Prisões políticas escancaram fascismo por toda parte

Prisões políticas escancaram fascismo por toda parte
por HUGO R C SOUZA


"Pode-se dizer que o papel político da polícia e da penitenciária cada vez mais, e cada vez mais claramente, extrapola a sua função “clássica”, mas não menos infame, no capitalismo em crise, que é a de criminalizar os pobres e suas estratégias de sobrevivência, passando a ter como clientela declarada também quem levanta a voz em tons mais altos e cerra os punhos com mais raiva contra a repressão generalizada e contra a degradação e insegurança que toma conta de todos os aspectos da vida das classes populares."


Nada “melhor”, digamos assim, do que um contexto de aprofundamento da crise geral do capitalismo e de vigoroso recrudescimento das lutas populares e classistas ao redor do mundo para expor de forma límpida e cristalina que a democracia burguesa e o fascismo são dois lados da mesma moeda. Aos primeiros sinais de que as massas estão dispostas a dar fim de uma vez a esta ordem de morte e exploração a que chamam de democracia, ou seja, quando protestos radicalizados e agigantados solapam o pacifismo estéril, o padrão sindical chapa-branca e os apelos constantes do oficialismo a uma vida bovina, o discurso das liberdades — de opinião, de manifestação, de ir e vir — logo dá lugar à mais feroz repressão e à mais colérica perseguição.

É o lobo mandando às favas a pele de cordeiro. Muitos aspectos da situação política do mundo atual escancaram esta real natureza do tal “Estado democrático de direito”, e um dos mais notórios é justamente o número cada vez maior de presos políticos feitos pelos Estados acossados pelas massas, seja nos Estados semifeudais e semicoloniais, seja nos países imperialistas, seja nos Estados burocráticos onde justamente, e recentemente, o imperialismo articulou para cavalgar rebeliões populares por uma democracia verdadeira a fim de transformá-las em “primaveras” que mascarassem a manutenção das tiranias.

No USA, o Estado respondeu com prisões em massa de manifestantes ao levante popular que eclodiu após o assassinato covarde pela polícia de mais um jovem negro, Michael Brown, executado com seis tiros na cidade de Fergusson, no estado do Missouri, quando estava desarmado e com as mãos para o alto. A onda de protestos massivos contra a polícia racista e mortífera do USA ganhou corpo após a decisão de um tribunal de não processar o assassino. Só no dia da decisão do tribunal, 26 de novembro, mais de 400 pessoas foram presas em Ferguson e em outras cidades do território ianque por protestarem contra o Estado.

No Egito, a “justiça” condenou à morte 188 presos políticos por participarem das violentas escaramuças que aconteceram naquele país em 2013 na sequência da deposição da Irmandade Muçulmana do gerenciamento do Estado e da restauração — mais uma — de um gerenciamento militar no país, visto pelo USA como mais capaz de manter as massas agitadas na rédea curta. Nunca é demais lembrar que o exército é a espinha dorsal do Estado egípcio e ponta de lança da dominação imperialista daquela nação.

Mais de 1.400 pessoas morreram no Egito desde a deposição de Mohamed Mursi em consequência da radicalização da situação política no país, mas, sobretudo, por causa da feroz repressão desencadeada pelos militares. Neste cenário, a “justiça” condena centenas de pessoas à execução sumária por causa da morte de 13 policiais, em sentença de teor claramente “exemplar”, caracterizada pela função política de desencorajar “distúrbios” e “desordem”, bem à moda do fascismo mais escancarado.

Hoje, também o Estado brasileiro “redemocratizado” bota sua fuça fascista na janela, à luz do sol, e logo sob o gerenciamento de legendas eleitoreiras associadas à “esquerda”, com uma sanha persecutória de inquéritos, prisões, procura de “foragidos” e enjaulamento de jovens rebeldes que participam de movimentos populares mais consequentes, como Igor Mendes, em infernos como o do complexo penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro.

Pode-se dizer que o papel político da polícia e da penitenciária cada vez mais, e cada vez mais claramente, extrapola a sua função “clássica”, mas não menos infame, no capitalismo em crise, que é a de criminalizar os pobres e suas estratégias de sobrevivência, passando a ter como clientela declarada também quem levanta a voz em tons mais altos e cerra os punhos com mais raiva contra a repressão generalizada e contra a degradação e insegurança que toma conta de todos os aspectos da vida das classes populares.



Fonte : AND



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