De mal a pior, o País e a Europa apodrecem.......A hidra das mil cabeças


A hidra das mil cabeças…
por Jorge Messias

"Uma das chaves deste complexo feixe de problemas é, sem dúvida, a agricultura. Trata-se de um sector da economia que articula áreas estratégicas tão importantes como as das novas tecnologias ou das químicas orgânicas, distribuição e armazenamento do produto, financiamento, comercialização, etc. Tudo aquilo que tem a ver com o tratamento de um aspecto delicado: soluções para a crise que excluam definitivamente qualquer tentativa de Reforma Agrária e mantenham aberta a via do Capitalismo Agrário, a partir da consagração do latifúndio e da exploração intensiva da terra."
 
«A crise alimentar flagela o mundo. Trata-se de uma crise silenciosa, sem grandes títulos, que não interessa nem ao Banco Central Europeu, nem ao Fundo Monetário Internacional, nem à Comissão Europeia, mas afecta 870 milhões de pessoas que passam fome. A crise económica está intimamente ligada à crise alimentar. Os mesmos que nos conduziram à crise das hipotecas são os que agora especulam com as matérias-primas alimentares (arroz, milho, trigo, soja), gerando um aumento em flecha dos seus preços» (Esther Vivas, «Os jogos da Fome»).
 
«Em 2005, havia na América Latina 213 milhões de pobres e 88 milhões de pedintes ou seja respectivamente, 40,6 % e 16,8% da população, o que, tudo somado, corresponde a que o mais legítimo produto do capitalismo na América Latina – a miséria se traduza num imenso grupo de 301 milhões de miseráveis, isto é, em 57,4% dos habitantes da região» (Merril Linch & Co. e Cepal, «Relatório da Riqueza Mundial»).
 
«Na Lei Geral da Acumulação Capitalista, Marx refere que quanto maiores forem numa sociedade e num só pólo o produto social, a capacidade de gerar riqueza e a produtividade do trabalho, maiores serão, no pólo oposto, os índices de fome, pobreza e desemprego. Isto acontece porque, nas sociedades capitalistas, o objectivo da produção não consiste na satisfação das necessidades humanas mas na obtenção do lucro» (Prof. Águida Santos Almeida, «Projecto de Globalização e Crise na Economia Brasileira»).
 
 
Vamos de mal a pior e a um ritmo que só daqui a muito tempo poderemos medir. O País apodrece e a Europa também. Se não há remédio mágico que possa acudir aos problemas europeus, um a um, é bom que se ponha, desde já, a tónica nesta evidência: a crise não é de um ou outro Estado, mas do sistema político. É a crise geral do capitalismo como sistema de poder.

Perante tempos difíceis, as estruturas capitalistas revelam fragilidades esclarecedoras. Demonstram não serem capazes de ultrapassar dificuldades e, simultaneamente, de irem em frente com o seu projecto de Nova Ordem Mundial. O Vaticano – parte integrante fundamental da reforma neoliberal do sistema – observa alarmado o que se está a passar. Passo a passo, tudo vacila e ameaça desabar. É preciso que do céu caia um salvador. Papel que, naturalmente, caberá à Igreja desempenhar.

Uma das chaves deste complexo feixe de problemas é, sem dúvida, a agricultura. Trata-se de um sector da economia que articula áreas estratégicas tão importantes como as das novas tecnologias ou das químicas orgânicas, distribuição e armazenamento do produto, financiamento, comercialização, etc. Tudo aquilo que tem a ver com o tratamento de um aspecto delicado: soluções para a crise que excluam definitivamente qualquer tentativa de Reforma Agrária e mantenham aberta a via do Capitalismo Agrário, a partir da consagração do latifúndio e da exploração intensiva da terra.


Paradoxalmente, a base comercial deste plano assenta numa eventual massa consumidora de produtos alimentares constituída por pobres, famintos, velhos e desempregados que o capitalismo permanentemente origina, através de um complicado sistema de financiamento do Estado aos bancos, às instituições sociais não-lucrativas, a associações patronais, a fundações pré-seleccionadas, etc. O crédito seria garantido pelos bancos com o aval das estruturas financeiras mundiais.

A Igreja do Vaticano envolve-se nesta intriga por diferentes razões. Consideremos apenas a principal.

Resumidamente (e passando ao lado de questões determinantes ligadas com as interdependências da Santa Sé e dos interesses monopolistas presentes na América Latina) a Igreja católica continua a ser a maior ou uma das maiores proprietárias de terras produtivas nesse continente. Mas o Papa e a Cúria estão conscientes de que não continuamos no século XVI. A questão da posse da terra continua a identificar-se, mesmo entre o povo católico (70% ou 80% dos latino-americanos) com a necessidade de concretização de uma Reforma Agrária. A Revolução espreita a cada esquina. Mas o Vaticano é sábio e experiente. Se a legendária hidra perder uma cabeça, outra lhe irá nascer...

Por isso, talvez, com o agronegócio, a Igreja promete aos explorados o paraíso na terra. Talvez, por isso, tenha imposto um novo papa latino-americano. Talvez que tudo seja indício de que a globalização está de malas aviadas para instalar governo no Brasil. Talvez, quem sabe, o capitalismo e o Vaticano uma vez mais se recomponham das suas mazelas!...


 
 
 
Fonte: Avante em www.avante.pt
 
 
 
 
 

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