Cinquenta Anos de Guerras Imperiais: Resultados e Perspectivas

Cinquenta Anos de Guerras Imperiais: Resultados e Perspectivas
por James Petras

"Este artigo constitui uma notável tentativa de sistematização dos processos através dos quais os EUA aspiram ao poder global. É tanto mais interessante quanto permite constatar que a categoria “imperialismo”, mesmo quando abordada de um ponto de vista que diverge da concepção marxista-leninista, permite identificar traços e contradições essenciais do estado actual do capitalismo. Coisa que não sucede com os ideólogos que vêm tentando substituir o conceito de imperialismo pela palavra “império”."

Introdução

Nos últimos 50 anos, os EUA e as potências europeias envolveram-se em inúmeras guerras imperiais em todo o mundo. A vontade de supremacia mundial revestiu-se da retórica de “liderança do mundo”, cujas consequências foram devastadoras para os povos atingidos. As maiores, mais longas e mais numerosas guerras foram conduzidas pelos Estados Unidos. Presidentes de ambos os partidos dirigem e presidem a esta busca de poder mundial. A ideologia que informa o imperialismo varia do “anticomunismo” no passado ao “antiterrorismo” de hoje.

A tendência de Washington para o domínio mundial utilizou e combinou muitas formas de belicismo, incluindo invasões e ocupações militares, exércitos de mercenários por procuração e golpes militares, financiamento a partidos políticos, ONG’s e amotinações de rua, para derrubar governos legalmente constituídos. As forças motrizes no estado imperial por detrás da busca de poder mundial variam com a localização e composição sócio-econômica dos países a atingir.

O que resulta claro da análise do crescimento do império americano no último meio século é o relativo declínio dos interesses econômicos e o aumento das considerações político-militares. Isto é em parte devido ao fim dos regimes colectivistas (URSS e Europa Oriental) e a conversão ao capitalismo da China e dos regimes de esquerda asiáticos, africanos e latino-americanos. O declínio das forças econômicas como força motriz do imperialismo é um resultado do advento do neoliberalismo global. 

A maior parte das multinacionais americanas e europeias não estão ameaçadas por nacionalizações ou expropriações que possam desencadear intervenções políticas do estado imperial. De facto, as empresas multinacionais são convidadas a investir, negociar e explorar os recursos naturais, até por regimes pós-neoliberais. Os interesses econômicos entram em jogo na formulação das políticas de estado imperiais, se e quando regimes nacionalistas emergem e desafiam as empresas multinacionais americanas, como no caso da Venezuela com o presidente Chávez.

A chave para o crescimento do império americano no último meio século encontra-se na configuração do poder político, militar e ideológico que acabou por controlar as alavancas do estado imperial. A história recente das guerras imperiais dos EUA demonstrou que as prioridades militares estratégicas – bases militares, orçamentos e burocracia – se expandiram muito para além de quaisquer interesses econômicos localizados. 

Além disso, as vastas despesas e as dispendiosas intervenções militares do estado imperial dos EUA no Médio-Oriente foram feitas às ordens de Israel. A detenção de posições políticas estratégicas no ramo do executivo e no Congresso pela poderosa configuração de poder sionista nos EUA reforçou a predominância dos interesses militares sobre os econômicos.

A “privatização” das guerras imperiais – o vasto crescimento e utilização de mercenários contratados pelo Pentágono – levou à grande pilhagem de dezenas de milhares de milhões de dólares do Tesouro dos EUA. Empresas de grande dimensão que fornecem combatentes militares mercenários tornaram-se uma força muito “influente” na concepção da natureza e nas consequências do crescimento do império dos EUA.

Os estrategas militares, os defensores dos interesses coloniais israelitas no Médio-Oriente, as empresas mercenárias militares e de informações são atores centrais do estado imperial e é a sua influência na tomada de decisões que explica porquê as guerras imperiais dos EUA não têm como resultado um império politicamente estável e economicamente próspero. Em vez disso, as suas políticas têm tido como resultado economias instáveis, devastadas e em perpétua convulsão.

Prosseguimos identificando as áreas e regiões em mudança no crescimento do império dos EUA de meados dos anos 70 até à actualidade. Examinaremos então os métodos, forças motrizes e resultados da expansão imperial. Voltaremos depois a descrever o corrente mapa geopolítico do crescimento do império e a natureza variada da resistência anti-imperialista. Concluiremos examinando o como e o porquê do crescimento do império e, mais particularmente, as consequências e resultados da expansão imperial dos EUA durante meio século.

O Imperialismo no período pós-Vietnam: Guerras por procuração na América Central, no Afeganistão e no sul de África

A derrota imperialista na Indochina marca o fim de uma fase do crescimento do império e o começo de outra: uma mudança das invasões territoriais para guerras por procuração. Uma opinião pública nacional hostil obstou a guerras terrestres de grande escala. Iniciando-se durante as presidências de Gerald Ford e James Carter, o estado imperial dos EUA passou a confiar cada vez mais em clientes por procuração. Recrutou, financiou e armou forças militares por procuração para a destruição de vários regimes e movimentos revolucionários nacionalistas e sociais nos três continentes. 

Washington financiou e armou forças extremistas islâmicas em todo o mundo, para invadirem e destruírem o regime secular e modernizador apoiado pelos soviéticos no Afeganistão, com apoio logístico dos militares e das agências de informação paquistanesas e a sustentação financeira da Arábia Saudita.

A segunda intervenção por procuração foi no sul da África, onde o estado imperial dos EUA financiou e armou forças por procuração contra os regimes anti-imperialistas em Angola e Moçambique, em aliança com a África do Sul.

