Sobre o recente encontro do PC Português com o «Bloco de Esquerda»
“Política de alianças para os interesses do povo e não para a perpetuação do poder dos monopólios”
membro da CP do CC do KKE
Além disto, a página web do jornal “Esquerda”, do «Bloco», refere que:
por Giorgos Marinos,
membro da CP do CC do KKE
A troca de pontos de vista relativos a questões político-ideológicas – entre as quais a política de alianças ocupa um importante lugar – é uma ferramenta crucial e gostaríamos de partilhar com os PC as nossas preocupações, surgidas do recente encontro realizado em Lisboa entre o Partido Comunista Português e o «Bloco de Esquerda», assim como a utilização deste encontro pelas forças oportunistas na Grécia.
Os desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional, a estratégia e tática dos Partidos Comunistas (PC), a política de alianças que praticam, a sua posição relativamente aos partidos burgueses, à social-democracia e ao oportunismo, às organizações imperialistas e aos temas básicos da luta de classes são uma fonte de experiência que estamos obrigados a examinar, analisar, rejeitar ou utilizar, no sentido de reforçar a seguinte orientação básica:
Que os partidos comunistas se fortaleçam, se tornem mais capazes de cumprir as suas obrigações revolucionárias como vanguarda da classe operária, o que devem adquirir na prática, através da confrontação de classe, no esforço de fortalecer a unidade de classe da classe operária e a aliança social com os setores populares oprimidos, na luta pelo derrube do capitalismo, pelo poder da classe operária, pelo socialismo.
A troca de pontos de vista relativos a questões político-ideológicas – entre as quais a política de alianças ocupa um importante lugar – é uma ferramenta crucial e gostaríamos de partilhar com os PC as nossas preocupações, surgidas do recente encontro realizado em Lisboa entre o Partido Comunista Português e o «Bloco de Esquerda», assim como a utilização deste encontro pelas forças oportunistas na Grécia. No encontro entre os dois partidos, de acordo com a declaração do PCP, houve «uma troca de opiniões e pontos de vista quanto à avaliação de cada um dos partidos sobre a situação económica e social do país (…) Uma avaliação que permitiu identificar aspectos onde há apreciações convergentes. Convergências de pontos de vista que não iludem ao mesmo tempo diferenças de opinião e até posicionamentos divergentes sobre matérias várias, em si mesmo um facto natural em partidos com percursos e projectos distintos».
Na mesma declaração refere-se que «Neste quadro, em que cada um dos partidos se apresentará às próximas eleições com as suas propostas e projecto próprio, o PCP com a firme convicção e confiança da importância do reforço da CDU para impor a ruptura com a política de direita e para abrir caminho a uma política patriótica e de esquerda, prosseguirá e ampliará a sua intervenção política e social. Facto que não obsta a que convirjam, como tem acontecido designadamente no plano parlamentar, dando expressão à defesa dos interesses nacionais, seja pela rejeição de políticas e medidas gravosas, seja pela aprovação de outras que promovam o crescimento económico, a justiça social e a defesa de direitos».
Além disto, a página web do jornal “Esquerda”, do «Bloco», refere que:
“PCP e Bloco convergem em saída política de esquerda. Depois de uma reunião de cerca de uma hora, PCP e Bloco de Esquerda anunciam convergência de posições contra intervenção do FMI e por uma política de esquerda contra a bancarrota. Diálogo vai prosseguir».
Estes são os factos. E, baseando-se neles, o SYN/SYRIZA e os restantes grupos oportunistas da Grécia procuram explorar esta situação e recuperar a sua posição sobre a «unidade da esquerda».
Honestamente, podemos dizer que esta é a natureza do oportunismo.
A política sem princípios, que tenta transferir mecanicamente para a Grécia um acontecimento que teve lugar em Portugal para apoiar as suas próprias opções. Isto não é, contudo, suficiente. A questão é mais complexa. Diz respeito à tentativa de ganhar as forças populares para uma política de alianças em falência, tendo como base a estratégia social-democrata do SYN e do resto das forças oportunistas, que adotam e promovem propostas de gestão semelhantes às dos partidos burgueses, sobre a crise e a saída da mesma, a dívida e o défice.
Esta é a razão porque é positivo discutir este tema.
O KKE estabeleceu relações duradoiras e de camaradagem com o PCP, aprecia a sua importante contribuição para o desenvolvimento da luta de classes em Portugal, na defesa dos interesses da classe operária e popular. Aprecia o seu apoio às organizações anti-imperialistas, a sua contribuição para fazer frente ao anticomunismo e às grandes dificuldades criadas pela contra-revolução e o derrube do socialismo.
