Tragédia carioca, mídia e EUA - Os tiros na Escola de Realengo

Tragédia carioca, mídia e EUA
Por Charles Moreira charlesmor

Como muitos cariocas estou abatido com o recente episódio onde crianças foram assassinadas friamente por um louco. Não quero, ao menos agora, fazer juízos sobre o fato, uma enorme tragédia. Mas, entre tantos aspectos da questão, um me incomodou e ainda incomoda: a cobertura da mídia burguesa em seu showrnalismo. E pior, na falta de informação inicial, necessária não a informar, mas a preencher páginas e tempo na TV e Rádio para poderem vender seus anúncios, logo levantaram falsas hipóteses. A primeira, a de que se tratava de um ataque terrorista e que o insano assassino era simpático ou praticante de religião islâmica. Inverdade que obrigou até a organização islâmica do Rio de Janeiro a divulgar carta negando.

Mas há algo a mais de preocupante. Ao que parece, a mídia tem uma relação muito obediente aos preceitos do governo americano, permanentemente interessado em por na conta dos muçulmanos tudo o que for possivel. Acompanhem um telegrama da embaixada americana em Brasília, divulgado pelo Wikileaks, e o que saiu na mídia logo após o fato:



Publicado em:


http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/04/07/escandalo-em-realego-embaixada-americana-pauta-o-pig/

Telegrama de 2009 da embaixada dos EUA no Brasil e vazado pelo WikiLeaks e as manchetes de alguns dos principais veículos da velha mídia brasileira. Veja só que coincidência:

“WikiLeaks: a difamação de religiões como estratégia diplomática

Enviado por luisnassif, dom, 03/04/2011 – 19:07
Do Vila Vudu


Estratégia dos EUA para engajar o Brasil na difamação de religiões


Viewing cable 09BRASILIA1435http://213.251.145.96/cable/2009/12/09BRASILIA1435.html

CONFIDENTIAL – Embassy Brasilia


Enxerto do item CONFIDENCIAL do telegrama 09BRASILIA1435


A íntegra do telegrama não está disponível.


Tradução de trabalho, não oficial, para finalidades didáticas.






ASSUNTO:
Estratégia para Engajar o Brasil na “Difamação de Religiões”[1]


1. (C) RESUMO: A posição do Brasil na questão da “difamação de religiões” na comissão de Direitos Humanos da ONU reflete a conciliação entre as objeções do país à ideia (objeções baseadas num conceito do que sejam Direitos Humanos) e o desejo de não antagonizar os países da Organisation of the Islamic Conference (OIC) com os quais tenta construir relações e que o Brasil vê como importante conjunto de votos a favor de o Brasil conseguir assento permanente no CSONU. À luz da argumentação a favor da abstenção do Brasil, proponho abordagem de quatro braços, envolvendo aproximação com os altos escalões do Ministério de Relações Exteriores; uma visita a Brasília, para pesquisar meios de trabalhar com o governo do Brasil, nessa e noutras questões de direitos humanos; outros governos que possam conversar com o governo do Brasil; e uma campanha mais intensa pela mídia e mobilizando comunidades religiosas a favor de não se punir quem difame religiões . FIM DO RESUMO.


(…)


Aumentar a atividade pela mídia e o alcance das comunidades religiosas parceiras: Até agora, nenhum grupo religioso no Brasil assumiu a defesa da difamação de religiões. Mas o Brasil é sociedade multirreligiosa e multiétnica, que valoriza a liberdade de religião. Um esforço para difundir a consciência sobre os danos que podem advir de se proibir a difamação das religiões pode render bons dividendos. Grandes veículos de imprensa, como O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja, podem dedicar-se a informar sobre os riscos que podem advir de punir-se quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país.


Essa embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados. Visitas ao Brasil, de altos funcionários do governo dos EUA seriam excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira. Outra vez, especialistas e funcionários de outros governos e países que apóiem nossa posição a favor de não se punir quem difame religiões garantiriam importante ímpeto aos nossos esforços.


Essa campanha também deve ser orientada às comunidades religiosas que parecem ter influência sobre o governo do Brasil, quando se opuseram à visita ao Brasil do presidente Ahmadinejad do Irã, em novembro. Particularmente os Bahab e a comunidade judaica, expandidos para incluir católicos e evangélicos e até grupos indígenas e muçulmanos moderados interessados em proteger quem difame religiões [sic]. [assina] KUBISKE


[1] Há matéria da Reuters sobre o assunto, de seis meses antes desse telegrama, em http://www.reuters.com/article/2009/03/26/us-religion-defamation-idUSTRE52P60220090326 , em que se lê: “Um fórum da ONU aprovou ontem resolução que condena a “difamação de religiões” como violação de direitos humanos, apesar das muitas preocupações de que a condenação possa ajudar a defesa da livre expressão em países muçulmanos (sic)” [NTs].

