Refugiados: Mão de obra barata para o Ocidente “humanitário”

Refugiados: Mão de obra barata para o Ocidente “humanitário”
Ernesto Carmona Ulloa - HispanTV/Resumen Latinoamericano

"Segundo um comunicado de imprensa do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, “estamos explorando a criação de zonas econômicas especiais (ZESs, em inglês) e investimentos alentadores em projetos municipais e trabalhos que demandem muita mão de obra”. Segundo a propaganda do Banco Mundial, a meta é ajudar a aliviar as dificuldades a que fazem frente os refugiados na Jordânia, desenvolvendo cinco zonas econômicas especiais ao longo da fronteira síria. “Estamos utilizando uma abordagem holística para dirigir a afluência de refugiados para o desenvolvimento do setor privado”, disse um porta-voz do Banco Mundial citado por Lazare. No entanto, como fez notar Lazare, apesar de suas múltiplas tentativas de obter mais informação do Banco Mundial sobre as ZESs propostas, os detalhes específicos continuam sendo escassos. Além disso, denunciou a história das zonas econômicas especiais existentes na Jordânia (operadas “muitas vezes por companhias de serviço dos EUA sob uma variedade de nomes”), fustigadas pelo tráfico humano, pela tortura e pelo furto do salário."

70 milhões de habitantes de todo o mundo são agora refugiados devido a conflitos em suas nações de origem, segundo a Agência para os Refugiados da ONU.

O informe publicado em junho de 2015 indicou que, em 2014, uma a cada 122 pessoas era um refugiado, um deslocado interno ou um solicitante de asilo; e mais da metade destes refugiados eram crianças.

Enquanto os refugiados sírios explicam o seu maior aumento (estimado em 11,5 milhões), em outras localidades como a Colômbia, parte da África subsaariana e Ásia existem grandes populações de refugiados que não aparecem em nenhum informe. Segundo Antonio Guterres, alto comissionado da ONU para os Refugiados até a data do informe: “estamos presenciando uma mudança de paradigma, uma explosão descontrolada em uma era em que se multiplica a escala de deslocamento global forçado, assim como se restringe claramente a resposta agora requerida, algo nunca visto antes”.

Ainda que a expansão da crise global de refugiados seja coberta pelos meios hegemônicos (incluindo, por exemplo, New York Times e Washington Post), a exploração dos refugiados foi menos coberta. Em fevereiro de 2016, Sarah Lazare publicou um artigo no AlterNet, onde advertiu que o deslocamento seria a solução para a crise da empresa privada e do Banco Mundial. “Sob uma aparência de ajuda humanitária, o Banco Mundial está estimulando as empresas ocidentais a colocar em marcha ‘novos investimentos’ na Jordânia para beneficiar-se da mão de obra dos refugiados sírios. Em um país onde os trabalhadores emigrantes fazem frente à servidão forçada, tortura e furto, existem razões para suspeitar que esta ‘solução’ da crise crescente de deslocamento estabelecerá fábricas onde se explorará o trabalhador fazendo expressamente dos refugiados um alvo de guerra para a hiper exploração”, escreveu Lazare.

Segundo um comunicado de imprensa do presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, “estamos explorando a criação de zonas econômicas especiais (ZESs, em inglês) e investimentos alentadores em projetos municipais e trabalhos que demandem muita mão de obra”. Segundo a propaganda do Banco Mundial, a meta é ajudar a aliviar as dificuldades a que fazem frente os refugiados na Jordânia, desenvolvendo cinco zonas econômicas especiais ao longo da fronteira síria. “Estamos utilizando uma abordagem holística para dirigir a afluência de refugiados para o desenvolvimento do setor privado”, disse um porta-voz do Banco Mundial citado por Lazare. No entanto, como fez notar Lazare, apesar de suas múltiplas tentativas de obter mais informação do Banco Mundial sobre as ZESs propostas, os detalhes específicos continuam sendo escassos. Além disso, denunciou a história das zonas econômicas especiais existentes na Jordânia (operadas “muitas vezes por companhias de serviço dos EUA sob uma variedade de nomes”), fustigadas pelo tráfico humano, pela tortura e pelo furto do salário.

“Nesta era de deslocamentos de massas humanas pelas guerras em curso, devemos fazer perguntas difíceis sobre as implicações políticas de animar as companhias ocidentais a apontar e a beneficiar-se do trabalho das pessoas desarraigadas violentamente de seus lares”, escreveu Lazare. O programa do Banco Mundial “desperta perguntas mais profundas sobre a responsabilidade global de dirigir o dano humano a grande escala sobre a Síria, onde o Ocidente desempenhou o papel de desencadeá-lo”.