O nosso partido, como parte do movimento comunista internacional, estuda cuidadosamente as posições e decisões dos PC e toma posição sobre as questões centrais, consoante as várias opções ajudem ou não a luta de classes, fortaleçam ou debilitem a luta geral contra o imperialismo e os monopólios e ajudem ou não as forças populares a libertarem-se das ideologias e políticas burguesas e oportunistas.
Ao mesmo tempo, o KKE informa regularmente os PC sobre a sua própria ação e experiências.
É a partir desta posição que examinamos o encontro entre o PCP e o «Bloco» e entendemos necessário expressar resumidamente a experiência que o nosso partido adquiriu relativamente à posição do oportunismo na Grécia, que historicamente empregou táticas destruidoras e liquidacionistas, através de formas de cooperação tais como a «Esquerda Democrática Unida» (EDA), nos anos 50 e 60, a «Esquerda Unida», em 1974, e o «Synaspismos» («Aliança» em grego), em finais dos anos 80.
A matriz da sua postura é a da sua assimilação nas políticas e ideologias burguesas, a negação dos princípios que caracterizam o partido leninista de novo tipo, a abolição da independência do PC e a sua dissolução.
Esta experiência é muito útil para estudar o papel que o «Bloco de Esquerda» desempenha em Portugal.
Trata-se de um partido oportunista, que se forneceu de quadros que abandonaram o PCP no passado. Trata-se de um partido com uma estratégia social-democrata, com teses que apoiam o poder dos monopólios, a propriedade capitalista dos meios de produção, a União Europeia, um partido que apoiou durante muito tempo as políticas antipopulares do governo do socialista Sócrates.
Este partido é ativo no seio desse conhecido construtor da UE, o Partido da Esquerda Europeia (PEE), ocupa o cargo de vice-presidente na sua direção, junto com o SYN participa na campanha anticomunista, com a intenção de socialdemocratizar os PC, apoia as decisões antipopulares para fazer retroceder os direitos da classe operária e popular e apoiou recentemente, com o seu voto, a decisão do Parlamento Europeu para a participação da UE na guerra imperialista contra a Líbia.
É óbvio que o seu caráter não se altera pelo facto de ter havido um debate com o PCP e de, possivelmente, se ter criado uma base de cooperação entre eles. O seu caráter socialdemocrata não se alterou, as suas atividades prejudicam o movimento operário e popular. E, independentemente das intenções do PCP, o «Bloco» utilizará essa cooperação para fomentar a confusão, para corromper consciências, para rebaixar os partidos comunistas ou as forças anti-imperialistas.
O SYN saudou o encontro do PCP com o «Bloco» desde o primeiro momento. O SYN procura aproveitar de forma oportunista os acontecimentos que ocorrem a nível europeu ou internacional para promover as suas posições e pôr em andamento os seus conhecidos jogos de engano.
Fez o mesmo com Jospin, em França. Saudou a cooperação do Partido Socialista com o Partido Comunista Francês e outras formações oportunistas. Falou de um «raio de esperança» e, mais tarde, quando esta solução provocou intensos protestos populares e chegou à bancarrota política, o SYN tentou fazer marcha-atrás utilizando um montão de desculpas.
Fez o mesmo em Itália, quando saudou o “centro-esquerda”, a «coligação oliveira», falando de um «ramo de esperança» na Europa. E quando o povo trabalhador condenou as políticas antipopulares da «oliveira», tratou de justificar o injustificável. É claro que a lógica da «unidade de esquerda», a lógica das denominadas «frentes antineoliberais» recebeu um golpe, mas o oportunismo insiste porque a sua missão é manipular as forças populares, impedir a radicalização da consciência do povo: uma radicalização que ocorre de acordo com a utilização do conhecimento e experiência da luta de classes.
O KKE, que avalia os acontecimentos segundo um critério de classe a partir do ponto de vista dos interesses operários e populares e alerta para as armadilhas que as forças da submissão colocam ao povo, diz claramente à classe operária, aos sectores populares e à juventude que:
Não confiem de nenhuma maneira no SYN/SYRIZA e nas outras forças do oportunismo. A sua estratégia serve a perpetuação do capitalismo, do sistema explorador, independentemente das suas manobras verbais para confundir. A principal orientação que caracteriza a sua política é a manutenção do poder dos monopólios, da propriedade capitalista dos meios de produção e do desenvolvimento na base dos lucros.