A terceira intervenção por procuração teve lugar na América Central, onde os EUA financiaram, armaram e treinaram esquadrões da morte assassinos nos regimes da Nicarágua, El Salvador, Guatemala e Honduras, para dizimarem movimentos populares e revoltas armadas, resultando em mais de 300 mil mortes civis.

A “estratégia da procuração” do estado imperial dos EUA estendeu-se à América do Sul: a CIA e o Pentágono apoiaram golpes militares que tiveram lugar no Uruguai (general Alvarez), no Chile (general Pinochet), na Argentina (general Videla), na Bolívia (general Banzer) e no Peru (general Morales). O crescimento do império através de procuradores foi largamente por conta das empresas multinacionais americanas que foram os principais atores no estabelecimento de prioridades no estado imperial ao longo deste período.

A acompanhar as guerras por procuração, foram as invasões militares directas: a pequena ilha de Granada (1983) e o Panamá (1989) com os presidentes Reagan e Bush Sr. Alvos fáceis, com poucas baixas e despesas militares de baixo custo: ensaios para o relançamento de operações militares de envergadura no futuro próximo.

O que é notável sobre as “guerras por procuração” é a desigualdade de resultados. Os resultados na América Central, no Afeganistão e em África não conduziram a neocolónias prósperas, nem se provaram lucrativos para as empresas multinacionais americanas. Pelo contrário, os golpes por procuração na América do Sul levaram a privatizações em grande escala e lucros para essas empresas.

A guerra por procuração no Afeganistão levou ao crescimento e à consolidação do “regime islâmico” Taliban, que se opôs tanto à influência soviética como à expansão imperial dos EUA. O crescimento e consolidação do nacionalismo islâmico desafiaram por sua vez os aliados dos EUA no sul da Ásia e na região do Golfo e levaram depois a uma invasão militar americana em 2001 e a uma guerra prolongada (15 anos) e ainda por concluir e, muito provavelmente, a uma retirada e derrota. Os principais beneficiários econômicos foram os clientes políticos do Afeganistão, os “empreiteiros” militares mercenários americanos, os oficiais militares intermediários e os administradores civis coloniais que pilharam centenas de milhares de milhões do Tesouro dos EUA em transacções ilegais e fraudulentas.

A pilhagem do Tesouro dos EUA não beneficiou de nenhuma forma as empresas multinacionais não-militares. De facto, a guerra e o movimento de resistência minaram qualquer entrada de maior escala e de longo prazo do capital privado dos EUA no Afeganistão e nas regiões fronteiriças adjacentes do Paquistão.

A guerra por procuração no sul da África devastou as economias locais, especialmente a economia agrícola nacional, deslocou milhões de trabalhadores e agricultores, e privou as empresas petrolíferas americanas de penetração por mais de duas décadas. O resultado “positivo” foi a desradicalização da anterior elite revolucionária nacionalista. No entanto, a conversão política dos “revolucionários” do sul da África ao neoliberalismo não beneficiou tanto as empresas multinacionais dos EUA como os dirigentes transformados em oligarcas cleptocráticos que montaram regimes patrimoniais em associação com uma colecção diversificada de empresas multinacionais, especialmente da Ásia e Europa.

As guerras por procuração na América Central tiveram resultados diversos. Na Nicarágua, a revolução sandinista derrotou o regime de Somoza apoiado pelos EUA e Israel, mas enfrentaram logo de seguida um exército contra-revolucionário mercenário, financiado, armado e treinado pelos EUA com base nas Honduras (os “Contras”). A guerra dos EUA destruiu muitos dos projectos econômicos progressistas, minou a economia e mais tarde levou a uma vitória eleitoral da cliente política apoiada pelos EUA Violeta Chamorro. Duas décadas mais tarde, os procuradores dos EUA foram derrotados por uma coligação política desradicalizada encabeçada pelos sandinistas.

Em El Salvador, na Guatemala e nas Honduras, as guerras dos EUA por procuração levaram à consolidação de regimes clientes presidindo à destruição da economia produtiva e à fuga de milhões de refugiados de guerra para os Estados Unidos. O domínio imperial dos EUA corroeu as bases para um mercado de trabalho produtivo que originou o crescimento de gangues da droga assassinos.

Em resumo, as guerras dos EUA por procuração conseguiram na maior parte dos casos evitar o aparecimento de regimes nacionalistas de esquerda, mas levaram também à destruição das bases econômicas e políticas de um império estável e próspero de neocolónias.

O Imperialismo Americano na América Latina: Mudança na Estrutura, Contingências Externas e Internas, Alteração de Prioridades e Constrangimentos Globais

Para se entender as operações, a estrutura e o desempenho do imperialismo dos EUA na América Latina, é necessário reconhecer a constelação específica de forças em competição que conformaram as políticas do estado imperial. Ao contrário do Médio-Oriente, onde a facção sionista-militarista conseguiu hegemonia, na América Latina as empresas multinacionais desempenharam um papel proeminente na direcção da política de estado imperial. Na América Latina, os militaristas desempenharam um papel mais apagado, constrangidos por (1) o poder das empresas multinacionais, (2) as mudanças no poder político na América Latina da direita para o centro-esquerda e (3) o impacto das crises econômicas e o boom de mercadorias.

Em contraste com o Médio-Oriente, a configuração do poder sionista teve pouca influência sobre a política de estado imperial, visto que os interesses de Israel estão focados no Médio-Oriente e, com a possível excepção da Argentina, a América Latina não é uma prioridade.

