Nos 75 anos do início da Segunda Guerra Mundial - Nunca mais!

Nos 75 anos do início da Segunda Guerra Mundial
Nunca mais!
por Gustavo Carneiro


"A União Soviética foi a grande responsável pela derrota do nazifascismo, por mais que «historiadores», «jornalistas» e produtores de cinema se esforcem por demonstrar o contrário. Em Junho de 1944, quando norte-americanos e ingleses desembarcam na Normandia – abrindo finalmente a «segunda frente» há muito exigida pelos soviéticos – já a Alemanha tinha sofrido as derrotas decisivas (a rendição em Stalinegrado dá-se em Fevereiro de 1943) e a guerra mudado o seu curso. Em poucos meses, as tropas nazis eram expulsas da primeira pátria socialista e começava a imparável libertação dos povos europeus e o estertor final do nazifascismo."

"o aniversário do início da Segunda Guerra Mundial não deve constituir um mero exercício de memória. Sobretudo num momento como aquele em que vivemos, em que muitas das causas que estiveram por detrás deste conflito ressurgem com assinalável expressão: a crise do capitalismo, a agressividade imperialista, a aposta no fascismo e na guerra como saída para a crise de sobre-produção e sobre-acumulação e o esmagamento das lutas dos trabalhadores e da soberania dos povos.

O apoio dos EUA e da UE ao golpe dos oligarcas e das forças fascistas na Ucrânia e o avanço das forças de extrema-direita na Europa, promovidos pelo capital e pelos seus poderosos meios de comunicação, aí está para nos lembrar que o fascismo é um instrumento a que o imperialismo recorre quando pode e tal é do seu interesse. Tal como a guerra, que sempre o acompanha, e que faz sentir as suas sombras negras na crescente escalada de cerco e provocação dos EUA contra a Rússia e a China."


A 1 de Setembro de 1939, as tropas nazis invadiram a Polônia. Dois dias depois, a Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha, dando início à Segunda Guerra Mundial. Quando, em Maio de 1945, se dá a capitulação alemã às mãos do Exército Vermelho (a capitulação japonesa ocorre em Agosto do mesmo ano), terminou aquele que foi o mais brutal conflito militar que a humanidade já conheceu: 50 milhões de mortos, um incontável número de feridos, estropiados e traumatizados, milhares de vilas e cidades arrasadas, destruições incalculáveis na economia e nas riquezas naturais de numerosos países – tal foi o preço que custou a derrota do nazifascismo. A União Soviética pagou a maior parte.


Se Hitler e a sua máquina infernal de guerra e terror surgem como os principais rostos desta carnificina, eles não explicam tudo. As causas mais fundas deste conflito, que há muito se adivinhava, radicam na grande crise do capitalismo que eclode em 1929 e nos resultados da Primeira Guerra Mundial: os estados imperialistas que ficaram excluídos da primeira divisão do mundo, e que perderam ou não conseguiram beneficiar da primeira guerra de redivisão (casos da Alemanha, por um lado, e da Itália e do Japão, por outro), rapidamente se começam a preparar para uma nova partilha de territórios, mercados e fontes de matérias-primas: no início da década de 30, o Japão invade a Manchúria; em 1935 a Itália apodera-se da Etiópia; no ano seguinte os generais fascistas iniciam a sublevação contra a República espanhola; e em 1937 o Japão invade mais territórios chineses. A partir de 1938, com a ocupação da Áustria, a Alemanha nazi inicia uma série de agressões militares no continente europeu.

O fascismo – «ditadura terrorista aberta dos elementos mais reaccionários, chauvinistas e imperialistas do capital financeiro», como o caracterizou a Internacional Comunista – foi a «tropa de choque» para cumprir estes objectivos expansionistas. O livro de Kurt Gossweiler «Hitler: ascensão irresistível?», publicado pelas Edições Avante!, é de leitura obrigatória para quem pretenda compreender os laços que uniam o grande capital alemão ao ditador nazi. Por detrás da máquina nazifascista de guerra e de terror estiveram desde o início alguns dos principais potentados industriais alemães (e não só). Estes não só armaram, muniram e equiparam as tropas nazis como beneficiaram do trabalho escravo proporcionado pelos prisioneiros dos campos de concentração. Este odioso crime permanece ainda por julgar.

«Estranha guerra»..

Alfred Jodl, chefe do Estado-Maior da Wermacht, afirmou no seu julgamento em Nuremberg que «se nós não fomos derrotados na Polônia em 1939 isso deveu-se apenas a que, no Ocidente, no período da campanha polaca, 110 divisões francesas e inglesas se “opunham” em completa inação a 25 divisões alemãs». Esta passividade, que se prolongou durante quase nove meses e que passou à história como a estranha guerra, é uma das principais responsáveis pelos estrondosos sucessos iniciais da «guerra relâmpago» dos nazifascistas.

Esta atitude dos governos francês e inglês não se iniciou em Setembro de 1939, com a declaração de guerra à Alemanha. Ela, aliás, prossegue uma política de conciliação iniciada com a subida ao poder do partido nazi: a remilitarização alemã fez-se perante o olhar complacente das restantes potências capitalistas europeias, as mesmas que assistiram mudas e quedas à intervenção alemã e italiana em Espanha, ao lado dos falangistas (mantendo-se, elas, «neutrais»), negociaram com Hitler o «Pacto de Munique», que resultou no desmembramento e ocupação da Checoslováquia, e inviabilizaram todas as propostas da União Soviética para garantir a defesa dos países ameaçados pelo nazifascismo. O pacto germano-soviético de não-agressão foi assinado depois de os soviéticos terem perdido todas as esperanças numa aliança com ingleses e franceses para travar o nazismo.