Um elemento importante desta estratégia é o sistemático anticomunismo que proporciona um álibi ao anticomunismo burguês. Este elemento marcou a sua ação desde 1990 até hoje.
As posições e práticas do SYN, que apoiam a UE e a estratégia de reestruturação capitalista, que ataca e acaba com os direitos operários e populares, expressam a sua orientação estratégica. Esta orientação é evidente no esforço para fomentar ilusões sobre o papel do governo do PASOK: troçam do povo, ao argumentarem que o que esteve mal foi o facto de o PASOK ter abandonado o seu programa, ainda que seja sobejamente conhecido que este programa implicava um ataque antipopular em todos os campos.
Esta orientação leva a uma posição hostil para com o PAME e outras organizações militantes, ao apoio aos empresários e ao sindicalismo dirigido pelo governo, à maioria de GSEE e ADEDY, que sempre procuraram, por todos os meios, a corrosão e o desarmamento do movimento operário, tendo em vista a sua assimilação nos objetivos do capital.
As manobras oportunistas não terão êxito. Os «pecados» políticos do SYN não se branqueiam com o esforço de utilização do debate entre o PCP e o Bloco de Esquerda.
Hoje, quando a crise capitalista mostra claramente que o sistema explorador excedeu os seus limites históricos; hoje, quando a efetividade da luta de classes está obviamente ligada à solução do problema do poder, o SYN/SYRIZA e as restantes formações estão a enganar o povo com causas que dizem respeito à renegociação da dívida, o que significa novos impostos, duras condições e novos memorandos do governo-UE-FMI com imposições para o povo.
Estão a enganar o povo com a utopia de uma justa redistribuição da riqueza sob as condições do poder dos monopólios e de outras causas semelhantes que também são amplamente utilizadas pelos partidos burgueses, pelos economistas burgueses e pelos apologistas do sistema.
As constantes mudanças de posições e exigências com o objetivo de confundir demonstram a inconsistência e a falsidade dos partidos e grupos oportunistas.
O nosso povo deve ser severo e entender que a política de alianças do SYN e os seus apelos oportunistas à «unidade de esquerda» visam enfraquecer a unidade do povo numa base anti-imperialista e antimonopolista e numa orientação anticapitalista.
O seu objetivo é encontrar cúmplices para a perpetuação do poder dos monopólios. Ao mesmo tempo, eles revelam a miséria que caracteriza a empresa do SYRIZA, as controvérsias e os becos sem saída da Babel oportunista.
O KKE trata a política de alianças com um grande sentido de responsabilidade, como uma ferramenta de importância estratégica que fortalece a luta do movimento operário e popular e a concentração de forças contra a plutocracia, contra as políticas antipopulares e as uniões imperialistas.
O nosso partido excluiu a cooperação com os partidos e grupos do oportunismo que, conscientemente, procuravam dissolver o KKE e celebravam o derrube do socialismo, fomentando a submissão e contaminando a consciência popular.
Está excluída a união ocasional de dirigentes e insistimos na aliança de forças sociopolíticas cujo objectivo seja o de lutar contra a estratégia dos monopólios e do imperialismo, tendo em conta que a aliança não constitui um assunto exclusivo do KKE, mas diz respeito a uma ampla gama de forças que se mantêm presas a construções ideológicas burguesas ou hesitam em dar o grande passo.
O KKE insiste na acção conjunta e coordenada da classe operária, dos pequenos e médios camponeses e dos independentes e na relevância destas forças sociais de associações militantes com orientações de classe, que desempenham um papel dirigente na luta do nosso povo, em relação a todos os seus problemas.
Estas associações constituem o núcleo central do esforço para construir a frente de luta antimonopolista e anti-imperialista, que se bate pelo poder e pela economia populares, concretamente, pelo socialismo, que é uma condição prévia para a abolição da exploração, para a garantia do direito ao trabalho para todos e para a satisfação das necessidades actuais do povo.
Esta é a resposta que os próprios acontecimentos trouxeram para a ordem do dia. Porque a luta respeitante aos graves problemas das famílias operárias, contra as consequências da crise, contra o memorando do governo-UE-FMI e as cruéis medidas antipopulares e pelos direitos soberanos adquire força até se converter numa luta contra o poder dos monopólios e pelo derrube da barbárie capitalista.
Publicado no sítio Pelo Socialismo
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