Ucrânia Raízes da guerra

Ucrânia Raízes da guerra
por Albano Nunes



"É aqui que mergulham as raízes de um foco de guerra tanto mais perigoso quanto se desenvolve no quadro da mais profunda e prolongada crise capitalista e em que é visível a tentação dos sectores mais reacionários e agressivos do grande capital para voltarem a recorrer ao fascismo e à guerra para dirimir as suas contradições e, à custa de colossais destruições materiais e humanas, restaurar as condições de reprodução do capital como aconteceu com a 2.ª Guerra Mundial cujo 70.º aniversário do seu fim este ano assinalaremos. "

A escalada de confrontação dos EUA-UE-NATO com a Rússia encerra enormes perigos para a paz na Europa e no mundo. As frenéticas movimentações diplomáticas que levaram Merkel e Holande a Kiev, Moscovo e a Washington (só Merkel) e a uma nova cimeira em Minsk da Alemanha, França, Ucrânia e Rússia, mostram que a situação é realmente muito séria. O cessar fogo acordado para o Sudeste da Ucrânia foi-o num quadro em que à instalação do sistema anti-míssil dos EUA, à multiplicação de bases militares na região e à acção criminosa das brigadas nazis armadas pelos EUA, vem juntar-se as decisões da NATO de triplicar os efectivos da sua «Brigada de Intervenção Rápida» e do Congresso dos EUA sobre o fornecimento ao governo golpista de armamento «letal», que constituem autênticos preparativos para a guerra.

A Rússia de hoje é um país capitalista. Que ninguém espere do seu governo uma política externa consequentemente anti-imperialista. Mas é uma evidência que Putin não é Ieltsin e, sobretudo, que um governo russo não pode deixar de ter em conta a força de um povo que nos alvores da Revolução de Outubro e na «Grande Guerra Pátria» rejeitou e derrotou heroicamente a agressão estrangeira salvando a Humanidade da barbárie nazi-fascista. Caracterizar o drama da Ucrânia e a perigosíssima escalada de tensão com a Rússia como simples expressão de «contradições inter-imperialistas», é um erro que ignora que as raízes da guerra são fundamentalmente internas à sociedade ucraniana, erro que se vingasse facilitaria os objectivos do imperialismo.

Para compreender a situação é necessário ter presente duas dinâmicas. Uma que se inicia em Novembro de 2013 com a recusa da Ucrânia em assinar o acordo de associação com a União Europeia. A partir daí desenvolveu-se uma imparável escalada de ingerências externas e subversão, a reabilitação e apoio a forças fascistas e a perseguição dos comunistas, a imposição em Kiev de um governo títere ao serviço das grandes potências imperialistas, a brutal repressão no Sudeste do país da generalizada rejeição popular do governo golpista provocando milhares de vítimas, um dramático fluxo de deslocados e refugiados, e crimes terroristas como o assalto de 2 de Maio à Casa dos Sindicatos de Odessa. 

A outra, a cavalgada do imperialismo para Leste na sequência da desagregação da URSS e das derrotas do socialismo, cavalgada em que UE, NATO e EUA cooperam (e rivalizam) para liquidar até aos alicerces tudo o que décadas de socialismo haviam conquistado, destruir o potencial econômico e assenhorear-se dos mercados destes países, avançar os dispositivos da NATO até às fronteiras da Rússia cujo poderio econômico e militar, nomeadamente nuclear, os EUA procuram por todos os meios destruir. Da anexação da RDA à destruição da Jugoslávia, feitos em que a Alemanha foi o principal protagonista, tudo tem sido feito para afastar qualquer resistência. A Ucrânia é o mais recente exemplo disso.

É aqui que mergulham as raízes de um foco de guerra tanto mais perigoso quanto se desenvolve no quadro da mais profunda e prolongada crise capitalista e em que é visível a tentação dos sectores mais reaccionários e agressivos do grande capital para voltarem a recorrer ao fascismo e à guerra para dirimir as suas contradições e, à custa de colossais destruições materiais e humanas, restaurar as condições de reprodução do capital como aconteceu com a 2.ª Guerra Mundial cujo 70.º aniversário do seu fim este ano assinalaremos. Combatendo o fascismo, o imperialismo e a guerra. Unindo forças pela paz.




Fonte: Avante


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