Noam Chomsky:“A política exterior de Obama será como a segunda Administração Bush”


Noam Chomsky:

“A política exterior de Obama será como a segunda Administração Bush”

Tele-Sur, 7/maio/2009


Noam Chomsky, intelectual, escritor e professor universitário, revolucionou a lingüística moderna através de suas pesquisas e contribuições teóricas. Juntamente a sua longa carreira nas salas de aula, Chomsky levou adiante, através de décadas, uma incansável militância pela justiça social, impulsionando o papel dos intelectuais como agentes de transformação diante das políticas imorais dos governos.

Foi assim que ele se tornou um dos críticos mais radicais da política exterior intervencionista e imperialista dos sucessivos governos norteamericanos e de outros governos, ou como ele descreve, das elites que controlam o poder.

Nesta entrevista o professor Chomsky analisa vários temas de importância para Venezuela, como a posição do Governo Bolivariano em relação a Israel e Palestina, as expectativas da relação entre a administração de Obama e o Presidente Chaves, o programa atômico do Irã, o caso do terrorista Posada Carriles, Guantánamo e o bloqueio a Cuba, o contexto histórico da guerra midiática contra a Venezuela, a virada à esquerda da América Latina, o papel inspirador dos movimentos sociais na Bolívia e a Doutrina Monroe.

Esta entrevista foi realizada antes da cúpula de Chefes de Estado da OEA em Trinidad, porém, diante da solicitação de algum comentário adicional por causa dos acontecimentos da mencionada cúpula, o professor Chomsky manifestou a manutenção de todos seus pontos de vista.
Miguel Vera


Venezuela, Palestina e Israel

Miguel Vera: Prof. Chomsky, como o senhor sabe, o governo da Venezuela tem uma posição política definida em relação ao conflito de Gaza, posição esta que tem sido criticada por muitos, já que, segundo eles, originou sentimentos anti-semitas que levaram aos ataques a uma sinagoga em Caracas. Qual é sua opinião sobre a posição da Venezuela sobre o conflito de Gaza?

Chomsky: Pessoalmente considero que a posição da Venezuela está correta. Foi uma agressão selvagem e criminosa a uma população que se encontra praticamente encarcerada e que não pode escapar. Com este ataque de alta tecnologia e altamente destrutivo, não somente foram assassinados cerca de 1300 pessoas, mas também foi destruído o sistema agrícola e o pouco de indústria que existia.

Esta sociedade tem estado sob assédio permanente. É uma ocupação, não se deve chamar agressão, já que é um território ocupado; em nenhum momento deixou de ser – e se encontra sob ataque direto. Além disso os ataques não se restringem a Gaza, acontecem na Palestina inteira.

Com o apoio dos Estados Unidos, Israel constantemente realiza ações criminosas na Cisjordânia. Israel não se importa muito com Gaza, ficaria feliz se apodrecesse e afundasse no mar. O que realmente importa para Israel é a Cisjordânia, aí sim há terra com valor, terra agricultável, aí estão os prazerosos subúrbios de Jerusalém e Tel Aviv. Querem se apossar de tanto quanto possam. Aí eles têm todo tipo de interesses culturais e de presumidos interesses históricos.

Assim eles continuam se apropriando dos recursos, das terras e principalmente da água da Cisjordânia, para assim dividi-la em partes inviáveis, nas quais a população apodreça e neste processo haja um êxodo. Isto é completamente criminoso, eles sabem disso, está fora de discussão.

Em 1967, quando começaram os assentamentos, seus próprios assessores jurídicos avisaram que suas ações se configuravam como uma violação direta dos princípios essenciais da Lei Humanitária Internacional e da Convenção de Genebra – e eles sabiam disto. Desde então isso foi ratificado pelas cortes internacionais e em inúmeras resoluções do Conselho de Segurança, o que acontece é que não existe debate sobre este tema.

Israel quer se apossar destas terras por seus recursos e por outras razões. E os Estados Unidos apóiam Israel incondicionalmente. Conseguiram suprimir quase toda a resistência na Cisjordânia pela força. Em parte por sua própria força – que é massacrante - e em parte com a colaboração.