Durante mais de século e meio, as empresas multinacionais e os bancos americanos dominaram e ditaram a política imperial dos EUA para a América Latina. As forças armadas dos EUA e a CIA foram instrumentos de imperialismo econômico através da intervenção directa (invasões), “golpes militares” por procuração ou uma combinação de ambos.

O poder económico imperial dos EUA na América Latina atingiu o pico entre 1975-1999. Os estados-vassalos e a clientela dirigente foram impostos através de golpes militares por procuração, invasões militares directas (República Dominicana, Panamá e Granada) e eleições controladas civil e militarmente.

Os resultados foram o desmantelamento do estado social e a imposição de políticas neoliberais. O estado imperial conduzido pelas empresas multinacionais e seus apêndices financeiros internacionais (FMI, BM, IDB) privatizou sectores económicos estratégicos lucrativos, dominou o comércio e projectou um esquema de integração regional que iria codificar o domínio imperial dos EUA.

A expansão económica imperial na América Latina não foi simplesmente um resultado da dinâmica interna e das estruturas das corporações multinacionais, mas dependeu de (1) a receptividade do país “hospedeiro” ou, mais precisamente, da correlação interna das forças de classe na América Latina, que por sua vez giravam à volta (2) do desempenho da economia – seu crescimento e susceptibilidade às crises.

A América Latina demonstrou que contingências como a perda de regimes clientes e classes colaboradoras podem ter um profundo impacto negativo na dinâmica do imperialismo, minando o poder do estado imperial e invertendo o avanço económico das empresas multinacionais.

O avanço do imperialismo económico americano durante o período 1975-2000 foi manifesto na adopção de políticas neoliberais, na pilhagem de recursos naturais, no aumento de dívida ilícita e na transferência do estrangeiro de milhares de milhões de dólares. Contudo, a concentração de riqueza e propriedade precipitou uma profunda crise socioeconómica através da região que mais tarde levou ao derrube ou afastamento de colaboradores imperiais no Equador, na Bolívia, na Venezuela, na Argentina, no Brasil, no Uruguai, no Paraguai e na Nicarágua. Poderosos movimentos sociais anti-imperialistas, especialmente no campo, emergiram no Brasil e nos países andinos. Movimentos urbanos de trabalhadores desempregados e sindicatos de funcionários públicos na Argentina e no Uruguai foram pontas de lança para alterações eleitorais, trazendo ao poder regimes de centro-esquerda que “renegociaram” as relações com o estado imperial dos EUA.

A influência das multinacionais americanas na América Latina desapareceu. Não podiam contar com a bateria completa de recursos militares do estado imperial para intervir e voltar a impor clientes neoliberais devido às suas prioridades militares noutros pontos: Médio-Oriente, sul da Ásia e norte de África.

Ao contrário do passado, as multinacionais americanas na América Latina não tinham dois apoios essenciais do poder: o apoio completo das forças armadas dos EUA e clientes civis-militares poderosos na América Latina.

O plano das empresas multinacionais americanas para a integração centrada nos EUA foi rejeitado pelos regimes de centro-esquerda. O estado imperial voltou-se para acordos de comércio livre bilaterais com o México, o Chile, a Colômbia, o Panamá e o Peru. Como resultado das crises económicas e colapso da maior parte das economias latino-americanas, o “neoliberalismo” como ideologia da penetração económica imperial ficou desacreditado. Os advogados neoliberais foram marginalizados.

As mudanças na economia mundial tiveram um profundo impacto no comércio entre EUA e América Latina e nas relações de investimento. O dinâmico crescimento da China e a subsequente explosão da procura e o aumento de preço das mercadorias levaram a um súbito declínio do domínio americano dos mercados latino-americanos.

O diversificado comércio dos estados latino-americanos procurou e conquistou novos mercados estrangeiros, especialmente na China. O aumento dos rendimentos da exportação criou maior capacidade para o autofinanciamento. O FMI, o BM e o IDB, instrumentos económicos de alavancagem das imposições económicas americanas (“condicionalidade”) foram postos de lado.

O estado imperial dos EUA enfrentou regimes latino-americanos que abraçaram diferentes opções económicas, mercados e fontes de financiamento. Com poderoso apoio popular interno e comando unificado civil-militar, a América Latina moveu-se a pouco e pouco para fora da esfera de domínio imperialista dos EUA.

O estado imperial e as suas empresas multinacionais, profundamente influenciadas pelo seu “êxito” nos anos 90, responderam ao declínio de influência continuando por “tentativa e erro” em face dos constrangimentos negativos do séc. XXI. Os estrategas políticos apoiados pelas empresas multinacionais do estado imperial continuaram a apoiar os regimes neoliberais em colapso, perdendo toda a credibilidade na América Latina. O estado imperial falhou na adaptação às mudanças, agudizando a oposição de regimes populares e de centro-esquerda aos “livre mercados” e à desregulação dos bancos. Não foi preparado qualquer programa de ajuda económica de grande escala para vencer o centro-esquerda que fosse comparável ao esforço do presidente Kennedy para contrariar a atracção revolucionária da revolução cubana pela promoção de reformas sociais através da “Aliança para o Progresso”, provavelmente devido a restrições orçamentais resultantes das dispendiosas guerras noutros pontos.

A queda dos regimes neoliberais, cola que mantinha unidas as diversas facções do estado imperial, levou a propostas rivais sobre como recuperar o domínio. A “facção militarista” virou-se para e reviveu a fórmula do golpe militar para a restauração desse domínio: foram organizados golpes na Venezuela, no Equador, na Bolívia, nas Honduras e no Paraguai… todos derrotados com excepção dos dois últimos. A derrota dos procuradores dos EUA levou à consolidação dos regimes de centro-esquerda independentes e anti-imperialistas. Mesmo o “êxito” do golpe americano nas Honduras resultou numa grande derrota diplomática, visto que todos os governos o condenaram e ao papel dos EUA, isolando ainda mais Washington na região.

