Povos estão em luta
Do Norte de África ao Médio Oriente
Povos estão em luta
Após o derrube de Ben Ali e a eleição de um novo governo, os tunisínos continuam sem ver concretizadas medidas que respondam aos flagelos económicos e sociais do país. Isso mesmo disseram centenas de licenciados tunisinos que, sexta-feira, 25, terminaram uma concentração de protesto que durou vários dias frente à sede do governo, em Tunes.
A taxa de desemprego oficial na Tunísia é de 19 por cento e cerca de um terço dos 750 mil desempregados registados tem formação Superior.
No mesmo dia, nas regiões de Ain Draham, Gabes, Sfax e Kef, organizações sociais e sindicais culminaram uma semana reivindicativa em defesa de emprego, salários, direitos e políticas de investimento, reportou a EFE.
Em Kef, no dia anterior, os protestos terminaram em confrontos com a polícia quando a multidão tentou invadir os escritórios locais do governo. Pelo menos 17 pessoas resultaram feridas na sequência da investida das autoridades, que dispersaram o povo com recurso a bastonadas e gás lacrimogéneo.
As acções da semana passada foram convocadas pela União Geral dos Trabalhadores Tunisínos (UGTT), que, na sequência daquelas, já anunciou paralisações gerais para 4 e 5 de Junho em Kef, Yenduba e Gafsa, noticiou a Lusa.
Para a UGTT «existe um mal-estar nas bases operárias, dado o receio de que o governo não aprove aumentos salariais no momento em que o país sofre uma alta vertiginosa e histórica de preços». O descontentamento estende-se aos professores primários, que agendaram para ontem uma paralisação do sector.
Tahrir volta a encher
Já no Egipto, a revolta está a ser desencadeada pela passagem à segunda volta das eleições presidenciais do último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq, que no sufrágio realizado na quarta e quinta-feira da semana passada obteve 5,5 milhões de votos, sendo apenas superado pelo candidato apoiado pela Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, que obteve 5,76 milhões de votos.
Uma multidão destruiu completamente a sede de candidatura de Shafiq, segunda-feira, 28, e exigiu que o ex-chefe do governo da ditadura não se apresente na segunda volta, marcada para 16 e 17 de Junho. Milhares acorreram nesse mesmo dia à Praça Tahrir.
Nas eleições que a entidade organizadora diz terem sido participadas por 46 por cento dos egípcios habilitados a votar, a grande surpresa foi o candidato do Partido da Dignidade, Hamdeen Sabahi, que garantiu 4,82 milhões de votos.
Sabahi apresenta-se como um partidário do ex-presidente Gamal Nasser e já anunciou que vai impugnar os resultados, fundamentalmente porque, segundo a EFE, contesta a realização da consulta sem que o Tribunal Constitucional se tenha pronunciado sobre a Lei da Exclusão Política, a qual, argumenta, impediria Ahmed Shafiq de se apresentar às urnas.
Acresce, segundo a campanha de Sabahi, que foram detectadas inúmeras irregularidades durante o acto, desde exercício de voto por pessoas não registadas, a votantes sem identificação, pressão de membros das mesas a favor de outros candidatos (Lusa 28.05.2012), um número não detalhado de votos em Sabahi deitados ao lixo, permanência de defuntos nas listas oficiais, compra de votos, ausência de juizes nas assembleias de apuramento ou exercício de voto por parte de membros das forças policiais e militares (Telesur 27.05.2012).
O Centro Carter e o seu fundador, o ex-presidente Jimmy Carter, consideraram o acto «encorajador», mas foram obrigados a admitir que nunca antes enfrentaram restrições à monitorização do pleito. Nenhum dos seus observadores foi autorizado a assistir às contagens nas comissões regionais (Lusa 26.05.2012).
Regimes contestados
Paralelamente ao curso dos acontecimentos na Tunísia e no Egipto, no Bahrein as movimentações de massas são contra a repressão e pelo derrube do regime.
De acordo com a iraniana Press TV e a venezuelana Telesur, no domingo os protestos populares recrudesceram quando foi divulgada a sentença de 15 anos de prisão para seis detidos nos protestos de Novembro.
Nos dois dias anteriores, em Saar, Dair, Salihiya e Sitra, e em bairros dos arredores da capital Manama, forças conjuntas do regime do Bahrein e da Arábia Saudita reprimiram multidões que ocuparam estradas e marcharam nas ruas exigindo à família Al-Khalifa que abandone o poder. Dezenas de pessoas terão sido feridas e detidas, de acordo com a Press TV.
Os protestos no Bahrein voltaram a assumir proporções massivas na sexta-feira, 18, quando milhares de pessoas repudiaram nas ruas o projecto de união entre o Bahrein e a Arábia Saudita.
Na sexta-feira 25, os protestos também voltaram à Jordânia, com mais de um milhar de pessoas a contestarem na capital, Amam, o pacote de austeridade imposto ao povo pelo novo governo, cujo argumento é a necessidade de cobrir o défice das contas públicas. Os jordanos apelaram ainda ao combate à corrupção e à transparência na gestão dos fundos públicos.
Outra dimensão assumiu a manifestação de domingo, 27, em Casablanca, Marrocos, onde 50 mil pessoas, segundo fontes sindicais, se manifestaram contra o desemprego e a corrupção.