Os Estados Unidos e a Jordânia treinam forças militares dos partidos políticos que lhes são favoráveis. Sua função principal tem sido a de suprimir manifestações e protestos e prender simpatizantes. É uma estratégia típica do imperialismo. Desenvolvem uma colaboração entre as forças coloniais para controlar a população.

Assim têm conseguido suprimir os protestos na Cisjordânia. Ainda não puderam dominar totalmente as manifestações em Gaza, por isto destroem esta zona. Fora a clara selvageria e a covardia, estas ações são totalmente criminosas. Por isto temos que protestar.

A postura da Europa é vergonhosa; dizem que não concordam com essa situação, mas concretamente, a apóiam. A postura dos Estados Unidos é grotesca. A maioria dos países teme os Estados Unidos – com razões válidas – e por isto se calam.

A posição da Venezuela é totalmente honrada e não tem nada que ver com anti-semitismo. A profanação da sinagoga foi um ato anti-semita, mas não foi acionado pelo governo. A mesma coisa aconteceu na França e, que eu saiba, também nos Estados Unidos. Que eu saiba o governo da Venezuela adotou uma posição clara e condenou esta ação, encontrou os culpados que estão sendo processados. São as atitudes que qualquer país sério deveria tomar.

Palestina e o bloqueio a Cuba

MV: O senhor acha que se houvesse mais países assumindo uma posição clara em relação à ocupação israelense em Gaza, isso poderia resultar em alguma coisa nesta situação? Se a opinião pública se mobilizar e se mais países tomarem medidas similares as da Venezuela, o senhor acha que isto teria algum efeito?

Chomsky: Antes de mais nada temos que ser claros, não é somente a Faixa de Gaza. Os Estados Unidos e Israel gostariam que nos concentrássemos na Faixa de Gaza e que passássemos por cima do fato de que a Palestina é uma unidade. A Faixa de Gaza e a Cisjordânia são uma unidade. De fato, deveria ser uma pergunta mais ampla.

Pelo menos pela Lei Internacional, os limites territoriais de Israel foram criados em junho de 1967, os outros 22% de terras que conformam a Palestina é território ocupado. Isto inclui duas áreas separadas, não contíguas; a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Mas, essencialmente, são uma unidade.

Se a resistência aos atos criminosos de Israel é legítima na Cisjordânia, então a mesma resistência tem que ser considerada legítima na Faixa de Gaza. Eu disse isto à imprensa israelense e direi a você também: ainda que os ataques na Faixa de Gaza sejam particularmente ferozes, homicidas e destrutivos, o que acontece diariamente na Cisjordânia é também outra forma de destruir este povo.

É o que o falecido sociólogo israelense Baruch Kimmerling denominou “politicídio”; a destruição de uma nação. Pode não matar cada indivíduo, mas destrói a nação.

É o que acontece diariamente na Cisjordânia. De fato, Israel aproveitou o fato de que as atenções estavam voltadas para a Faixa de Gaza para expandir a infraestrutura de seus projetos de assentamento e desenvolvimento na Cisjordânia. Tudo isso concebido para cometer “politicídio”.

Portanto, temos que levar isto em conta. Se mais países adotassem uma postura mais firme, isto poderia exercer alguma influência nos que mandam. Na verdade os Estados Unidos dirigem o show, isto não é um segredo. Se a Europa tivesse vontade política de tomar uma posição independente, surtiria efeito, porque a Europa é poderosa e importante. Os países pequenos do mundo não podem fazer muita coisa.

Em uma pesquisa internacional recente, realizada por uma das mais importantes pesquisadoras das organizações internacionais de opinião pública, foi perguntado a pessoas do mundo todo qual era sua opinião sobre vários países. Israel estava no final da lista: é um país temido, detestado e considerado como o mais perigoso do mundo , por muitos países. O único país que se aproximava de Israel era o Irã, que ficou classificado quase no mesmo nível. Mas isso não tem importância desde que o dono do mundo continue apoiando Israel.