A derrota da estratégia militarista deu força à facção político-diplomática do estado imperial. Com aberturas positivas a regimes ostensivamente “centro-esquerda”, esta facção ganhou peso diplomático, manteve as ligações militares e aprofundou a expansão das empresas multinacionais no Uruguai, no Brasil, no Chile e no Peru. Com os dois últimos países, a facção imperialista económica do estado imperial garantiu acordos bilaterais de comércio livre.

Uma terceira facção multinacionais-militar, sobrepondo-se às outras duas, combinou arranjos político-diplomáticos com Cuba com uma estratégia agressiva de desestabilização política visando a “mudança de regime” (golpe) na Venezuela.

A heterogeneidade das facções do estado imperial e das suas orientações rivais reflecte a complexidade de interesses envolvidos no crescimento do império na América Latina e resulta em políticas aparentemente contraditórias, fenómeno menos evidente no Médio-Oriente onde a configuração de poder militarista-sionista domina a decisão política imperial.
Por exemplo, a promoção de bases militares e de operações de contra-revolução na Colômbia (prioridade da facção militarista) é acompanhada por acordos bilaterais de livre comércio e negociações de paz entre o regime de Santos e a revolução armada das FARC (prioridade da facção multinacionais).

A recuperação do domínio imperial na Argentina envolve (1) promover as possibilidades eleitorais do governador neoliberal de Buenos Aires, Macri, (2) apoiar o conglomerado de meios de comunicação pró-imperiais Clarin a resistir à legislação que acaba com o seu monopólio, (3) explorar a morte do procurador e colaborador da CIA-Mossad Alberto Nisman, para desacreditar o regime Kirchner-Fernandez, e (4) apoiar o fundo de investimento (abutre) dos especuladores de New York que tenta extrair pagamentos de juros exorbitantes e, com a ajuda de duvidosa doutrina jurídica, bloquear o acesso da Argentina aos mercados financeiros.

Tanto a facção militarista, como a das multinacionais do estado imperial convergem no apoio à estratégia de múltiplo efeito eleitoral-golpista, que procura restaurar no poder regimes neoliberais controlados pelos EUA.

As contingências que evitaram a recuperação do poder imperial na década passada estão agora a actuar ao contrário. A baixa nos preços das mercadorias enfraqueceu os regimes pós-neoliberais na Venezuela, na Argentina e no Equador. O retrocesso dos movimentos anti-imperialistas resultante da táctica de co-optação do centro-esquerda fortaleceu os movimentos e manifestantes de rua de direita apoiados pelo estado imperial. O declínio do crescimento chinês enfraqueceu as estratégias latino-americanas de diversificação de mercados. A balança interna das forças de classe inclinou-se para a direita, para os clientes políticos apoiados pelos EUA no Brasil, na Argentina, no Peru e no Paraguai.

Reflexões Teóricas sobre o Crescimento do Império na América Latina

O crescimento do império americano na América Latina é um processo cíclico, reflectindo as mudanças no poder político e a reestruturação da economia mundial – forças e factores que “ultrapassam” o estado imperial e a tendência do capital para a acumulação. A acumulação e a expansão do capital não dependem simplesmente das forças impessoais “do mercado”, porque as relações sociais sob as quais o “mercado” funciona operam segundo as condições da luta de classes.

A peça central das actividades do estado imperial, designadamente as guerras territoriais prolongadas no Médio-Oriente, está ausente da América Latina. A força motriz da política do estado imperial dos EUA é a procura de recursos (agrominerais), força de trabalho (autotrabalhadores de baixo salário) e mercados (dimensão e poder de compra de 600 milhões de consumidores). Os interesses económicos das empresas multinacionais são a razão da expansão imperial.

Ainda que, de um ponto de vista da vantagem geostratégica, as Caraíbas, a América Central e também a América do Sul estejam localizadas bastante próximo dos EUA, são os objectivos económicos e não militares os que predominam.

Contudo, a facção militar-sionista do estado imperial ignora estas razões económicas tradicionais e escolhe deliberadamente actuar segundo outras prioridades – controle das regiões produtoras de petróleo, destruição de países ou movimentos islâmicos, ou simplesmente eliminação de adversários anti-imperialistas. A facção militar-sionista conta os “benefícios” para Israel e a supremacia militar no Médio-Oriente mais importantes do que garantir a supremacia económica dos EUA na América Latina. É este claramente o caso, se medirmos as prioridades imperiais pelos recursos estatais despendidos na prossecução de objectivos políticos.

Mesmo considerando o objectivo da “segurança nacional”, interpretada no seu sentido mais vasto de garantir a segurança do território nacional do império, o assalto militar americano aos países islâmicos impulsionado pela correspondente ideologia islamofóbica, as resultantes matanças em massa e a deslocação de milhões nos povos islâmicos levaram a um efeito de resposta: o terrorismo recíproco. As “guerras totais” americanas contra civis provocaram assaltos islâmicos contra cidadãos ocidentais.

Os países da América Latina visados pelo imperialismo económico são menos beligerantes do que os países do Médio-Oriente visados pelos militaristas dos EUA. Uma análise custo/benefício demonstraria a natureza totalmente “irracional” da estratégia militarista. Contudo, se tivermos em consideração a composição específica e os interesses que motivam particularmente os estrategas políticos do estado imperial, há uma espécie de “racionalidade” perversa. Os militaristas defendem a “racionalidade” das dispendiosas e infindáveis guerras referindo as vantagens da apropriação das “portas do petróleo” e os sionistas referem o seu êxito no aumento do poder regional de Israel.

