O fundamentalismo fascista evangélico


A inquisição dos pastores contra nossas matrizes
por Cristiano Navarro



Por meio de suas rádios e TVs, neopentencostais acirram seu discurso de intolerância contra religiões de matriz africana  

Em marcha, carregando faixas e misturando cantos de louvor com ameaças e incitação ao ódio, um grupo de centenas de evangélicos mobilizou-se na noite do dia 15 de julho e tentou invadir o terreiro de pai Jairo de Iemanjá Sabá, localizado no bairro do Varadouro, em Olinda (PE). As imagens da saída do grupo foram registradas pelo filósofo e babalorixá Érico Lustosa, no vídeo Cristãos agredindo Terreiro de Candomblé, publicado no Youtube.

Em um segundo vídeo-testemunho, também publicado no Youtube pelo Jornal do Commercio, Lustosa lembrou que o grupo gritava “Sai daí, Satanás!” e que ameaças foram feitas por um sujeito desconhecido durante a invasão. “Cuidado porque eu me converti evangélico, mas eu sou ex-matador”, gritava o manifestante. Assustados, tanto pai Jairo de Iemanjá quanto Érico Lustosa se negaram a voltar a falar sobre o assunto.
 
 



Onda de inquisição de grupos neo-pentencostais contra religiões de
matriz africana tem crescido em Pernambuco - Foto: Alex Oliveira-Setur

O fato ocorrido em Olinda não é isolado. A onda de inquisição de grupos neo-pentencostais contra religiões de matriz africana tem crescido no estado de Pernambuco. No primeiro semestre deste ano, foram registradas a invasão e a destruição de sete terreiros de religião de matriz africana no agreste pernambucano. O estopim do acirramento e perseguição aos cultos de matriz africana se deu após o assassinato de uma criança de nove anos de idade, degolada na cidade Brejo da Madre de Deus, também localizada na região do agreste. Logo após a descoberta do cadáver, a polícia veio a público e descreveu o crime como sendo fruto de um “ritual de despacho”. Daí pra frente, programas locais de rádio e TV, policialescos e proselitistas, passaram a insuflar o ódio contra as religiões de matriz africana.

“A mídia não separou o joio do trigo ao associar um crime de uma religiosidade que não tem nada a ver. Essa associação feita pelos programas de televisão policialescos foi só o estopim para as agressões. Mas a gente sabe que os pastores na TV aberta ocupam a casa das pessoas cotidianamente pregando essa intolerância”, afirma mãe Beth de Oxum, yalorixá do Ilê Axé Oxum Karêe, membro da Comissão Nacional de Povos Tradicionais de Terreiro.

Com o aumento do número de ameaças e agressões, os povos tradicionais de terreiro, integrantes da jurema sagrada, do candomblé, da umbanda, do terecô, do batuque, do tambor de Mina Jeje e Nagô, do xangô pernambucano, da kimbanda, rezadeiras, oradores do Nordeste, catimbozeiros e pajés sentiram-se obrigados a informar por meio de nota pública que não praticam sacrifícios humanos em suas liturgias e rituais. “Nossas teologias não concebem a morte humana como caminho para alcançar qualquer benefício na vida e desconhecemos qualquer ritual pertinente a esta prática condenável. Expugnamos completamente estes atos absurdos de assassinato em nome de qualquer deus”, afirmaram em nota.

Em agosto, o pedido de proteção aos terreiros feito por representantes da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Defesa Social e do Ministério Público de Pernambuco foi atendido pela Polícia Militar, que destacou agentes para cuidar destes casos.

Tortura
Outro caso recente que revoltou as comunidades de terreiro ocorreu no final de 2010, quando Bernadete Souza Ferreira dos Santos, yalorixá e coordenadora de educação do assentamento Dom Helder Câmara, em Ilhéus, Sul da Bahia, de 42 anos, foi torturada por policiais militares. Enquanto recebia um Orixá, yalorixá foi puxada pelos cabelos e jogada em cima de um formigueiro. Os polícias pisaram no seu pescoço e disseram: ‘só assim para o demônio sair’. Depois de uma série de torturas, Bernadete foi colocada em uma cela reservada para homens. O caso de Bernadete ainda espera por julgamento.

Veja os vídeos abaixo:
 
 
 
 
 
Intolerância religiosa gera revolta 
 
 
 
 
 
 
 

Comentários

  1. Não vejo muita diferença entre os gruos neo-pentecostais (que agridem membros de religiões de matrizes africanas) e os neo-nazistas (que agridem e até matam homossexuais). Eintein estava certo quando disse que somente duas coisas eram infinitas: o universo e a imbessilidade humana sendo que a primeira ele ainda não tinha certeza.

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  2. As igrejas evangelicas em muito se assemelham as islamicas fundamentalistas do Oriente Médio ao preconceito e perseguição a minorias como aos homosexuais, as minorias religiosas e submetem a mulher a mais cruel submissão tudo justificado pelo "livro sagrado". Lá como aqui, a religião se infiltrou na política contaminando ambas. Lá como aqui, existe um projeto de domínio dos meios de comunicação, da cultura e da política pela religião. É importante saber o que acontece lá pois o Brasil evangélico caminha para ser um Irã ou um Afeganistão, onde talibans ditam o comportamento das pessoas, das mulheres e das minorias. É a negação pura da liberdade !

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