Após o derrube de Ben Ali e a eleição de um novo governo, os tunisínos continuam sem ver concretizadas medidas que respondam aos flagelos económicos e sociais do país. Isso mesmo disseram centenas de licenciados tunisinos que, sexta-feira, 25, terminaram uma concentração de protesto que durou vários dias frente à sede do governo, em Tunes.
A taxa de desemprego oficial na Tunísia é de 19 por cento e cerca de um terço dos 750 mil desempregados registados tem formação Superior.
No mesmo dia, nas regiões de Ain Draham, Gabes, Sfax e Kef, organizações sociais e sindicais culminaram uma semana reivindicativa em defesa de emprego, salários, direitos e políticas de investimento, reportou a EFE.
Em Kef, no dia anterior, os protestos terminaram em confrontos com a polícia quando a multidão tentou invadir os escritórios locais do governo. Pelo menos 17 pessoas resultaram feridas na sequência da investida das autoridades, que dispersaram o povo com recurso a bastonadas e gás lacrimogéneo.
As acções da semana passada foram convocadas pela União Geral dos Trabalhadores Tunisínos (UGTT), que, na sequência daquelas, já anunciou paralisações gerais para 4 e 5 de Junho em Kef, Yenduba e Gafsa, noticiou a Lusa.
Para a UGTT «existe um mal-estar nas bases operárias, dado o receio de que o governo não aprove aumentos salariais no momento em que o país sofre uma alta vertiginosa e histórica de preços». O descontentamento estende-se aos professores primários, que agendaram para ontem uma paralisação do sector.
Tahrir volta a encher
Já no Egipto, a revolta está a ser desencadeada pela passagem à segunda volta das eleições presidenciais do último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq, que no sufrágio realizado na quarta e quinta-feira da semana passada obteve 5,5 milhões de votos, sendo apenas superado pelo candidato apoiado pela Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, que obteve 5,76 milhões de votos.
Uma multidão destruiu completamente a sede de candidatura de Shafiq, segunda-feira, 28, e exigiu que o ex-chefe do governo da ditadura não se apresente na segunda volta, marcada para 16 e 17 de Junho. Milhares acorreram nesse mesmo dia à Praça Tahrir.
Nas eleições que a entidade organizadora diz terem sido participadas por 46 por cento dos egípcios habilitados a votar, a grande surpresa foi o candidato do Partido da Dignidade, Hamdeen Sabahi, que garantiu 4,82 milhões de votos.
Sabahi apresenta-se como um partidário do ex-presidente Gamal Nasser e já anunciou que vai impugnar os resultados, fundamentalmente porque, segundo a EFE, contesta a realização da consulta sem que o Tribunal Constitucional se tenha pronunciado sobre a Lei da Exclusão Política, a qual, argumenta, impediria Ahmed Shafiq de se apresentar às urnas.
Acresce, segundo a campanha de Sabahi, que foram detectadas inúmeras irregularidades durante o acto, desde exercício de voto por pessoas não registadas, a votantes sem identificação, pressão de membros das mesas a favor de outros candidatos (Lusa 28.05.2012), um número não detalhado de votos em Sabahi deitados ao lixo, permanência de defuntos nas listas oficiais, compra de votos, ausência de juizes nas assembleias de apuramento ou exercício de voto por parte de membros das forças policiais e militares (Telesur 27.05.2012).
O Centro Carter e o seu fundador, o ex-presidente Jimmy Carter, consideraram o acto «encorajador», mas foram obrigados a admitir que nunca antes enfrentaram restrições à monitorização do pleito. Nenhum dos seus observadores foi autorizado a assistir às contagens nas comissões regionais (Lusa 26.05.2012).
Regimes contestados
Paralelamente ao curso dos acontecimentos na Tunísia e no Egipto, no Bahrein as movimentações de massas são contra a repressão e pelo derrube do regime.
De acordo com a iraniana Press TV e a venezuelana Telesur, no domingo os protestos populares recrudesceram quando foi divulgada a sentença de 15 anos de prisão para seis detidos nos protestos de Novembro.
Nos dois dias anteriores, em Saar, Dair, Salihiya e Sitra, e em bairros dos arredores da capital Manama, forças conjuntas do regime do Bahrein e da Arábia Saudita reprimiram multidões que ocuparam estradas e marcharam nas ruas exigindo à família Al-Khalifa que abandone o poder. Dezenas de pessoas terão sido feridas e detidas, de acordo com a Press TV.
Os protestos no Bahrein voltaram a assumir proporções massivas na sexta-feira, 18, quando milhares de pessoas repudiaram nas ruas o projecto de união entre o Bahrein e a Arábia Saudita.
Na sexta-feira 25, os protestos também voltaram à Jordânia, com mais de um milhar de pessoas a contestarem na capital, Amam, o pacote de austeridade imposto ao povo pelo novo governo, cujo argumento é a necessidade de cobrir o défice das contas públicas. Os jordanos apelaram ainda ao combate à corrupção e à transparência na gestão dos fundos públicos.
Outra dimensão assumiu a manifestação de domingo, 27, em Casablanca, Marrocos, onde 50 mil pessoas, segundo fontes sindicais, se manifestaram contra o desemprego e a corrupção.
Texto publicado originalmente no Jornal Avante
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