Enquanto a América Latina foi durante mais de um século uma região prioritária para a conquista económica do império, no século XXI perdeu a sua primazia para o Médio-Oriente.

O Desaparecimento da URSS e a conversão da China ao Capitalismo

O maior impulso para o êxito da expansão imperial americana não teve lugar através de guerras por procuração ou invasões militares. Em vez disso, o império dos EUA atingiu o seu maior crescimento e conquistas com a ajuda de líderes políticos clientes e de organizações e estados vassalos ao longo da ex-URSS, da Europa ocidental, dos estados bálticos, dos Balcãs e do Cáucaso. 

A penetração política a longo prazo e em larga escala dos EUA e da UE junto com financiamento conseguiram derrubar os regimes colectivistas hegemónicos na Rússia e na URSS e instalar estados-vassalos. Iriam rapidamente servir a NATO e ser incorporados na União Europeia. Bonn anexou a Alemanha Oriental e dominou os mercados da Polónia, República Checa e outros estados centro-europeus. Os banqueiros dos EUA e de Londres colaboraram com os oligarcas-gangsters russo-israelitas em parcerias pilhadoras de recursos, de indústrias, de propriedades e de fundos de pensão. A União Europeia explorou dezenas de milhões de cientistas, técnicos e operários altamente qualificados, importando-os e privando-os das suas protecções e direitos laborais e explorando-os como reserva barata de força de trabalho no seu próprio país.

O “convidado imperialismo”, recebido pelo regime vassalo de Ieltsin, apropriou-se facilmente da riqueza russa. As forças militares do ex-Pacto de Varsóvia foram incorporadas numa legião estrangeira para guerras imperiais americanas no Afeganistão, no Iraque e na Síria. As instalações militares foram convertidas em bases militares e bases de mísseis cercando a Rússia.

A conquista imperial do Leste criou um “mundo unipolar” no qual os decisores e os estrategas de Washington, como poder mundial supremo, acreditaram poder intervir em qualquer região impunemente.

O alcance e profundidade do império mundial dos EUA foi ampliado pela adopção do capitalismo pela China e pelo convite dos seus dirigentes às empresas multinacionais dos EUA e da UE para entrarem e explorarem o trabalho barato dos chineses. A expansão global do império americano conduziu a um poder sem limites encorajando os seus dirigentes para exercerem poder contra qualquer adversário ou competidor.

Entre 1990 e 2000, os EUA expandiram as suas bases militares até às fronteiras da Rússia. As empresas multinacionais americanas expandiram-se para a China e Indochina. Os regimes apoiados pelos americanos na América Latina desmantelaram as economias nacionais, privatizando e desnacionalizando mais de cinco mil empresas estratégicas lucrativas. Todos os sectores foram afectados: recursos naturais, transportes, telecomunicações e finança.

Os EUA continuaram ao longo dos anos 90 a expandir-se através de penetração política e força militar. O presidente George H.W. Bush desencadeou uma guerra contra o Iraque. Clinton bombardeou a Jugoslávia e a Alemanha e a UE juntaram-se aos EUA na divisão da Jugoslávia em “mini-estados”.

O Ano-charneira de 2000: Auge e Declínio do Império

A expansão imperial muito rápida e extensa entre 1989-1999, as fáceis conquistas e as correspondentes pilhagens, criaram as condições para o declínio do império americano.

O saque e empobrecimento da Rússia levou à ascensão de uma nova liderança com a vontade do presidente Putin de reconstruir o Estado e a economia e acabar com a vassalagem.

A liderança chinesa transformou a sua dependência do Ocidente em investimentos de capital e tecnologia em instrumentos de criação de uma poderosa economia exportadora e crescimento de um dinâmico complexo produtivo público-privado nacional. Os centros imperiais da finança que floresceram sob uma regulação laxista faliram. As fundações nacionais do império foram severamente abaladas. A máquina de guerra imperial rivalizou com o sector financeiro para os subsídios e despesas orçamentais federais.

O fácil crescimento do império levou à sua sobre-extensão. Múltiplas áreas de conflito, reflectiram um ressentimento e uma hostilidade globais perante a destruição trazida pelos bombardeamentos e pelas invasões. Os clientes políticos e colaboradores do império enfraqueceram. O império mundial excedeu a capacidade dos EUA policiarem com êxito os seus novos estados-vassalos. Os entrepostos coloniais exigiram novas incorporações de tropas, armas e fundos numa altura em que pressões internas contrárias pediam a redução de gastos e a retirada.

Todas as conquistas recentes fora da Europa foram dispendiosas. O sentimento de invencibilidade e impunidade levaram os planificadores imperiais a sobrestimar a sua capacidade de expansão, manutenção, controle e contenção da inevitável resistência anti-imperialista.

As crises e o colapso dos estados-vassalos neoliberais na América Latina aceleraram. Levantamentos anti-imperialistas espalharam-se da Venezuela (1999), para a Argentina (2001), Equador (2000-2005) e Bolívia (2003-2005). Regimes de centro-esquerda emergiram no Brasil, Uruguai e Honduras. Movimentos de massas em regiões rurais entre comunidades índias e mineiras ganharam impulso. Os planos imperiais formulados para garantir a integração com base nos EUA foram rejeitados. Em vez disso, proliferaram os pactos regionais com exclusão dos EUA – ALBA, UNASUR, CELAC. A rebelião interna da América Latina coincidiu com a ascensão económica da China. O surto prolongado de mercadorias enfraqueceu seriamente a supremacia imperial dos EUA. Os EUA tinham poucos aliados locais na América Latina e compromissos super ambiciosos para o controle do Médio-Oriente, do sul da Ásia e do norte de África.

