Governo desrespeita nações indígenas e impõe usinas

Governo desrespeita nações indígenas e impõe usinas
por Mário Lúcio de Paula
 
 
 
"Enquanto isso, cercadas por tropas da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal, Polícia Militar e até mesmo do exército, as obras de usinas nos rios Madeira, Tapajós, Teles Pires, Xingu e outros prosseguem, inundando e degradando áreas camponesas, territórios indígenas, expulsando populações ribeirinhas. Tudo isso, diga-se de passagem, não tem como objetivo eletrificar a Amazônia, mas transmitir energia barata para transnacionais, grandes mineradoras, etc., situadas na região sudeste do país. O chamado "Linhão do Madeira" partirá de Rondônia para o estado de São Paulo, assim como o grosso da energia gerada em Belo Monte e outras usinas terão destino semelhante. Grandes grupos liderados por empresas estrangeiras já disputam esse filão bilionário e apressam o governo para que cumpra as exigências do imperialismo e conclua essas obras a ferro e fogo."


 
Cerca de 150 indígenas representantes das nações que vivem nas regiões dos rios Teles Pires, Tapajós e Xingu, no Mato Grosso e Pará, dirigiram-se a Brasília para exigir a interrupção das obras das usinas em seus territórios.

Eles permaneceram na capital entre seis e 13 de junho e esperavam ser ouvidos pela gerência FMI-PT. Os representantes reivindicavam que a "consulta" aos povos indígenas e ribeirinhos a propósito da construção das usinas fosse respeitada e chegaram a entregar um documento apresentando 33 reivindicações a Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Em mais uma demonstração de intolerância, Carvalho declarou que não irá aceitar que as obras sejam interrompidas e que irá reforçar a presença da Força Nacional de Segurança no canteiro de obras.

 "O objetivo do governo é claro, de construir essas obras. Eles têm os objetivos deles e nós temos o nosso, de que não queremos esses projetos" - declarou a liderança indígena Valdeni Munduruku à Agência Brasil em quatro de junho, acrescentando - "Nós queremos ser consultados, mas ao final da consulta a gente quer poder dizer não e que ele seja levado em conta. Não entendo como diálogo quando o governo coloca a Polícia Federal com armas na nossa cabeça. Para nós isso não é diálogo, é ameaça".

Os caciques e demais lideranças protestaram contra o tratamento dispensado por Gilberto Carvalho frente à tentativa de negociar e expor o ponto de vista das nações indígenas:

"Estavam ironizando a gente. O ministro diz que concorda que Belo Monte teve erros, mas que quer corrigir lá no Tapajós. Diz que os erros do passado servem para não cometer erros no futuro. Diz ainda que estamos ensinando o governo. Gilberto tira sarro da gente ao dizer isso", indignou-se Jairo Saw, porta voz do cacique geral Munduruku. [fonte: xinguvivo.org.br, 05/06/2013]

Nenhuma das 33 reivindicações dos indígenas foi atendida. Da parte do governo, apenas foi feita a promessa de que, num prazo de 20 dias, uma equipe visitará a aldeia Munduruku Sai Cinza, no município de Jacareacanga – PA, para tratar das consequências do ataque da Polícia Federal em novembro de 2012 durante a "Operação Eldorado" que resultou no assassinato do indígena Adenilson Munduruku [ver AND nº 100 - Policiais federais invadem aldeia e assassinam indígena].

Durante sua permanência em Brasília, os indígenas foram mantidos sob constante vigilância da polícia legislativa, Polícia Federal e Polícia Militar. No dia 10, após aguardar por mais de seis horas para serem ouvidos pela presidenta interina da Funai, Maria Augusta Assirati, os indígenas decidiram ocupar a sede da Fundação em Brasília e somente desse modo conseguiram registrar suas denúncias na presidência da Câmara dos Deputados e ter acesso a recursos mínimos como alimentação até seu retorno às suas aldeias.

Após mais de uma semana em Brasília, revoltados com o resultado das conversas com representantes da gerência Dilma Roussef, os indígenas desocuparam a sede da Funai e retornaram às suas aldeias. Até então os indígenas haviam publicado nove cartas, protocolado documentos, demonstrado paciência e acreditavam poder haver "negociações". Partiram de suas distantes aldeias até o antro do gerenciamento semicolonial, abriram mão de se pronunciar em suas próprias línguas, tudo isso para ouvir que lhes aguarda mais repressão, sem ter atendida uma reivindicação sequer.




Enquanto isso, cercadas por tropas da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal, Polícia Militar e até mesmo do exército, as obras de usinas nos rios Madeira, Tapajós, Teles Pires, Xingu e outros prosseguem, inundando e degradando áreas camponesas, territórios indígenas, expulsando populações ribeirinhas. Tudo isso, diga-se de passagem, não tem como objetivo eletrificar a Amazônia, mas transmitir energia barata para transnacionais, grandes mineradoras, etc., situadas na região sudeste do país. O chamado "Linhão do Madeira" partirá de Rondônia para o estado de São Paulo, assim como o grosso da energia gerada em Belo Monte e outras usinas terão destino semelhante. Grandes grupos liderados por empresas estrangeiras já disputam esse filão bilionário e apressam o governo para que cumpra as exigências do imperialismo e conclua essas obras a ferro e fogo.

 
 
 
 
 
 

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