Assim a pergunta que tem que ser feita é se a opinião pública de outros países afeta as decisões do governo dos Estados Unidos. Não é fácil, nem sequer a opinião pública norteamericana afeta as decisões de seu governo em relação a muitos assuntos.

Consideremos um velho caso no hemisfério ocidental: Cuba. As sanções e o terror contra Cuba promovidos pelos Estados Unidos são atividades criminosas e toda a diplomacia mundial se opõe. A última votação nas Nações Unidas acho que foi 180 a 3, Estados Unidos, Israel e uma ilha do Pacífico, acho que Micronésia, o que quer dizer que na realidade é só os Estados Unidos. Israel tem que fazer o jogo dos Estados Unidos, ainda que de fato viola as sanções, portanto é só os Estados Unidos.

A opinião pública norteamericana tem sido, decididamente, favorável à suspensão das sanções, durante décadas, mas isso não teve nenhum efeito na política exterior – e este não é o único caso. Há um divórcio entre a opinião pública e as políticas dos Estados Unidos; não é uma democracia que funcione, ao contrário da propaganda que faz. Salvo se a opinião pública se organize e atue, não interessa o que as pessoas pensem. Houve mobilização sobre outros temas, mas não tem sido este o caso com relação a Cuba. Por esta razão as políticas do governo continuam seguindo seu próprio curso.

O mesmo acontece em relação às agressões, atrocidades e expansão de Israel. Enquanto o governo dos Estados Unidos as apóiem, será necessária a mobilização de poderosas forças para que estas políticas sejam modificadas. Qualquer ação tem importância, por isto o posicionamento da Venezuela é importante. Se fosse a França, teria mais peso, não que tenha que ser considerada mais importante, mas o que acontece é que o mundo opera através do poder e não da justiça. Assim são as coisas, ainda que não estejamos de acordo com isso.

Política exterior dos EEUU em relação a Venezuela, Rússia e Irã

MV: a ex Secretária de Estado, Condoleezza Rice disse uma vez que a administração de Chávez era uma força perigosa e maligna na América Latina. O presidente Barack Obama tem se referido ao presidente Chávez como uma força que interrompeu o progresso da região. Também tem dito que Chávez apóia atividades terroristas. Parece que há pouca diferença entre o que se disse durante a administração Bush e o que, aparentemente, será a posição de Obama em relação à Venezuela. Como o senhor vê isto? O senhor pensa que isto pode ser falta de informação da nova administração ou uma continuação das mesmas políticas?

Chomsky: É uma continuação das mesmas políticas. De fato, voltando a Condoleezza Rice, raramente concordo com ela, mas em algumas coisas tenho que concordar. Recentemente ela escreveu um artigo afirmando que a política exterior da administração de Obama será a mesma do segundo governo Bush.

As duas administrações Bush tiveram algumas diferenças; a primeira foi muito mais violenta, agressiva, arrogante em mostrar sua força ao mundo nos conduzindo a desastres seguidos de desastres e a uma avaliação cada vez pior sobre os Estados Unidos. Atualmente os Estados Unidos são mais detestados do que nunca, em todo o mundo, e isto é prejudicial a seus interesses cruciais.

Esta sociedade é basicamente dirigida pelas empresas. Formalmente é uma democracia, mas na realidade é uma sociedade dirigida pelas empresas e seus negócios, e seus lucros têm sido afetados por estes acontecimentos. Por isto houve pressão para que houvesse mudanças na administração Bush. De fato, algumas das figuras mais destrutivas, brutais e antidemocráticas foram removidas: Wolfowitz, Rumsfeld e outros. Sobrou Cheney, como assistente de Bush, que, basicamente era a administração. Assim que as políticas mudaram, movendo-se mais para o centro.

Não há indicação alguma de que Obama vá mudar estas políticas. De fato, em algumas instâncias ele tem tomado posições mais agressivas, como no Afeganistão e no Paquistão. Obama é uma pessoa inteligente e estou convencido de que o que ele diz tem sido preparado cuidadosamente por ele e por seus assessores, e expressa o que ele quer. Mas, em todas as suas declarações, ele tem sido deliberadamente impreciso.