Washington perdeu a maioria automática na América Latina: o seu apoio a golpes nas Honduras e no Paraguai, a sua intervenção na Venezuela (2002) e o bloqueio a Cuba foram repudiados por todos os regimes, mesmo pelos aliados conservadores.

Tendo estabelecido facilmente um império global, Washington deu-se conta de que não era tão fácil defendê-lo. Os estrategas globais em Washington encararam as guerras do Médio-Oriente através do prisma das prioridades militares israelitas, ignorando os interesses económicos globais das empresas multinacionais.

Os estrategas militares imperiais sobrestimaram a capacidade militar dos vassalos e clientes, mal preparados por Washington para governarem países com crescentes movimentos de resistência nacional armada. Guerras, invasões e ocupações militares foram iniciadas em múltiplos sítios. Iémen, Somália, Líbia e Paquistão juntaram-se ao Afeganistão e ao Iraque. As despesas do estado imperial dos EUA ultrapassaram de longe toda a transferência de riqueza a partir dos países ocupados.

Uma vasta burocracia civil-militar-mercenária pilhou centenas de milhares de milhões de dólares do Tesouro americano.

A prevalência das guerras de conquista destruiu as fundações da infra-estrutura económica necessária para a entrada e para o lucro das empresas multinacionais.

Uma vez entrincheirada nas concepções militares estratégicas do império, a liderança político-militar do estado imperial preparou uma ideologia global para justificar e motivar uma política de guerra múltipla e permanente. A doutrina da “guerra ao terrorismo” justificou a guerra em todo e qualquer lado. A doutrina era “elástica” – adaptada a qualquer região de conflito e convidando a novos envolvimentos militares: o Afeganistão, a Líbia, o Irão e o Líbano foram todos designados como zonas de guerra. A “doutrina do terrorismo”, de alcance global, forneceu uma justificação para múltiplas guerras e para a destruição massiva (e não a exploração) de sociedades e recursos económicos. Acima de tudo, a “guerra ao terrorismo” justificou tortura (Abu Ghraib), campos de concentração (Guantánamo) e alvos civis em todo o lado (via drones). Foram retiradas e depois reenviadas tropas para o Afeganistão e Iraque quando a resistência nacionalista avançou. Milhares de Forças Especiais estiveram activas em inúmeros países, espalhando a morte e o caos.

Além disso, a deslocação violenta, a degradação e a estigmatização de povos islâmicos inteiros levaram à difusão da violência nos centros imperiais de Paris, Nova Iorque, Londres, Madrid e Copenhaga. A globalização do terror do estado imperial conduziu ao terror individual.

O terror imperial suscitou o terror interno: o primeiro à escala das massas sustentadamente abrangendo civilizações inteiras e conduzido e justificado por funcionários políticos eleitos e autoridades militares, o último através de um entrecruzar de “internacionalistas” que se identificam directamente com as vítimas do terror do estado imperial.

O Imperialismo Contemporâneo: Perspectivas Atuais e Futuras

Para perceber o futuro do imperialismo americano, é importante recapitular e avaliar a experiência e as políticas do passado quarto de século.

Se compararmos o crescimento do império americano entre 1990 e 2015, é evidente o seu declínio económico, político e mesmo militar na maior parte das regiões do mundo, embora o processo de declínio não seja linear, nem provavelmente irreversível.

Apesar das palavras em Washington sobre a reconfiguração das prioridades imperiais de forma a ter em conta os interesses económicos das multinacionais, pouco foi conseguido… 

O chamado “pivot da Ásia” de Obama resultou em novos acordos sobre bases militares à volta da China com o Japão, a Austrália e as Filipinas e reflecte uma inabilidade para realizar acordos de comércio livre que excluem a China. Entretanto, os EUA recomeçaram militarmente a guerra e reentraram no Iraque e no Afeganistão, além de lançarem novas guerras na Síria e na Ucrânia. É evidente que a primazia da facção militar é ainda o factor determinante no desenho das políticas do estado imperial.

A deriva militar imperial é mais evidente na intervenção dos EUA em apoio ao golpe da Ucrânia e no subsequente financiamento e armamento da junta de Kiev. A tomada imperial da Ucrânia e os planos para a sua incorporação na UE e na NATO representam agressão militar na sua forma mais descarada. A expansão das bases militares americanas, as manobras militares nas fronteiras da Rússia e as sanções económicas iniciadas pelos EUA prejudicaram seriamente o comércio e o investimento da UE na Rússia. O crescimento do império americano continua a dar prioridade à expansão militar mesmo à custa dos interesses económicos imperiais do Ocidente na Europa.

Os bombardeamentos da Líbia pelos EUA e UE destruíram os florescentes acordos de comércio e investimento entre as multinacionais imperiais do petróleo e do gás e o governo de Khadafi… Os assaltos aéreos da NATO destruíram a economia, a sociedade e o ordenamento político, convertendo a Líbia num território dominado por clãs guerreiros, gangues, terroristas e criminosos armados.

No meio século que passou, a liderança e as estratégias políticas do estado imperial mudaram completamente. Durante o período entre 1975-1990, as empresas multinacionais desempenharam um papel central na definição da direcção da política do estado imperial: alavancando mercados na Ásia, negociando aberturas de mercados com a China, promovendo e apoiando regimes militares e civis neoliberais na América Latina, instalando e financiando regimes pró-capitalistas na Rússia, na Europa de Leste, no Báltico e nos Balcãs. Mesmo nos casos em que o estado imperial recorria à intervenção militar, como na Jugoslávia e Iraque, os bombardeamentos levaram a oportunidades favoráveis economicamente para as empresas multinacionais americanas. O regime de Bush Sr promoveu os interesses americanos no petróleo através de um acordo de comida por petróleo com Saddam Hussein no Iraque.