Myriam Francois, uma jornalista e investigadora associada a SOAS (School of Oriental and African Studies), Universidade de Londres, disse a Lazare que o desenvolvimento de ZESs na Jordânia “transformará acampamentos de emergência para refugiados e respostas temporárias a uma crise, em acordos muito permanentes. As ofertas de ZESs são menos sobre necessidades sírias e mais sobre a custódia de refugiados sírios fora da Europa criando (apenas) condições sustentáveis dentro dos campos que, então, trariam demandas ao asilo muito mais duras de reconhecer”, disse Myriam Francois.

Descrevendo como “trato entre diabos” o acordo entre Turquia e a União Europeia (UE) de impedir a entrada de milhões de refugiados na Europa, Glen Ford, do Black Agenda Report, disse que a Turquia “cobrou dinheiro pelas pessoas desamparadas que ajuda a se refazer”. Como divulgou Al Jazeera, a Turquia aceitou 3,3 bilhões de euros da União Europeia “em troca de controlar o fluxo de refugiados através do Mar Egeu”. A Turquia, segundo informações, pediu para dobrar essa soma para cobrir os custos de traficar com os refugiados. Antes, em março de 2016, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, advertiu aos refugiados da Ásia e da África que “não venham à Europa… É tudo para nada”.

Observando que “a grande quantidade dos refugiados na Turquia é vítima do papel turco na guerra contra a Síria, em aliança com a Europa, Estados Unidos e as aristocracias reais petroleiras do Golfo Pérsico”, Ford descreveu que o tráfico humano na Turquia avança “a uma escala não vista desde o comércio de escravos pelo Atlântico”.

Além do dinheiro da UE, a Turquia também visa buscar a admissão à União – e com isto, o direito a que 75 milhões de turcos entrem na Europa sem restrição de visto – como uma condição para controlar sua população de refugiados. Assim, segundo Ford, a Turquia engatou “em uma enorme estafa de proteções”, acordando efetivamente proteger a Europa contra outras incursões “de pessoas antes colonizadas, cujo trabalho e terras fez engordar durante meio milênio a Europa e seus estados colonialistas brancos”. Dessa forma, concluiu Ford, “os europeus nunca aceitarão a Turquia porque é muçulmana e não-muito-branca”.

A exploração corporativa da crise global dos refugiados foi subutilizada pela imprensa e apresentada com uma cobertura pró-empresa, como um artigo do Wall Street Journal de setembro de 2015 sobre o número de pequenas empresas e grandes corporações que estão encontrando maneiras de beneficiar-se da inundação de imigrantes. Diferente do informe de Lazare no AlterNet, a cobertura do Journal somente focou nos sírios que conseguiram manejar imigrantes aos países europeus. Segundo o Journal, grupos privados de equidade perseguiam através da Europa a criação de campos e serviços para refugiados como uma nova oportunidade de investimento “com promessas de crescimento potencial orgânico e aquisitivo”. O artigo do Journal citou Willy Koch, fundador aposentado da companhia suiça ORS Service AG, dizendo “As margens são muito baixas. Certamente, o volume é uma das chaves”.


Notas:

– Jennifer Baker, “Global Refugee Crises Reaches an Unprecedented 60 Million,” Revolution News, June 24, 2015, http://revolution-news.com/global-refugee-crises-reaches-an-unprecedented-60-million/.

– Sarah Lazare, “World Bank Woos Western Corporations to Profit from Labor of Stranded Syrian Refugees,” AlterNet, February 24, 2016, http://www.alternet.org/labor/world-bank-woos-western-corporations-profit-labor-stranded-syrian-refugees.

– Glen Ford, “Turkey and Europe: Human Trafficking on a Scale Not Seen since the Atlantic Slave Trade,” Black Agenda Radio, Black Agenda Report, broadcast March 8, 2016, transcript, http://www.blackagendareport.com/turkey_europe_human_trafficking.

– Student Researchers: Mark Nelson (Sonoma State University), Sean Donnelly (Citrus College), and Elizabeth Ramirez (College of Marin)

– Faculty Evaluators: Anne Donegan (Santa Rosa Junior College), Andy Lee Roth (Citrus College), and Susan Rahman (College of Marin)



Ernesto Carmona Ulloa





Fonte em português: Partido Comunista Brasileiro (PCB)



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