Encontro Sócrates-Merkel:O grau de subserviência e dependência do governo português face aos grandes grupos económicos e financeiros



Encontro Sócrates-Merkel:
um acto de subserviência, mais um passo no roubo aos trabalhadores, ao povo e ao país


Conferência de Imprensa, Ângelo Alves, membro da Comissão Política do CC do PCP




O carácter decisivo atribuído ao Encontro do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finanças com a Chanceler alemã Angela Merkel, bem como, a discussão que a seu propósito se desenvolveu em torno da erradamente chamada “ajuda” ao Estado português, são, por si só, demonstrativos do grau de subserviência e dependência do governo português face aos grandes grupos económicos e financeiros das principais potências capitalistas europeias e ao directório de potências da União Europeia, em particular a Alemanha.


Uma dependência que, resultando das políticas anti-sociais e de abdicação nacional dos sucessivos governos e do seu enfeudamento à orientação neoliberal, federalista e militarista da União Europeia, se aprofunda de dia para dia, como o comprovam mais uma vez os resultados de hoje da operação de emissão de dívida pública portuguesa.

O anúncio pelo Governo português, nas vésperas deste encontro, da possibilidade de novas medidas ditas de austeridade a par da apresentação - como se de um troféu se tratasse - dos resultados da execução orçamental alcançados à custa dos direitos e condições de vida dos trabalhadores e do povo português, são reveladores do teor e objectivos deste Encontro, do sentido das conversações relativamente à situação em Portugal e aos seus desenvolvimentos futuros e que as declarações proferidas por Angela Merkel confirmam.

Considerando a posição do governo alemão relativamente à questão da chamada “flexibilização do mecanismo europeu de estabilização financeira” e as imposições consubstanciadas nas propostas de “governação económica” e “pacto para a competitividade”, o que de facto foi abordado em Berlim não foi uma qualquer “ajuda” a Portugal, ou sequer uma séria negociação com base nos princípios da igualdade, da coesão e solidariedade.

O que se verificou hoje foi mais um passo no processo de imposição ao nosso País, com a cumplicidade activa do Governo português, de políticas profundamente lesivas dos direitos dos trabalhadores e do nosso povo. Medidas que, como a realidade o está a provar, atentam não só contra direitos sociais e laborais, mas também contra a economia nacional, cuja recessão resulta em parte desse processo, ao mesmo tempo que se prolonga a insustentável extorsão de recursos nacionais por parte do grande capital financeiro, nomeadamente dos grandes bancos alemães, e se procede à concentração de poder político e económico na União Europeia.

Mais dependência económica, novos ataques contra quem trabalha, agravamento das condições de vida do nosso povo, subserviência política e menos soberania, garantia de lucros e privilégios para o grande capital, eis o que o governo português levou a Berlim num verdadeiro acto de prestação de contas e vassalagem, que a chanceler Merkel aplaude.

Como a actual situação na Grécia e na Irlanda comprovam uma qualquer “ajuda” a Portugal - independentemente da modalidade que venha a ser considerada - assente nos pressupostos do endurecimento do Pacto de Estabilidade e dos princípios subjacentes às propostas de governação económica e do pacto para competitividade – das quais o governo português é um cúmplice defensor - estaria sempre associada à exigência por parte da União Europeia e do grande capital financeiro de novas e ainda mais gravosas medidas de teor anti-social, de destruição das funções sociais do Estado, privatização de empresas e de serviços públicos e de destruição do tecido produtivo nacional.

O que este encontro veio confirmar é que o Governo português reiterou o seu aval a um processo que visa dar todas as garantias ao grande capital financeiro alemão de que o seu domínio económico e o domínio político do directório de potências na União Europeia, na qual o EURO é um instrumento essencial, continuará a ser garantido à custa de mais sacrifícios dos trabalhadores e dos povos da Europa e da independência e soberania de países como Portugal.

Como a realidade está a demonstrar, e em particular a chamada crise das dívidas soberanas, as orientações em curso na União Europeia nada têm que ver com os proclamados princípios da solidariedade e da coesão, mas sim com o aprofundamento das relações de dependência económica e política dentro do espaço europeu e com uma regressão histórica dos direitos dos trabalhadores e dos povos da Europa.

O PCP reafirma que a resposta aos problemas do país exige uma ruptura com a política de direita e com as orientações da União Europeia. Uma ruptura que abra caminho à recuperação para o Estado português de importantes instrumentos da sua soberania económica, orçamental e monetária, que aposte na produção e no aparelho produtivo nacional, na diversificação das fontes de financiamento e do comércio externo, no aumento dos salários e dos rendimentos de quem trabalha, na suspensão do pacto de estabilidade e redefinição dos estatutos e falsa independência do BCE e a tributação do grande capital – o grande beneficiário da política em curso em Portugal e na União Europeia.

Uma ruptura que exige a intensificação da luta de massas e que terá na manifestação convocada para o próximo dia 19 de Março pela CGTP/IN, uma resposta à altura desta insustentável situação.

Fonte: PCP


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