Aos políticos burgueses e a capitalistas alemães, ingleses, franceses e norte-americanos unia-os a vontade de repressão e esmagamento das forças progressistas na Europa, sobretudo do movimento operário e dos partidos comunistas (que ganhavam força a cada dia que passava, sobretudo após o VII Congresso da Internacional Comunista, realizado em 1935) e a tentativa de virar o militarismo alemão e a sua ambição de expansão territorial para a União Soviética.

É assim que se deve avaliar a passividade cúmplice com que as camadas dirigentes da Inglaterra e de França «reagiram» à invasão da Polônia, nas fronteiras com o Estado Socialista. Mas Hitler trocou-lhes as voltas, ao virar-se primeiro contra o Ocidente: as principais cidades britânicas sofreram violentos bombardeamentos aéreos e a França foi ocupada e dividida. Em Junho de 1941, Hitler volta-se com toda a força para aquele que fora, desde sempre, o seu objectivo central: a ocupação da URSS. 

Da resistência à vitória 

A União Soviética foi a grande responsável pela derrota do nazifascismo, por mais que «historiadores», «jornalistas» e produtores de cinema se esforcem por demonstrar o contrário. Em Junho de 1944, quando norte-americanos e ingleses desembarcam na Normandia – abrindo finalmente a «segunda frente» há muito exigida pelos soviéticos – já a Alemanha tinha sofrido as derrotas decisivas (a rendição em Stalinegrado dá-se em Fevereiro de 1943) e a guerra mudado o seu curso. Em poucos meses, as tropas nazis eram expulsas da primeira pátria socialista e começava a imparável libertação dos povos europeus e o estertor final do nazifascismo.

Os números, aliás, falam por si: aquando do chamado «Dia D», 92 por cento das tropas terrestres da Alemanha nazi combatiam na Frente Leste, e foi aí que foram derrotadas 607 divisões alemãs (176 na frente Ocidental) e 75 por cento da sua aviação, artilharia e tanques.

A vitória soviética, decisiva para a libertação dos povos da Europa, fez-se de incontáveis sacrifícios e actos de heroísmo: dos bravos defensores da fortaleza de Brest, nos primeiros dias da invasão; dos cidadãos de Moscovo e Leninegrado, cercados durante meses, mas nunca vencidos; dos bravos defensores de Odessa, que a partir dos túneis na cidade ocupada desferiram poderosos golpes no inimigo; dos notáveis combatentes de Stalinegrado que, rua a rua e casa a casa, infligiram a mais pesada derrota ao invasor hitleriano; dos guerrilheiros que, nas zonas ocupadas, nunca deixaram de combater; de todo um povo que, guiado pelo Partido Comunista e zeloso da nova sociedade que construía, sempre confiou que a vitória, embora difícil, seria uma realidade!

As notícias das vitórias do povo soviético e do Exército Vermelho, e o seu avanço impetuoso para Ocidente, animaram os restantes povos da Europa ocupada a levantar-se e a resistir: os movimentos de resistência, de natureza profundamente unitária e com grande participação da classe operária e dos comunistas, assumiram um papel determinante na derrota do nazifascismo e nas importantes conquistas progressistas do pós-guerra.

O facto de, durante décadas, o imperialismo ter sido obrigado a refrear os seus ímpetos mais agressivos deveu-se ao prestígio e à pujança com que saiu da Segunda Guerra Mundial a União Soviética, à formação de um forte campo de países socialistas e de um amplo movimento de libertação nacional, à existência de um influente movimento comunista e de um movimento operário e sindical, ao reforço das forças antifascistas e da paz.

A história não se repete, mas ensina 

Assinalar, hoje, o aniversário do início da Segunda Guerra Mundial não deve constituir um mero exercício de memória. Sobretudo num momento como aquele em que vivemos, em que muitas das causas que estiveram por detrás deste conflito ressurgem com assinalável expressão: a crise do capitalismo, a agressividade imperialista, a aposta no fascismo e na guerra como saída para a crise de sobre-produção e sobre-acumulação e o esmagamento das lutas dos trabalhadores e da soberania dos povos.

O apoio dos EUA e da UE ao golpe dos oligarcas e das forças fascistas na Ucrânia e o avanço das forças de extrema-direita na Europa, promovidos pelo capital e pelos seus poderosos meios de comunicação, aí está para nos lembrar que o fascismo é um instrumento a que o imperialismo recorre quando pode e tal é do seu interesse. Tal como a guerra, que sempre o acompanha, e que faz sentir as suas sombras negras na crescente escalada de cerco e provocação dos EUA contra a Rússia e a China.

Mas a História não está escrita de antemão. São as massas, com a sua organização e luta, que escreverão o seu epílogo. Combater a ameaça do fascismo, o militarismo e a guerra; defender a independência e a soberania nacionais; desenvolver a solidariedade para com os povos vítimas da ingerência e da agressão imperialista são tarefas essenciais que estão colocadas aos povos do mundo. Para tal, há-que erguer um vasto movimento pelo desarmamento e pela paz – que adquire objectivamente um carácter anti-imperialista –, capaz de promover o esclarecimento e a mobilização populares e, desta forma, ampliar o campo daqueles que ganham consciência de que a luta contra a guerra exige o combate às suas causas – e estas radicam no sistema de exploração capitalista.





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