Kaiowás mais uma vez sob ameaça do nazismo do agronegócio

Kaiowás mais uma vez sob ameaça do nazismo do agronegócio



"Desde 2007, já foram mais de dez assassinatos de indígenas em processos de retomadas de terras tradicionais. Além disso, as cerca de 500 famílias Kaiowá sofrem diariamente com ameaças, intimidações, pulverização proposital por agrotóxicos e fome. A presença de grupos armados na região e o cerco a que são submetidos os Guarani-Kaiowá renderam ao território outro apelido negativo: “Faixa de Gaza Indígena”, numa comparação da estratégia dos latifundiários com a política genocida do Estado nazista de Israel."

As 500 famílias que compõem a comunidade indígena de Kurussu Ambá, localizada a 420 quilômetros de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, estão sendo mantidas sob ameaça constante de despejo pela Justiça e confinados num verdadeiro campo de concentração pelas milícias dos latifundiários, em mais um capítulo do genocídio do povo Guarani-Kaiowá pelo agronegócio. Os indígenas foram isolados pelos fazendeiros, sem acesso a água nem comida, e uma adolescente de 16 anos foi atropelada por seguranças particulares, segundo relatos indígenas. Tudo isso protegido por um criminoso silêncio por parte da grande imprensa.


Os guarani-kaiowá são o segundo povo indígena mais numeroso do Brasil, possuem uma população total de cerca de 40 mil pessoas, que além do número considerável de suicídios, vive violência constante dos grandes latifundiários brasileiros. A região onde fica localizada a comunidade de Kurussu Ambá é conhecida como o velho oeste brasileiro, pela forte presença de grupos armados, que atuam como milícias privadas dos latifundiários para tocar o terror entre os indígenas que vem tentando retomar as terras originárias de seu povo, das quais foram expulsos desde a década de 1970 pela aliança do agronegócio com a Ditadura Militar fascista.

Desde 2007, já foram mais de dez assassinatos de indígenas em processos de retomadas de terras tradicionais. Além disso, as cerca de 500 famílias Kaiowá sofrem diariamente com ameaças, intimidações, pulverização proposital por agrotóxicos e fome. A presença de grupos armados na região e o cerco a que são submetidos os Guarani-Kaiowá renderam ao território outro apelido negativo: “Faixa de Gaza Indígena”, numa comparação da estratégia dos latifundiários com a política genocida do Estado nazista de Israel.

Os kaiowás foram confinados num verdadeiro campo de concentração: “Kurusu Ambá está refém, sitiada e cercada pelos latifundiários do local. Nenhuma viatura da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) pode entrar na localidade, nem as viaturas da Fundação Nacional do Índio (Funai), levando cestas básicas, ou mesmo o ônibus escolar pode se aproximar da área”, explicou a descendente kaiowá Cilene Lopes à EcoAgência, uma agência de notícias ambientais vinculada ao NEJ/RS – Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul.

A mais recente vítima de violência na região é a indígena Jocikelle Martins, neta da rezadora Xurite Lopes, assassinada em 2007. Conforme os Guarani-Kaiowá, ela foi alvo de um atropelamento criminoso na segunda-feira (17), por um motoqueiro: “Os pistoleiros atacaram os estudantes indígenas, uma aluna com 17 anos foi agredida e ferida gravemente e se encontra no hospital. Segundo as comunidades, hoje de manhã os pistoleiros estão atacando as crianças/alunos, essa menina Guarani Kaiowa massacrada entrou em coma, com pernas fraturadas, e ouvidos ensanguentados. Está em estado grave. Estamos buscando a última informação de estado de saúde da menina ferida.” O relato foi publicado no mesmo dia 17 na rede social Facebook, pelo perfil ATY GUASSU (alimentado por indígenas da região).

A retomada da terra ancestral indígena

Em 22 de setembro deste ano, cansados de esperar pela demarcação de suas áreas tradicionais, os indígenas resolveram agir: saíram dos quatro hectares onde foram confinados e ocuparam uma pequena parte de seu território tradicional – terra que utilizam para plantar e onde se localizava a aldeia antiga e o cemitério, abrindo mão assim de todo território de caça, que lhes é garantido pela Constituição Federal.

Esta foi a quinta retomada da terra por parte dos indígenas. O movimento de recuperação das terras, que organiza as Grandes Assembleias – ATY GUASU – foi iniciado em 20007 e é uma reação ao confinamento que o Estado Brasileiro impôs aos Guarani-Kaiowá. Esse confinamento foi realizado para viabilizar a instalação do agronegócio ali: cana, soja, gado, milho produzidos para exportação, em parceria com multinacionais, como Bunge, Cargill, ADM, Monsanto…

Mas toda essa violência não é suficiente para fazer o povo Guarani-Kaiowá desistir de lutar pela retomada de suas terras ancestrais. “Todos os Guarani-Kaiowá estão apoiando o movimento, a guerra não vai parar porque nunca resolveram a demarcação, enquanto isso lideranças são mortas e baleadas. Uma violência tamanha que já não aguentamos, mas vamos continuar resistindo”, declarou Eliseu Guarani-Kaiowá, liderança indígena.

Fonte: EcoAgência 


Este artigo encontra-se também em A VERDADE


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