Irlanda nacionaliza banco falido


Capital insaciável


O governo irlandês anunciou dia 22 a nacionalização do Allied Irish Bank (AIB), um dos maiores bancos do país, mediante a injecção do montante astronómico de 3700 milhões de euros.


O AIB chegou a ser a maior instituição bancária do país com uma capitalização em bolsa de 21 mil milhões de euros. Porém, desde o rebentamento da bolha do crédito, o banco perdeu 98 por cento do seu valor, encontrando-se tecnicamente falido.

Apesar das sucessivas ajudas estatais que tem recebido, no dia da nacionalização o AIB valia em bolsa cerca de 350 milhões de euros.

Este foi o quarto banco nacionalizado pelo governo de Dublin desde 2008, ano em que tomou o controlo das instituições financeiras Anglo Irish Bank, Irish Nationwide Building Society e EBS Building Society. Para além disso, o Estado foi obrigado a assumir a responsabilidade por 36 por cento do capital do Bank of Irleland. Estas operações arrastaram o país para a bancarrota, colocando-o nas mãos do Fundo Monetário Internacional e dos organismos da União Europeia.

«Sem este investimento, o Allied Irish Bank não existiria em 1 de Janeiro», explicou o ministro da Finanças, Brian Lenihan, após ordenar a injecção de capital que elevou a participação do Estado de 19 por cento para 92 por cento.

Mas onde foi o governo irlandês buscar os 3700 milhões de euros para salvar o AIB? Mais uma vez o dinheiro veio directamente dos bolsos do povo, isto é, do Fundo de Reserva Nacional de Pensões, constituído com as suas contribuições.

Descrédito político

A catastrófica situação económico-financeira, que se traduz em enormes sacrifícios exigidos ao povo irlandês, está a ter também profundos reflexos no quadro político do país.

Segundo uma sondagem divulgada pelo diário Irish Times (18.12), o Fianna Fáil, partido que tem dominado a política irlandesa desde 1932 com poucas interrupções, está em queda livre podendo passar para terceira força (17%). Pior só mesmo a imagem pública do seu governo, liderado por Brian Cowen, cuja actuação é avaliada positivamente por apenas oito por cento dos inquiridos, contra 90 por cento que a reprovam.

Mas as dificuldades do maior partido irlandês parecem não assegurar a alternância pelo Fine Gael, o seu tradicional adversário e único partido que até hoje o substituiu no governo.

Se bem que as intenções de voto assegurem a vitória a esta formação com 30 por cento, os principais beneficiários do descontentamento popular são os trabalhistas (25%) e o Sinn Féin, que poderá alcançar pela primeira vez os 15 por cento, estando perto de poder disputar a terceira posição com o actual partido governante.

Por seu lado, os Verdes, pagando o preço pelo apoio às políticas do Fianna Fáil, não ultrapassam os dois por cento, o que poderá pôr em perigo a sua representação parlamentar.

Em termos de popularidade, o líder dos trabalhistas, Eamon Gilmore, lidera com 44 por cento, seguindo-se o presidente do Sinn Féin, Gerry Adams (28%), e o do Fine Gael, Enda Kenny (25%). No fundo da tabela estão o primeiro-ministro, Brian Cowen (14%) e o seu aliado verde, John Gormley, com 13 por cento.

Perante tais resultados alguns observadores admitem que das eleições legislativas antecipadas, que terão lugar no início do ano, poderá resultar uma coligação entre o centro-direita, Fine Gael, e os trabalhistas. Outros arriscam a possibilidade de um governo inédito formado por trabalhistas e o Sinn Féin.

Texto original no Jornal Avante- Portugal



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