Ibéria: uma rampa de lançamento
Ibéria: uma rampa de lançamento
por Jorge Messias
Em termos de caracterização histórica geral, a Igreja Católica Romana não oferece dificuldades de maior. A Igreja católica nasceu com o Império (o Romano e os outros mais antigos); cresceu desmedidamente e enriqueceu com o comércio e a conquista (o saque); e agora, com um capitalismo agonizante, é-lhe impossível libertar-se das marcas decadentes dos seus tempos finais.
Tem-se falado muito do volume astronómico dos capitais que o Vaticano possui e administra. E é bom que esta contabilização se mantenha bem viva, se vá actualizando permanentemente e permita ao católico comum contrastar as misérias que o vão esmagando e a vida da Igreja com a qual se confunde. Mas também, em termos de compreensão do que se passa, continua a ser vital observar a Igreja como causa e efeito do processo histórico em curso. Império, capitalismo e Igreja, têm assumido, desde há séculos, uma só identidade. Já não se podem separar, uma do outro. A Península Ibérica é bem uma imagem dessa realidade suicida.
Roma esteve sempre presente na história de Portugal e Espanha e comandou as espoliações sem nome cometidas por forças com siglas tão diferentes como as dos Templários, Ordem de Santiago, Ordem de Cristo, Companhia de Jesus, Tribunal do Santo Ofício, Illuminati, Thules, Caveiras e Ossos, etc. Ia-se e vai-se aonde houver dinheiro a extorquir, seja ele árabe, judeu, líbio, sírio, do petróleo, da droga, da fuga ao fisco, da exportação clandestina para offshores, da prostituição… enfim, onde o lucro estiver. E se for necessário financiar guerras, a Igreja também não vira a cara e colabora.
Esta análise primária ocupa lugar importante nas estratégias do neoliberalismo católico actual. O Vaticano, desde os séculos mais recuados tem praticado as técnicas da apropriação da riqueza e da concentração dos capitais. Foi também ele que, sob a capa do proselitismo, desenvolveu a primeira rede mundial centralizada de organismos nacionais pré-capitalistas. Os missionários, simultaneamente com a conquista das almas, introduziram a prática da economia baseada na moeda. E as sucessivas armadas que impulsionaram o comércio e a conquista foram financiadas, a partir do século XV, pelas coroas europeias, pela aristocracia e pela classe, que então ia surgindo, dos agiotas ligados às casas bancárias italianas, alemãs, francesas, etc., apenas vocacionadas no sentido do lucro.
Esta tradição do culto do lucro que ilumina os neoliberais do século XXI, trouxe para primeiro plano a importância das redes bancárias e financeiras organizadas a partir dos grandes impérios europeus da Renascença: Portugal e Espanha. Apesar da passagem do tempo e da constituição, no espaço imperial, de dezenas de novas autonomias e independências, o que é certo é que se mantiveram entre esses países laços preferenciais. O que pode aplanar os caminhos da Nova Ordem Mundial.
A Igreja católica oficial conservará assim inalterados os seus privilégios históricos. O que de modo algum parece deduzir-e das dificuldades inultrapassáveis reveladas pelo sistema capitalista actual.
por Jorge Messias
«Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório!», (Gislane Campos Azevedo,
“História em Movimento”, A Editora Ática , 2007)
“História em Movimento”, A Editora Ática , 2007)
«O sangue dos mártires é semente. Nós somos um grupo novo mas já penetrámos em todas as áreas da vida imperial: nas cidades, ilhas, vilas, mercados, e até mesmo nos campos, nas tribos, no palácio, no senado e no tribunal. Para vocês, apenas deixámos os vossos templos...» (Tertuliano, “Apologia 37”, Ano 200).
«Sabemos que há muito tempo existem excessos abomináveis na Santa Sé. A corrupção alastra da cabeça aos membros, do Papa aos prelados; todos temos saído dos carris. Não há nem um só que tenha praticado o Bem, nem só um!...» (Papa Adriano VI, 1522).
«Na sua corrida ao lucro a burguesia foi condenada a desenvolver, em proporções sempre crescentes, as forças produtivas e a reforçar e alargar o domínio das relações capitalistas de produção. O desenvolvimento do capitalismo reproduziu constantemente, por essa razão e numa base alargada, todas as contradições internas do sistema, sobretudo a contradição decisiva entre o carácter social do trabalho e o carácter privado da apropriação, entre o crescimento das forças produtivas e as relações capitalistas de propriedade» (“Programa da Internacional Comunista”, Ano de 1928, capítulo I – 1).
Em termos de caracterização histórica geral, a Igreja Católica Romana não oferece dificuldades de maior. A Igreja católica nasceu com o Império (o Romano e os outros mais antigos); cresceu desmedidamente e enriqueceu com o comércio e a conquista (o saque); e agora, com um capitalismo agonizante, é-lhe impossível libertar-se das marcas decadentes dos seus tempos finais.
Tem-se falado muito do volume astronómico dos capitais que o Vaticano possui e administra. E é bom que esta contabilização se mantenha bem viva, se vá actualizando permanentemente e permita ao católico comum contrastar as misérias que o vão esmagando e a vida da Igreja com a qual se confunde. Mas também, em termos de compreensão do que se passa, continua a ser vital observar a Igreja como causa e efeito do processo histórico em curso. Império, capitalismo e Igreja, têm assumido, desde há séculos, uma só identidade. Já não se podem separar, uma do outro. A Península Ibérica é bem uma imagem dessa realidade suicida.
Roma esteve sempre presente na história de Portugal e Espanha e comandou as espoliações sem nome cometidas por forças com siglas tão diferentes como as dos Templários, Ordem de Santiago, Ordem de Cristo, Companhia de Jesus, Tribunal do Santo Ofício, Illuminati, Thules, Caveiras e Ossos, etc. Ia-se e vai-se aonde houver dinheiro a extorquir, seja ele árabe, judeu, líbio, sírio, do petróleo, da droga, da fuga ao fisco, da exportação clandestina para offshores, da prostituição… enfim, onde o lucro estiver. E se for necessário financiar guerras, a Igreja também não vira a cara e colabora.
Esta análise primária ocupa lugar importante nas estratégias do neoliberalismo católico actual. O Vaticano, desde os séculos mais recuados tem praticado as técnicas da apropriação da riqueza e da concentração dos capitais. Foi também ele que, sob a capa do proselitismo, desenvolveu a primeira rede mundial centralizada de organismos nacionais pré-capitalistas. Os missionários, simultaneamente com a conquista das almas, introduziram a prática da economia baseada na moeda. E as sucessivas armadas que impulsionaram o comércio e a conquista foram financiadas, a partir do século XV, pelas coroas europeias, pela aristocracia e pela classe, que então ia surgindo, dos agiotas ligados às casas bancárias italianas, alemãs, francesas, etc., apenas vocacionadas no sentido do lucro.
Esta tradição do culto do lucro que ilumina os neoliberais do século XXI, trouxe para primeiro plano a importância das redes bancárias e financeiras organizadas a partir dos grandes impérios europeus da Renascença: Portugal e Espanha. Apesar da passagem do tempo e da constituição, no espaço imperial, de dezenas de novas autonomias e independências, o que é certo é que se mantiveram entre esses países laços preferenciais. O que pode aplanar os caminhos da Nova Ordem Mundial.
A Igreja católica oficial conservará assim inalterados os seus privilégios históricos. O que de modo algum parece deduzir-e das dificuldades inultrapassáveis reveladas pelo sistema capitalista actual.
Fonte: Avante
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