Se passássemos por uma peneira os nomes dos que dominam os centros de decisão da actual pseudodemocracia portuguesa, veríamos como grande parte deles se encontram associados ao Opus Dei, à Maçonaria, aos grupos financeiros, aos off-shores ou mesmo aos tráficos mais mafiosos

Da missa cantada à paz das catacumbas

Por Jorge Messias



O povo a que pertencemos habita actualmente uma casa europeia em ruínas. Os construtores foram emudecendo desde que as primeiras telhas começaram a cair. Já quase não se ouvem as suas «lengas-lengas»: as graças pelos milagres da economia; os louvores à globalização do capital; o progresso e a retoma como factores da diminuição do fosso entre pobres e ricos, alcançados por magia pelos tecnocratas. Agora podemos compreender que a História evolui nos seus tempos próprios e não naqueles que nós próprios desejamos. Vivemos o fascismo, suspirámos por um «25 de Abril» democrático, pelo fim das guerras coloniais. Pareceu-nos então ter alcançado essas metas libertadoras.

Hoje, vê-se como nos precipitámos. A guerra continua a ser o único caminho aberto ao capitalismo para resolver os problemas das suas crises económicas. Nos países dominantes, é ela que destrói os concorrentes, aumenta o crescimento do produto e dilata as margens do lucro, embora à custa do sacrifício alheio. Veja-se o exemplo das presentes «guerras do petróleo», planeadas há muito pelos agressores ocidentais como alternativas a eventuais crises e atingindo o universo dos países socialmente pobres mas com subsolos ricos, desde o Médio Oriente à Líbia.

Nos países dominados nestas regiões, o capitalismo apenas precisa de manter as aparências da democracia: actos eleitorais e partidos legais. Quanto ao resto, na sombra, tudo fica na mesma. Tal como aconteceu entre nós nos tempos da ditadura maquilhada de Marcelo Caetano: propaganda do Estado, censura, polícia e cassetete. Tudo dirigido por três forças tutelares ocultas no anonimato: o grande capital, as sociedades secretas e a Igreja Católica.

A batalha está longe de ser vencida, por um lado ou pelo outro. O combate que se trava e «continua» faz parte de uma complexa luta de classes.


A luta de classes e o papel da Igreja


Quase logo a seguir ao 25 de Abril, os banqueiros e a direita directamente herdada de Salazar sentaram-se fraternalmente à mesa do banquete. Suspenderam ou envenenaram as nacionalizações. Reforçaram os laços de sujeição aos interesses estrangeiros. Passaram a praticar actos políticos de gestão baseados no crédito bancário e nas reprivatizações. Abriram as portas aos capitais estrangeiros, aos monopólios e às novas formas de penetração do liberalismo económico. Aderiram à moeda única. Assim, conduziram o País à ruína, de forma consciente.

As sociedades secretas conquistaram um «lugar ao Sol». Nunca se pode saber quem, na verdade, toma decisões. E se agora passássemos por uma peneira os nomes dos que dominam os centros de decisão da actual pseudodemocracia portuguesa, veríamos como grande parte deles se encontram associados ao Opus Dei, à Maçonaria, aos grupos financeiros, aos off-shores ou mesmo aos tráficos mais mafiosos. De resto, este facto não é segredo para ninguém. Vem à tona de água nos escândalos públicos que por aí brotam como cogumelos. Sobretudo quando os montantes envolvidos são gigantescos, como no caso dos off-shores, das fraudes bancárias, das armas, das drogas ou da prostituição.

Não tentem afirmar as forças calejadas no poder (tal como a Igreja) que nada sabem de tudo isto. De futuro, poucos cidadãos lhe darão crédito. Quando a opinião pública muda é sem controlo e repentinamente. Ao Vaticano já não basta trocar a voz de acordo com a direcção dos ventos: «missa cantada» quando o capitalismo prospera; e «silêncio das catacumbas» logo que se trata de confessar o descalabro e a desonestidade dos seus métodos.

Por enquanto, em Portugal, a ficção ainda comanda. Ora, isto só é possível porque, de momento, muitos portugueses apenas assistem ao «anúncio da crise» sem que esta ainda os tenha tocado directamente. Mas dentro de muito pouco tempo isso acontecerá. Então, o cinismo do provérbio «quem não sabe é como quem não vê», trave-mestra do jesuítismo, desfazer-se-á em estilhas e a realidade, pura e dura, impor-se-á brutalmente. A fome é a fome. Miséria é pobreza e desemprego. Inactividade forçada significa ser-se expulso do mundo que tivemos e a que continuamos a ter direito natural. Quanto é que isto, em sofrimento, não irá custar ao nosso povo?

Evitar dores maiores implica reagir… já! Esclarecer, denunciar, organizar os outros e organizarmo-nos a nós próprios. Assim conseguiremos alcançar os nossos objectivos principais: encontrar uma saída digna para as crises da traição e modelar um Portugal novo, patriótico e de esquerda!

Fonte: Avante!
 
O mafarrico Vermelho

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