“Unidad y Lucha”: a recuperação da imprensa do Partido marxista-leninista em Espanha

“Unidad y Lucha”: a recuperação da imprensa do Partido marxista-leninista em Espanha 1
por Emma Esplá


"Sendo um instrumento que permite libertar o movimento operário da dominação ideológica burguesa, não pode faltar uma forte análise internacionalista que denuncie e desmascare a atual barbárie imperialista e a brutal escalada de violência que hoje o imperialismo exerce contra os povos. Dá-se, igualmente, um enfoque particular à luta contra a NATO e à saída de Espanha desta organização criminosa, ou seja, à saída de Espanha das estruturas do imperialismo. As páginas da secção internacional, mas também algumas da secção atualidade, visam direcionar o nosso princípio do internacionalismo para os conflitos de maior importância."

O actual "Unidad y Lucha", órgão de imprensa do  Comité Central do Partido Comunista dos Povos da Espanha (PCPE), teve origem no Congresso da Unidade Comunista, realizado em Janeiro de 1984, em Madrid, entre cinco organizações comunistas, que trouxe o que viria a consubstanciar-se no Partido da classe operária, substituindo o eurocomunista Partido Comunista de Espanha (PCE).

Uma das primeiras decisões do Comité Central da nova organização, que surgiu a partir do Congresso de Unidade, foi a publicação de um novo jornal como órgão de expressão do novo projeto político.

O nome do primeiro jornal foi “Nuevo Rumbo”, uma expressão bem clara da mudança que significou o nascimento do novo partido, no panorama do comunismo espanhol, um autêntico rumo novo para a luta revolucionária. Um modesto jornal mensal que era distribuído pelo coletivo militante com vibrante entusiasmo.

Este jornal surgiu para competir com o outrora heróico “Mundo Obrero”, que era o órgão de expressão histórico do comunismo espanhol. Jornal pelo qual muitos homens e mulheres comunistas arriscaram as suas vidas para o distribuir nas mais difíceis condições, por alturas de 1984, converteu-se num panfleto que transmitia à classe operária – aproveitando o seu prestígio histórico – as posições mais reformistas de aceitação da Transição espanhola, dos Pactos de Moncloa e de todos os pactos secretos que o carrillismo conjurou com a oligarquia deste país (permitindo a esta mesma oligarquia reconstruir as suas estratégias de dominação com a cumplicidade da formação histórica do comunismo espanhol).

Durante os primeiros anos, o “Nuevo Rumbo” desempenhou um papel muito importante, sobretudo na denúncia do projeto imperialista da União Europeia (então Mercado Comum) e no confronto com o campo eurocomunista, que aspirava – e ainda hoje o faz – a uma reestruturação social do projeto imperialista europeu.

O “Nuevo Rumbo” desempenhou, ainda, um papel igualmente importante a quando do referendo sobre a NATO (realizado a 12 de março de 1986), representando as posições mais consequentes da luta contra o braço armado do imperialismo internacional.

No ano 2 000, o PCPE realizou o processo de união com o Partido Comunista Operário Espanhol (PCOE) – o chamado “partido de Líster”2. Como parte dos acordos deste importante Congresso, o "Nuevo Rumbo" foi rebatizado, tomando o nome do jornal do PCOE: "Unidad y Lucha" (UyL), o qual se mantém até hoje.

Nesta última etapa, o “UyL” dedicou grande parte das suas páginas à denúncia e ao combate da crise estrutural do sistema capitalista e das posições reformistas, as quais conduzem a classe operária a uma posição de colaboração de classes, sob a promessa de uma “saída social” da crise. A fundamentação científica das suas análises, baseada no marxismo-leninismo, é, nesta etapa de crise estrutural do sistema capitalista internacional, um ponto de referência para os sectores mais conscientes da classe operária cujas consciências, num momento de agudização da luta de classes, se encontram num processo de revolução.

Como dizia Lénine, a imprensa revolucionária, além de ser um organizador coletivo, é também um propagandista e aglutinador coletivo. Temos vindo a trabalhar de forma a torná-la numa imprensa cada vez mais inserida no âmago da luta de classes, tentando dar resposta tanto à realidade concreta de classe (interesses imediatos), como aos seus interesses a longo prazo (construção do socialismo).

Procuramos que essa imprensa esteja presente nos conflitos laborais de maior atualidade, de forma a posicioná-los numa perspetiva de classe e de avanço contra o capitalismo, aliando a teoria à prática. É por isso que, recentemente, aumentámos as páginas sobre o movimento operário e continuaremos a trabalhar nesta linha. É um jornal onde também há espaço para a juventude revolucionária – para as lutas, análises e propostas da juventude trabalhadora e estudantil – e onde se dinamiza a luta das mulheres, incorporando-a na luta de classes em geral.

Sendo um instrumento que permite libertar o movimento operário da dominação ideológica burguesa, não pode faltar uma forte análise internacionalista que denuncie e desmascare a atual barbárie imperialista e a brutal escalada de violência que hoje o imperialismo exerce contra os povos. Dá-se, igualmente, um enfoque particular à luta contra a NATO e à saída de Espanha desta organização criminosa, ou seja, à saída de Espanha das estruturas do imperialismo. As páginas da secção internacional, mas também algumas da secção atualidade, visam direcionar o nosso princípio do internacionalismo para os conflitos de maior importância.

Num momento histórico que consideramos ser de “transição do capitalismo para o socialismo”, consideramos essencial analisar o estado atual de decomposição do sistema capitalista, ou seja, analisar o desenvolvimento do projeto imperialista europeu. Consideramos fundamental denunciar que a União Europeia e a sua fração oligárquica impõem, neste momento, um processo aceleradíssimo de saque e de roubo ao povo, aumentando a quota de exploração, numa tentativa desesperada de restabelecimento da sua taxa de lucro. Consideramos fundamental explicar que o conjunto de medidas anti-operárias e que a encarniçada ofensiva patronal é a única coisa que capitalismo atual pode oferecer às camadas populares e à classe operária. Consideramos fundamental aprofundar o carácter irreconciliável da luta contra a burguesia e colocar na ordem do dia a imperiosa necessidade da construção do socialismo.


1 Extraído de Tinta Roja n.º 25. – [NT]

2 Enrique Líster – Histórico militante do PCE tendo, em 1973, abandonado este partido, em confronto 
com a sua linha cada vez mais social-democrata e eurocomunista. Fundou o PCOE. – [NT]



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