"Amor é amor no movimento comunista"

"Amor é amor no movimento comunista"
Publicado em INQUIRER.net
"“Nosso casamento é uma reafirmação do amor igualitário. Somos todos humanos, e todos devemos ter o mesmo direito a escolher quem amar e quem será nosso parceiro de vida”, disse Diana.

Com balas de munição nas palmas de suas mãos, as recém-casadas não se limitaram a jurar amor recíproco, mas também em provar ao mundo que, tal como com outras pessoas, era um amor como qualquer outro."
“Beija! Beija! Beija!”, gritava a multidão, no meio da selva, em algum lugar das montanhas de Mindanao. Era um dia libertador, diziam.

Com uma bandeira vermelha com a foice e o martelo tremulando sobre seus respectivos ombros, Maymay e Diane se beijaram numa cerimônia de casamento realizada pelo Partido Comunista das Filipinas (PCF). Este foi o primeiro casamento lésbico na história de Mindanao, e aconteceu sob a cobertura de um matagal fortemente protegido por guerrilheiros armados. O primeiro casamento deste tipo aconteceu, segundo boatos, em algum lugar da região metropolitana de Manila.

“Devemos nos esforçar para melhorar nossos relacionamentos pessoais enquanto trabalhamos para elevar nosso compromisso com o povo e a revolução”, disse um comandante do NEP (Novo Exército Popular), braço armado do Partido Comunista das Filipinas, durante a cerimônia.

Sem palavras

“Eu fiquei realmente sem palavras, cheia de admiração quando a vi pela primeira vez. Ela havia acabado de tomar banho e não penteou o cabelo. Eu me apaixonei de imediato por ela”, disse a risonha Maymay. Ela dizia que, à medida em que os dias passavam, ela se dava conta que o sentia por Diane era algo realmente especial. “Não foi um processo fácil. Os dias passavam e meus sentimentos por ela se tornavam mais fortes, até eu ter certeza que estava realmente apaixonada por ela”, acrescentou.

Maymay explicou que teve de passar por um processo específico para entrar em um relacionamento amoroso dentro do movimento comunista, o que incluiu reuniões e a própria permissão do coletivo onde ambas militam.

Cada membro do movimento clandestino é parte de uma célula ou coletivo, onde os relacionamentos pessoais também são discutidos sob o princípio da primazia da política sobre a vida pessoal.

Carta

Com um sorriso tímido, Maymay explicou a nosso jornal que ela e seu grupo tiveram de escrever uma carta demonstrando suas intenções de se casar com Diane, e enviaram a carta ao coletivo da última.

“Enviamos a carta em 6 de janeiro de 2014, e Diane e seu coletivo aceitaram-na calorosamente”, disse Maymay.

No movimento comunista das Filipinas, é uma prática comum não apenas pedir uma pessoa em casamento, mas também pedir a aprovação do coletivo da pessoa em questão, para provar que se é digno não apenas do afeto da pessoa como também da aprovação do Partido.

Um processo chamado integração se inicia quando o outro coletivo aceita o pedido de casamento. Ambos os companheiros, então, terão um tempo de experiência – passando um período juntos para ter certeza de seus sentimentos e para ter certeza de que o relacionamento amoroso não irá afetar suas responsabilidades políticas.

Um animado “sim”

“Eu me esforcei muito para pedi-la em casamento, até eu receber um animado “sim” após seis meses”, compartilhou Maymay conosco.

Como ocorre em todos os relacionamentos, Diane e Maymay tiveram seus altos e baixos, mas estes levaram finalmente a um dia muito especial. Um ano após Maymay mandar sua carta para Diane, ela a pediu em casamento no meio de uma praça de uma das maiores cidades de Mindanao.

Tudo foi muito bem preparado, tal como uma emboscada do NEP, disseram elas.

“Nossos amigos especiais estavam lá. Pedimos para alguns cantarem músicas, enquanto outros filmavam e tiravam fotos. Foi lá que eu propus a Diane um casamento,” Maymay narrou.

Um longo noivado

Para aqueles que militam no movimento revolucionário, um ano de casados já é considerado um longo casamento. “Por conta de razões que fogem de nosso controle, incluindo nosso trabalho político, nosso casamento foi adiado. Nós, porém, usamos esta oportunidade para melhorar nosso relacionamento”, disse Maymay.

O processo pessoal, porém, principalmente a preparação para o casamento, foi ainda mais difícil para Diane.

“Sou muçulmana. As medidas a serem tomadas quando se entra numa relação com uma pessoa do mesmo sexo são bastante complicadas”, disse Diane.

“Foi uma grande luta para fazer minha família e minha aldeia me aceitarem como sou”, disse Diane.

Família contra o matrimônio

A família de Diane finalmente aceitou seu relacionamento com Maymay. Porém, foi contra o seu casamento com ela. “Meus pais sabiam do meu casamento, porém, nenhum deles compareceu à cerimônia, a não ser alguns de meus primos que também são guerrilheiros do NEP”, disse ela.

Diane acariciou seus longos cabelos cacheados enquanto narrava que esteve aberta à comunidade LGBT desde quando estava no ensino médio. “Naquela época, eu ainda não tinha certeza sobre minha orientação, mas era muito próxima a membros do LGBT”, disse Diane.

Tudo foi parte de um processo, disse ela. “A primeira vez que mantive um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo foi dentro do movimento comunista. Foi um processo de abrir minha mente e aceitar”, disse ela.

O movimento comunista segue uma política rigorosa chamada Sobre o Relacionamento Proletário entre os Sexos, que foi ratificado em 1998, e inclui pontos sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e casamentos.

Primeiro casamento gay do NEP

Em 2005, o primeiro casal gay do NEP – Andres e José – se casaram no sul de Mindanao. Eles se separaram anos depois, e um deles morreu de uma doença que contraiu nas montanhas.

“Nosso casamento é uma reafirmação do amor igualitário. Somos todos humanos, e todos devemos ter o mesmo direito a escolher quem amar e quem será nosso parceiro de vida”, disse Diana.

Com balas de munição nas palmas de suas mãos, as recém-casadas não se limitaram a jurar amor recíproco, mas também em provar ao mundo que, tal como com outras pessoas, era um amor como qualquer outro.


Fonte: Nova Cultura



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Mafarrico Vermelho


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