirma o compromisso na missão da KFOR no Kosovo – província sérvia cuja secessão patrocinada pelos EUA e a UE viola a própria resolução 1244 do CS da ONU, no rescaldo da guerra ilegítima da NATO contra a Jugoslávia. Isto no momento em que surgem notícias da utilização do Kosovo como campo de treino das forças da «oposição» síria. Um dos pouco países mediterrânicos não envolvido no quadro regional de «parcerias» da NATO, a Síria é alvo de uma vasta campanha de terror, incluindo no plano mediático.
Quem não esteve presente foi a Rússia, adiando o Conselho NATO-Rússia para ocasião mais propícia. Com Pútin de volta ao Kremlin de Moscovo continuam a soar sinais de descontentamento e apreensão. Chicago proclamou enfaticamente o vigor da capacidade interina do escudo antimíssil da NATO, cujo centro de comando funcionará na base dos EUA de Ramstein na Alemanha, integrando-se no sistema global que Washington desenvolve. O escudo ofensivo, pedra de toque da nova corrida armamentista com vista à hegemonia absoluta do imperialismo, constitui uma ameaça directa ao potencial estratégico dissuasor da Rússia (e China). A sua instalação conduz à ilusão da supremacia nuclear dos EUA, ameaçando perigosamente o equilíbrio e a paz mundiais.
A loucura belicista não poderá salvar o capitalismo da sua crise estrutural. O peso decisivo da realidade económica num mundo em profunda rearrumação acabará por impor-se. A luta pela paz e a emancipação são hoje fundamentais, também para impedir que a Humanidade tenha que pagar um preço demasiado alto para quebrar as asas ao imperialismo.
Texto original no Jornal AVANTE
O Mafarrico Vermelho
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