A mulher guerrilheira é livre e libertária

A mulher guerrilheira é livre e libertária
Escrito por María Angélica Arias Castro, 
Guerrilheira do Bloco Martín Caballero das FARC-EP



"Nós guerrilheiras farianas estamos neste confronto dando o nosso melhor e até jogando com nossa vida, para fazer valer os direitos das mulheres do povo, da mesma maneira como fizeram as mulheres da estirpe de Olimpia de Gouges, Rosa Luxemburgo, Policarpa Salavarrieta, Manuela Sáenz, María Cano, Mariana Paez, Lucero Palmera, Susana Téllez, Sonia la Pilosa e tantas outras mulheres ao longo da luta pelas transformações sociais em benefício do povo. São esses os ideais que nos impulsionam para a luta. É por isso que nossos princípios e nossa moral continuam crescendo a cada dia e, na medida em que crescem as necessidades e injustiças sociais, cresce também nossa ação política e militar.


Temos nossa própria forma de pensar e de expressar o que pensamos. Porém, na concepção do governo e do Estado, unicamente os chefes podem pensar e escrever. Estão equivocados: nós também o fazemos e não por imposição, nem porque alguém nos obriga a fazê-lo. Pouco nos conhecem. Temos conhecimentos e experiências suficientes para expressar nossas vivências, que conquistamos lutando ombro a ombro ao lado dos homens de nossa organização. Homens que, na busca da condição de homens novos, entendem e valorizam como nós, as lutas de gênero, no marco da luta de classes."

Dirigido aos senhores dos meios de comunicação.

“Em homenagem a todas as heroínas que ofereceram sua vida a tão nobre causa nestes 50 anos de Resistência Armada”.

É impossível falar de revoluções sem mencionar a participação da mulher, porque desde o início das lutas sociais no mundo, a mulher se fez presente como protagonista principal. Dando continuidade a exemplo dessas grandes lutadoras, que foram assassinadas pelos regimes violentos que querem nos calar e negar nossos direitos, muitas mulheres colombianas ingressam às fileiras guerrilheiras, enfrentando com as armas a tirania do Estado.

Tentando, de todas as formas, esconder o caráter político de nossa luta e o importante papel da mulher em seu desenvolvimento, o governo colombiano e seus meios de comunicação de massas lançam campanhas de desprestígio, querendo fazer acreditar somos maltratadas aqui e que são violados nossos direitos.

Chega-se às fileiras de nossa organização de maneira voluntária e consciente. Formamo-nos sob as linhas ideológicas, políticas, militares e culturais que são necessárias para o cumprimento de nossas tarefas, com vistas à transformação da Colômbia.

Vou desmascarar as calúnias e as falsas versões que vêm sendo apresentadas pelos meios de comunicação, que objetivam desvirtuar a capacidade da mulher nesta luta, que é essencialmente de classes. Na web são divulgados vídeos com versões de desertoras reinseridas, que mostram as FARC como uma máquina selvagem, onde se obriga as mulheres em avançado estágio de gravidez a abortar ou, ainda, que os comandantes obrigam que tenham relações sexuais com eles. Em nossa organização não existe maltrato nem discriminação em nenhum aspecto contra as mulheres, já que desempenhamos as mesmas responsabilidades. Aqui, mulheres e homens têm os mesmos direitos e as mesmas oportunidades de aprender diversos ofícios e especialidades. Oportunidades que o Estado não oferece em sua sociedade excludente.

Denuncio a oligarquia e seus meios de comunicação como mentirosos e manipuladores, que tentam nos prejudicar com sua asquerosa propaganda de montagens e calúnias. E como não conseguiram e, de alguma maneira, têm que justificar seus elevados salários, agora levantam o tema da mulher e das crianças na guerra como cavalinhos de batalha para nos desprestigiar. Permitam-me dizer minha verdade: nós guerrilheiras somos livres, nada nos obriga a ter relações com os Comandantes ou com alguém que não desejamos. Perguntamo-nos: por que, de uma hora para outra, despertou em vocês um sentimento humanista e uma preocupação conosco? Por que não se preocupam em atender as condições de saúde e outras necessidades de milhares de trabalhadoras sexuais, cujo número aumenta a cada dia nas grandes cidades pela ausência de uma política social do governo e do Estado?

Talvez o Estado nos dê a oportunidades de demonstrar o potencial e a criatividade que têm as mulheres humildes da Colômbia e, em particular, as guerrilheiras farianas, para transformar o Estado colombiano em um Novo Governo, a serviço das maiorias e não de uns poucos, como atualmente ocorre. Estão obstinados a desprestigiar as guerrilheiras e nossa organização, em lugar de proteger tantas mulheres e meninas que continuam sendo vítimas de violações, queimadas com ácidos, assassinadas, escravizadas em termos trabalhistas, etc.

Para citar um exemplo, apenas no departamento do Atlántico, ao longo de 2014, 67 mulheres foram assassinadas. Por acaso os autores destes delitos foram julgados e castigados exemplarmente? Não, a verdade é que recebem penas irrisórias e a impunidade continua proliferando, como continuam proliferando as jornadas de trabalho de 12 ou mais horas nas fábricas da Zona Franca de Barranquilla, onde o regime laboral está subordinado aos Tratados de Livre Comércio assinados com países-potência, cuja prioridade é o lucro para os investidores a custas do sangue e do suor das trabalhadoras.

Nós guerrilheiras farianas estamos neste confronto dando o nosso melhor e até jogando com nossa vida, para fazer valer os direitos das mulheres do povo, da mesma maneira como fizeram as mulheres da estirpe de Olimpia de Gouges, Rosa Luxemburgo, Policarpa Salavarrieta, Manuela Sáenz, María Cano, Mariana Paez, Lucero Palmera, Susana Téllez, Sonia la Pilosa e tantas outras mulheres ao longo da luta pelas transformações sociais em benefício do povo. São esses os ideais que nos impulsionam para a luta. É por isso que nossos princípios e nossa moral continuam crescendo a cada dia e, na medida em que crescem as necessidades e injustiças sociais, cresce também nossa ação política e militar.

Temos nossa própria forma de pensar e de expressar o que pensamos. Porém, na concepção do governo e do Estado, unicamente os chefes podem pensar e escrever. Estão equivocados: nós também o fazemos e não por imposição, nem porque alguém nos obriga a fazê-lo. Pouco nos conhecem. Temos conhecimentos e experiências suficientes para expressar nossas vivências, que conquistamos lutando ombro a ombro ao lado dos homens de nossa organização. Homens que, na busca da condição de homens novos, entendem e valorizam como nós, as lutas de gênero, no marco da luta de classes.

Por isso o meu apelo a todas as mulheres que, de uma forma ou de outra, lutam pela igualdade de gênero, as feministas, as que integram setores LGBTT, estudantes, jovens e trabalhadoras, mulheres do povo e geral, para que não se deixem usar pela classe dominante, que se rebelem contra os exploradores. Nós mulheres colombianas somos capazes de estar à altura de todos os desafios. Precisamente, é o machismo desta sociedade burguesa o que nos oprime. Porém, existem muitas formas de participar e existe espaço para todas e todos os que anseiam uma paz estável e duradoura.

Finalmente, quero convidá-las a apoiar o processo de paz que está em curso em Havana. Com sua participação e a do povo em seu conjunto, é possível acabar com este conflito que possui mais de meio século de existência.

Juramos vencer e Venceremos!



Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)



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