Clinton promoveu regimes de livre mercado nos mini-estados resultantes do desmembramento da Jugoslávia socialista.

Contudo, a liderança e as políticas do estado imperial mudaram dramaticamente durante os últimos anos 90 para a frente. O estado imperial do presidente Clinton era composto por representantes de longa data das empresas multinacionais, banqueiros da Wall Street e funcionários sionistas militaristas em recente ascensão.

O resultado foi uma política híbrida na qual o estado imperial promoveu activamente oportunidades para as empresas multinacionais em regimes neoliberais nos países ex-comunistas da Europa e na América Latina e expandiu as ligações dessas empresas com a China e o Vietnam, enquanto lançou intervenções militares destrutivas na Somália, na Jugoslávia e no Iraque.

O “balanço de forças” dentro do estado imperialista mudou dramaticamente a favor da facção militarista-sionista com o ataque terrorista do 11 de Setembro de duvidosa origem e as demolições de falsa bandeira em Nova Iorque e Washington serviram para firmar os militaristas no controle de um aparelho de estado imperial vastamente expandido. Como consequência do 11 de Setembro, a facção militarista-sionista do estado imperial subordinou os interesses das empresas multinacionais à sua estratégia de guerras totais. 

Isto, por sua vez, levou à invasão, ocupação e destruição das infra-estruturas civilizacionais no Iraque e no Afeganistão (em vez de a ligar à expansão das empresas multinacionais). O regime colonial dos EUA desmantelou o estado iraquiano (em vez de o reordenar ao serviço das empresas multinacionais). O assassinato e emigração forçada de milhões de profissionais especializados, gestores e oficiais da polícia e do exército inviabilizou qualquer recuperação económica (em vez de os incorporar ao serviço do estado colonial e das empresas multinacionais).

A ascendência militarista-sionista no estado imperial introduziu alterações importantes na política, na orientação, nas prioridades e no modus operandi do imperialismo americano. A ideologia da “guerra global ao terrorismo” substituiu a doutrina de promoção da “globalização económica” das multinacionais.

As guerras perpétuas (os “terroristas” não ficaram confinados a determinado lugar ou época) substituíram as guerras ou intervenções limitadas dirigidas para a abertura de mercados ou a mudança de regimes que pusessem em prática políticas neoliberais favoráveis às empresas multinacionais.

O locus da actividade do estado imperial mudou da exploração de oportunidades económicas na Ásia, na América Latina e nos países ex-comunistas da Europa de Leste para as guerras no Médio-Oriente, no sul da Ásia e no norte de África, visando países muçulmanos que se opõem à expansão colonial de Israel na Palestina, na Síria, no Líbano e noutras zonas.

A nova concepção da configuração do crescimento do império do poder militarista requer vastas despesas de milhões de milhões de dólares, sem atender ou pensar no retorno de capital privado. Em contraste, sob a hegemonia das multinacionais, o estado imperial intervinha para assegurar as concessões de petróleo, gás e minerais na América Latina e no Médio-Oriente. Os custos da conquista militar eram mais do que compensados pelo retorno para as empresas multinacionais. A configuração militarista do estado imperial pilhou o Tesouro dos EUA para financiar as ocupações, o vasto exército de colaboradores coloniais corruptos, os “empreiteiros militares” de mercenários privados e, rapidamente milionários, os funcionários do aprovisionamento (sic) militar americano.

Anteriormente, a exploração ultramarina dirigida para as empresas multinacionais conduzia a elevado retorno para o Tesouro dos EUA, tanto em termos de pagamento de taxas directas, como no rendimento gerado no comércio e processamento de matérias-primas.

Na passada década e meia, os maiores e mais estáveis retornos para as empresas multinacionais tiveram lugar em regiões e países onde o estado imperial militarizado esteve menos envolvido – China, América Latina e Europa. As multinacionais tiveram menos lucros e perderam mais em áreas de maior envolvimento do estado imperial.

As “zonas de guerra” que se estenderam pela Líbia, Somália, Líbano, Síria, Iraque, Ucrânia, Irão e Afeganistão e Paquistão são as regiões onde as empresas multinacionais imperiais sofreram maior declínio e abandono.

Os principais “beneficiários” das actuais políticas do estado imperial são os empreiteiros de guerra e o complexo segurança-militar-industrial nos EUA. No estrangeiro, beneficiários estatais incluem Israel e a Arábia Saudita… Além desses, os governantes-clientes da Jordânia, Egipto, Iraque, Afeganistão e Paquistão encaixaram dezenas de milhares de milhões em contas bancárias privadas em paraísos fiscais.

Os beneficiários “não-estatais” incluem mercenários e exércitos de procuração. Na Síria, no Iraque, na Líbia, na Somália e na Ucrânia, dezenas de milhares de colaboradores das organizações “não-governamentais” também se aproveitaram.

O Cálculo Custo-Benefício ou o Crescimento do Império sob a Égide do Estado Imperial Militarista-Sionista

Passou já tempo suficiente sobre a última década e meia de domínio militarista-sionista do estado imperial para que possa ser feita a avaliação do seu desempenho.

