LUIZ CARLOS PRESTES: A BANALIZAÇÃO DA IMAGEM DE UM REVOLUCIONÁRIO PELOS GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÃO
LUIZ CARLOS PRESTES: A BANALIZAÇÃO DA IMAGEM DE UM REVOLUCIONÁRIO PELOS GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Por Anita Leocadia Prestes*
(Artigo publicado em “Brasil de Fato” de 12 a 18/01/2012, edição 463)
Fonte: Prestes A Ressurgir
Já se passaram mais de 20 anos do
desaparecimento de Luiz Carlos Prestes. Tendo sido sempre coerente consigo mesmo
e com os ideais revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar
diante de interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos
donos do poder, que se esforçaram por criar uma História Oficial deturpadora
tanto de sua trajetória política quanto da história brasileira
contemporânea.
Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a
incomodar os donos do poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas
atitudes não deixarem de serem atacadas e/ou deturpadas, com insistência
aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do passado,
que não mais está disputando qualquer espaço político. Num país em que
praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do poder sempre
tiveram força suficiente para impedir que essa memória histórica fosse
cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante,
desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de dificultar
às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens como Luiz Carlos
Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os jovens de hoje.
Atualmente tornou-se difícil e pouco
convincente recorrer aos antigos expedientes para satanizar os comunistas:
acusá-los de “comer criancinhas assadas na brasa”, de defender a “coletivização
das mulheres”, de renegar a família, de desrespeitar as freiras, etc. etc. Hoje
os expedientes são outros, mais de acordo com os novos tempos. No caso de
Prestes - o mais conhecido e o mais respeitado comunista brasileiro -, por
tantos anos caluniado ou silenciado, uma nova tática de
desmoralização foi adotada pelos grandes meios de comunicação, comprometidos com
os interesses das classes dominantes. Na impossibilidade de questionar sua
reconhecida honestidade, assim como sua fidelidade aos princípios
revolucionários por que sempre pautou sua existência, o novo expediente consiste
na banalização de sua imagem.
Procura-se desviar a atenção do público do
legado político e revolucionário de Luiz Carlos Prestes, chamando a atenção para
aspectos de sua vida privada, tentando apresentá-lo apenas como um homem
comum e inofensivo, portanto, para os poderosos deste país. Da mesma
maneira do que se passou há alguns anos atrás, com a ampla divulgação do filme
“O Velho” – que apresentava Prestes como um comunista fracassado e dedicado a
cultivar rosas -, agora a Revista de História da Biblioteca Nacional
presta sua contribuição ao esforço de banalização da imagem de Prestes pelos
grandes meios de comunicação. Reproduz na capa de sua edição de janeiro de 2012,
mês do aniversário natalício de Prestes, foto sua tirada em uma praia, com
trajes de banho. Para isso, contou com a lamentável colaboração da viúva do
personagem retratado, num flagrante desrespeito à sua vontade e à sua memória.
Todos que conviveram com Prestes sabem que ele não admitia confundir sua vida
privada com suas atividades públicas e jamais concordaria com a publicação de
semelhante foto na imprensa. Prestes era um homem sóbrio, que detestava qualquer
gesto de exibicionismo, qualquer atitude na vida privada que pudesse vir a
prejudicar sua atuação como dirigente comunista e revolucionário.
Frente à nova tática dos grandes meios de
comunicação, voltados hoje para o expediente da banalização da imagem de
revolucionários como Prestes e Guevara – cuja imagem vem sendo mercantilizada
pelos donos do capital -, é necessário que todos aqueles, homens e mulheres,
comprometidos com a luta pelo socialismo em nossa terra, reforcem a vigilância
de classe e procurem contribuir para que o legado revolucionário desses grandes
lutadores se torne acessível aos jovens de hoje, aos futuros combatentes de
amanhã.
*Anita Leocadia Prestes é professora do
Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do
Instituto Luiz Carlos Prestes.
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