Fugir para prosseguir a luta

Fugir para prosseguir a luta
Por José Casanova

Fonte: Boletim URAP nº 133




São muitas as razões para saudarmos estas " 12 Fugas das Prisões de Salazar " que o Jaime Serra organizou e as edições Avante publicaram.



Desde logo porque estes relatos - vivos, reais,mostrando-nos uma relevante faceta da resistência antifascista - constituem um valioso contributo para o combate à campanha de branqueamento e negação do fascismo que está a ser levada a cabo pelos historiadores do sistema.

 
 


Neste Livro confirmamos que, ao contrário do que propagam esses mercenários da historiografia, o fascismo foi uma realidade: uma realidade que oprimiu e reprimiu Portugal e os portugueses durante quase cinco décadas, recorrendo aos mais brutais e desumanos métodos e práticas; uma realidade à qual o povo português opôs uma corajosa resistência, à custa de perseguições, de prisões, de torturas, de assassinatos - e, se quisermos ser rigorosos, há que dizer que os militantes comunistas ocuparam sempre a primeira fila dessa resistência; enfim, uma realidade sobre a qual, como disse o poeta, " é preciso avisar toda a gente/ dar notícia/ informar/ prevenir "....para que o fascismo nunca mais.





Lendo este livro, acompanhamos a par e passo todo o processo de preparação de 12 fugas dos cárceres fascistas, o engenho e a arte postos na elaboração de cada uma delas, as perspectivas positivas e as negativas que iam surgindo no decorrer do processo, a ousadia e a coragem indispensáveis ao êxito de cada empreendimento.



Nuns casos com grande espetacularidade (a fuga de Caxias, no carro blindado de Salazar, é disso exemplo); noutros casos com audaciosas manobras preparadas e executadas no máximo segredo (recorde-se a fuga de Peniche); noutros casos assentes essencialmente na criatividade e na coragem individuais ( como foi a fuga de Jaime Serra, de Caxias), cada fuga constituia um verdadeiro ato de resistência antifascista.



Várias houve que fracassaram e de três dela nos dá conta Jaime Serra - a confirmar que fugir de qualquer das super-vigiadas prisões fascistas não era tarefa fácil.



No prefácio, Jerônimo de Sousa refere a dada altura, muito justamente, o fato de Jaime Serra estar "excepcionalmente vocacionado para nos falar de tudo o que, neste caso, importa falar : o regime fascista com o seu caráter terrorista, opressor e explorador; a resistência dos que se lhe opuseram ao longo de meio século: pela democracia, pela liberdade, pelos direitos e interesses dos trabalhadores e do povo - e a coragem e a determinação que tal postura exigia" .



Com efeito, ningém reuniria melhores condições para nos contar estas fugas do que Jaime Serra: destacado dirigente do Partido Comunista Português, preso por 4 vezes e, em todas elas, vencendo heroicamente as autênticas provas de fogo que eram os interrogatórios da PIDE; os julgamentos nos tribunais fascistas; e as severas condições prisionais no cumprimento da pena - ele evadiu-se por três vezes dos cárceres fascistas, reocupando sempre o seu lugar nas fileiras de luta do seu Partido.



Esta era, aliás, uma característica de todos os militantes comunistas que fugiam da prisão: fugiam para retomar a luta, sabendo que muito possivelmente poderiam voltar a ser presos e que , se assim fosse, voltariam os interrogatórios pidescos, as torturas, os julgamentos com juízes fascistas... e também, como por vezes, aconteceu, novas fugas.... Mas, mesmo assim, e sabendo tudo isso, fugiam....



E com essas fugas escreviam, sabendo-o ou não, algumas das mais belas páginas da história da resistência ao fascismo em Portugal.





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