Os EUA e seus aliados ocidentais, em especial a Alemanha, expandiram com êxito o seu império na Europa de Leste, nos Balcãs e no Báltico sem dispararem um tiro. Estes países foram convertidos em estados vassalos da UE. Os seus mercados foram dominados e as suas indústrias desnacionalizadas. As forças armadas foram recrutadas como mercenárias da NATO. A Alemanha Ocidental anexou a Alemanha Oriental. Força de trabalho qualificada e barata fez, como imigrante e força de reserva, aumentar os lucros das multinacionais da UE e dos EUA. 

A Rússia ficou temporariamente reduzida a estado vassalo entre 1991-2001. O seu nível de vida afundou-se e os programas sociais foram reduzidos. As desigualdades entre classes aprofundaram-se. Milionários e multimilionários apanharam os recursos públicos e juntaram-se às multinacionais imperiais pilhando a economia. Os dirigentes e partidos socialistas e comunistas foram reprimidos ou cooptados. Em contraste, a expansão imperial militar do séc. XXI foi um falhanço ruinoso. A “guerra no Afeganistão” foi dispendiosa em vidas e bens e levou a uma retirada ignominiosa. O que ficou foi um frágil regime-fantoche e um corpo militar mercenário pouco fiável. A guerra EUA-Afeganistão foi a mais longa guerra da história dos EUA e um dos seus maiores falhanços. No final, os movimentos de resistência nacionalista islâmicos, os chamados talibã e os grupos aliados de resistência nacionalista anti-imperialista e etno-religiosos, dominam o campo, penetram repetidamente e atacam centros urbanos e preparam-se para tomar o poder.

A guerra do Iraque e a invasão e ocupação de uma década pelo estado imperial dizimaram a economia. A ocupação fomentou a guerra etno-religiosa. Os funcionários civis do Bath e os militares profissionais juntaram-se aos islamitas nacionalistas e formaram depois um poderoso movimento de resistência (ISIS) que derrotou o exército mercenário Shia apoiado pelo império durante a segunda década da guerra. O estado imperial foi forçado a regressar e a envolver-se directamente numa guerra prolongada. O custo da guerra disparou para mais de 1 milhão de milhões de dólares. A exploração do petróleo tornou-se mais difícil e o Tesouro dos EUA despejou dezenas de milhares de milhões para manter uma “guerra sem fim”.

O estado imperial americano e a UE, junto com a Arábia Saudita e a Turquia financiaram milícias armadas mercenárias islâmicas para invadirem a Síria e destruírem o regime secular, nacionalista e anti-sionista de Bashar Assad. A guerra imperial abriu as portas à expansão do Estado Islâmico / forças do Bath / ISIS na Síria. Os curdos e outros grupos armados apoderaram-se do território, fragmentando o país. Após cerca de 5 anos de guerra e custos militares crescentes, as multinacionais dos EUA e da UE foram expulsas do mercado sírio.

O apoio dos EUA à agressão de Israel contra o Líbano levou ao aumento de poder da resistência armada anti-imperialista do Hezbollah. O Líbano, a Síria e o Irão representam agora uma alternativa séria ao eixo EUA, EU, Arábia Saudita, Israel.

A política americana de sanções contra o Irão não conseguiu minar o regime nacionalista e comprometeu totalmente as oportunidades económicas de todas as principais empresas multinacionais do petróleo e gás dos EUA e UE, assim como dos exportadores industriais americanos. Foram substituídas pela China.

A invasão da Líbia pelos EUA e UE levou à destruição da economia e à perda de milhares de milhões de investimentos das multinacionais e ao fim das exportações.

A tomada do poder pelo estado imperial dos EUA através de um golpe por procuração em Kiev, provocou uma poderosa revolta anti-imperialista conduzida pela milícia armada no Leste (Donetsk e Luhansk) e ao dizimar da economia da Ucrânia.

Em resumo, a tomada de poder militar-sionista do estado imperial levou a guerras prolongadas e onerosas que não se podem vencer e que minaram os mercados e os locais de investimento para as empresas multinacionais americanas. O militarismo imperial minou a presença económica imperial e provocou movimentos crescentes de resistência anti-imperialista de longo prazo, assim como países inviáveis, caóticos e instáveis fora do controle imperial.

O imperialismo económico continuou a aproveitar-se em parte da Europa, da Ásia, da América Latina e de África, apesar das guerras imperiais e das sanções económicas prosseguidas pelo altamente militarizado estado imperial noutros sítios.

No entanto, a tomada do poder na Ucrânia pelos militaristas americanos e as sanções contra a Rússia corroeram o lucrativo mercado e os investimentos da União Europeia na Rússia. A Ucrânia tutelada pelo FMI, UE e EUA tornou-se uma economia endividada e quebrada conduzida por cleptocratas totalmente dependentes de empréstimos estrangeiros e da intervenção militar.

O estado imperial militarizado, ao dar prioridade ao conflito e às sanções à Rússia, Irão e Síria, perdeu no aprofundamento e expansão dos laços económicos com a Ásia, a América Latina e África. A conquista política e económica da Europa de Leste e partes da URSS perdeu significado. As guerras perpétuas e perdidas no Médio-Oriente, norte de África e Cáucaso enfraqueceram a capacidade do estado imperial para o crescimento do império na Ásia e na América Latina.

O esbanjar de riqueza e o custo das guerras perpétuas erodiram as fundações eleitorais do crescimento do império. Só uma alteração fundamental na composição do estado imperial e uma reorientação de prioridades no sentido de se centrar na expansão económica pode alterar o actual declínio do império. O perigo é que, à medida que o estado imperial militarista sionista continue a perder guerras, possa entrar em escalada, aumente a parada e se decida a uma grande confrontação nuclear: um império no meio de cinzas nucleares!


Tradução: Jorge Vasconcelos


Fonte: O Diário


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