Venezuela: magnicídio na ordem do dia


Venezuela: magnicídio na ordem do dia

por Pedro Campos


No dia 26 de Setembro a Venezuela terá eleições parlamentares. Há quatro anos, a oposição oligárquica optou por boicotá-las e não participar na tentativa vã de deslegitimar o processo bolivariano. Saiu-lhe mal o tiro e esta vez, ao que parece, vai mesmo contar-se. Contudo, as sondagens não são muito animadoras para a burguesia crioula ao serviço de Washington e o assassínio de Hugo Chávez continua a ser uma opção para travar o processo de transformações progressistas iniciado em 1999. Apesar de há já várias décadas o governo de Kennedy ter proibido o assassinato de líderes estrangeiros – não disse nada sobre os nacionais e talvez por isso lhe sucedeu o que já sabemos – é evidente que esta «política» encaixa bem nos projectos da Casa Branca para uma América Latina que cada dia caminha mais firmemente para deixar de ser o quintal dos EUA.


É evidente que a reacção local nega qualquer acusação neste sentido. É tudo «propaganda do regime», e está claro que se tiver sucesso com este plano criminal dirá que a morte de Chávez foi um ajustamento de contas entre bolivarianos. As evidências são claras, mas os meios de (des)informação cumprem bem, a nível mundial, o seu papel de preparar a opinião pública para qualquer desenlace que faça jeito aos interesses do capital.


Há poucos dias foi detido, ao tentar ingressar na Venezuela, o salvadorenho Francisco Chávez Abarca, conhecido terrorista internacional estreitamente ligado ao famigerado anticastrista Posada Carriles, responsável por vários crimes e actos terroristas perpetrados em Cuba e noutros países da América Latina, entre eles a Venezuela, onde foi chefe da polícia política de Carlos Andrés Pérez, essa figura de proa da Internacional Socialista, a mesma que recentemente definiu Hugo Chávez como um «ditador moderno». Qual era a «missão» deste terrorista em Caracas? Ao que se sabe, este responsável por vários actos de terrorismo em Cuba admitiu que vinha provocar atentados antes das eleições de 26 de Setembro. Talvez fosse para algo mais, e aqui voltamos ao magnicídio tão caro à oligarquia venezuelana.


Dos mercenários colombianos aos terroristas de Israel


Em 2004, a oligarquia venezuelana lambia as feridas resultantes do fracasso do golpe de Abril de 2002 e da greve patronal de Dezembro 2002/Janeiro 2003, mas não estava inactiva. Sempre telecomandada por Washington, «importou» um grupo de 140 paramilitares colombianos. A inteligência venezuelana detectou-os e foram apanhados na herdade Daktari, não muito longe de Caracas. A sua missão era liquidar Chávez, o qual com muita generosidade e não menos inocência os devolveu pouco depois à Colômbia. Quem sabe quantos já terão reingressado na Venezuela com as mesmas intenções... Faz falta dizer que a oposição venezuelana negou qualquer relação com este grupo?


Mas há mais. Nesse mesmo ano, mas a 25 de Outubro, Orlando Urdaneta, actor e locutor de televisão ligado ao golpe de 2002, declarava num programa de televisão em Miami – a escória cubana e venezuelana dão-se bem nesse esgoto – que a solução política na Venezuela passava pelo assassinato de Hugo Chávez. Quando a entrevistadora, Maria Elvira Salazar, ligada à máfia anticastrista da Florida, lhe perguntou por alguns detalhes da «operação», Urdaneta foi claro: «Tudo isto começa com o desaparecimento físico, pelo menos, do ‘cão maior’ e talvez por uma boa parte da matilha». Instado a ser mais específico, Urdaneta falou assim: «Isso sucede com uns homens de armas compridas com miras telescópicas que não falham» e acrescentou que esta ordem terá de partir de empresários com «dinheiro suficiente para trazer um comando israelita, como Deus manda». Perante esta exortação ao magnicídio de um chefe de Estado com o qual Washington mantém relações diplomáticas, que fizeram as autoridades norte-americanas? Absolutamente nada, ainda que tenham sido instadas pelas venezuelanas a actuar como corresponde num caso de intenção criminosa.




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