1 – Folha de São Paulo:
“07/04/2011 – 10h53


Irmã de atirador diz que ele era ligado ao Islamismo e não saía muito de casa; ele deixou carta suicida
(…)”

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/04/07/irma-de-atirador-diz-que-ele-era-ligado-ao-islamismo-e-nao-saia-muito-de-casa-ele-deixou-carta-suicida.jhtm

2 – Jornal Extra das Organizações Globo:
“07/04/2011 às 11:24 Atualizado em 07/04/2011 às 11:37

Autor do massacre em escola de Realengo se interessava por assuntos ligados ao terrorismo

Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, identificado pela polícia como o autor do massacre na Escola Municipal Tasso de Silveira, em Realengo, estava com uma carta suicida, que falava sobre islamismo e terrorismo. O assunto interessava ao assassino, que estudou na escola.
(…)”
http://extra.globo.com/casos-de-policia/autor-do-massacre-em-escola-de-realengo-se-interessava-por-assuntos-ligados-ao-terrorismo-1525139.html



3 – Colunas Época/O Globo:
“Homem entra em escola e atira em alunos no Rio de Janeiro
10:53 AM, ABRIL 7, 2011
(…)


Segundo a Globo News, a polícia informou que a carta “tinha referências à religião muçulmana”. O site do jornal O Globo cita entrevista do comandante do 14º Batalhão da PM, Djalma Beltrame, à Band News, que afirmou que o conteúdo da carta teria “características fundamentalistas”. “Ele entrava na internet para ter acesso a coisas que não fazem parte do nosso povo. É um louco. Só uma pessoa alucinada poderia fazer isso com crianças”, disse.
(…)”
http://colunas.epoca.globo.com/falabrasil/2011/04/07/homem-entra-em-escola-e-atira-em-alunos-no-rio-de-janeiro/

4 – Jornal O Globo:
“Publicada em 07/04/2011 às 12h20m


MASSACRE NO COLÉGIO


Atirador que invadiu escola municipal em Realengo é identificado
“(…) Beltrame acrescentou, inclusive, que Wellington costumava entrar em sites de cunho fundamentalista.
(…)”
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/04/07/atirador-que-invadiu-escola-municipal-em-realengo-identificado-924179565.asp

5 – E o pastor Marco Feliciano, o mesmo que disse que africanos são homossexuais, tenta tirar proveito da tragédia:


“Profecia: Ataque nas escolas. Leia na integra:

http://www.marcofeliciano.com.br/site/?page=materia&MA_ID_MOD=1172
10 minutes ago via web
marcofeliciano – Pr. Marco Feliciano”

http://twitter.com/marcofeliciano/status/56012339455070209%20

O Mafarrico Vermelho

Comentários

  1. Pois é, nobre camarada.

    "A mídia não faz o louco, mas oferece o palco para seus delírios."

    Fanatismo midiático

    O sensacionalismo, e a tragédia explorada em forma de show pela imprensa, continua irresponsável no noticiário sobre a escola em Realengo, no Rio de Janeiro.

    Ontem, o programa Fantástico da TV Globo procurou "apimentar" a trama, requentando a hipótese do "terrorismo islâmico".

    Só que a TV estava cansada de saber que não tem qualquer conexão, pelo simples fato de que, se o psicótico fosse recrutado por organizações, o alvo seria algum endereço ligado à países que tenham tropas em guerra contra muçulmanos, e não a escola bem brasileira em que ele estudou.

    Hoje, o Jornal Nacional foi mais sóbrio no teste de hipótese, mas continua afoito em sensacionalizar o noticiário. Aliás, a polícia civil do Rio também deveria moderar o apetite da mídia, não fornecendo acesso precipitado à materiais de perícia, antes de uma melhor avaliação de como informar assuntos sensíveis, e do quanto tornar público uma informação ainda em investigação pode ajudar ou prejudicar.

    Com o psicótico morto, não podendo ser mais diagnosticado, é possível traçar algumas dezenas de perfis psicológicos com base em interpretações do comportamento e possibilidades, mas qualquer perfil poderia ser o certo ou todos eles errados. Por isso, há muita dose de "chute" em tudo que é dito por "especialistas" (os honestos são os que admitem isso).

    Mesmo os escritos deixados e já tornados públicos, dá a entender que o psicótico teve uma formação religiosa, mas encontrava-se isolado das religiões, fazendo uma interpretação deformada da realidade e da própria fé.

    A influência sobre ele não era mais de sacerdotes, nem das escrituras sagradas, onde não se encontram palavras como "Aeroporto", nem "Aviões", encontrados em seus escritos. Isso vinha do noticiário midiático que, aparentemente, despertava seus delírios.

    Antes da imprensa falar em fanatismo religioso, que tal falar em fanatismo midiático?

    É daí que vem o maior perigo de influenciar a loucura de outros loucos, que se perdem em sua insanidade na busca de fama através da destruição espetacular, irresistível aos canais de TV em busca de audiência.

    A mídia não faz o louco, mas oferece o palco para seus delírios.

    Quem precisa deitar no divã de psicólogos especialistas é a mídia, para ajustar a conduta de como noticiar os fatos sem despertar o instinto do espetáculo mórbido nos loucos, tão caro às vítimas.

    http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2011/04/fanatismo-midiatico.html

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O complexo militar industrial e a energia nuclear

Tortura nas prisões colombianas: sistematismo e impunidade revelam uma lógica de Estado

Campo de Concentração do Tarrafal - o Campo da Morte Lenta