A campanha eleitoral de Obama ganhou um prêmio da industria publicitária pela melhor campanha mercadológica de 2008. Ganhou da campanha dos computadores Apple. Os altos executivos publicitários foram muito efusivos, literalmente disseram que haviam comercializado candidatos da mesma forma que se comercializa a mercadoria há mais de 30 anos, desde os tempos de Reagan, mas que esta foi a maior conquista que tiveram. Isto terá um grande efeito sobre os diretores executivos publicitários, a cultura corporativa adotará este modelo para comercializar outras coisas. Esta campanha eleitoral foi uma campanha de mercado.

Eles têm bem claro que devem escamotear certos assuntos e se concentram em consignas vazias que somente servem para levantar o ânimo. É o que a imprensa chama de “sorving rhetoric”, como por exemplo: “esperança”, ” mudança”, “mudança na qual você pode acreditar”. Mas, se as pessoas se perguntarem que medidas vai tomar, terão que se esforçar bastante para poder entendê-las. Na melhor das hipóteses, talvez se possa encontrar alguma coisa em sua página web. Mas estes não eram os temas da campanha, que teve êxito como campanha de mercado. De fato há estudos que demonstram isto e os publicitários ficaram encantados por isso.

Fala-se muito do apoio massivo de pequenos contribuintes mas, na realidade foi mínimo. A maior parte do apoio econômico foi dado por financeiras e por escritórios de advocacia que também são lobistas – e suas políticas é claro que vão refletir isto. Já se pode ver isso por sua escolha de nomes para os cargos no governo e por seus assessores diretos. É basicamente uma administração de democratas de centro, com a qual as pessoas estão familiarizadas e não se diferencia tanto do segundo período de Bush. Somente se diferenciará em alguns assuntos. Serão reduzidas as violações mais extremas à lei e à constituição, levadas a cabo pela administração Cheney-Bush, como as torturas em Guantánamo ou a vigilância ilegal, mas praticamente qualquer dos candidatos, inclusive McCain, provavelmente faria o mesmo.


Esta será uma administração de menos confronto com o resto do mundo, mas vai seguir as mesmas políticas. Isto ficou claro com os recentes ataques a Gaza. A campanha de Gaza é um exemplo incrível. Foi planejada muito cuidadosamente com meses de antecedência, e a imprensa israelense diz isso abertamente. Foi meticulosa e claramente planejada para que terminasse antes da posse presidencial, terminou um dia antes.

Isso não é nenhuma casualidade, já que permita aparentasse não poder dizer nada a respeito. Enquanto ocorriam as atrocidades, ele dizia: “Há um só presidente, portanto não posso dizer nada a este respeito”. É claro que ele opinava sobre todos os outros acontecimentos, nada o impediu de falar sobre a “”ideologia do ódio” que estaria por trás dos ataques terroristas em Munbay. Ele podia opinar sobre isso, mas não podia falar do outro assunto porque “há um só presidente”.

A imprensa e os eleitores engoliram esse pretexto, mas os ataques na Faixa de Gaza tinham que terminar antes de sua posse. Mas ele já é o presidente. E o que diz agora? De fato sua primeira declaração sobre política exterior foi sobre Israel e Palestina, em conecção com a nomeação de George Mitchell como mediador.

Mencionou também alguma coisa sobre a paz entre Israel e Palestina, sobre uma proposta significativa, com um discurso cuidadosamente elaborado. Disse que havia uma proposta importante, com a qual ele estava de acordo, que era de iniciativa da Liga Árabe. Proposta esta que tratava da normalização das relações com Israel e que os estados árabes deviam se esforçar para isso. Mas ele sabe perfeitamente bem que não é isso que a Liga Árabe propõe. A Liga Árabe propõe o estabelecimento de dois estados (israelense e palestino) com suas fronteiras internacionais, de acordo com o consenso internacional; posição que os Estados Unidos bloquearam durante trinta anos. É nesse contexto que se encaminhariam para o estabelecimento da normalização das relações com Israel.

O fato de que Obama omita o componente essencial da proposta não é acidental. Ele sabe o que está fazendo, não é um bobo. O que quer dizer é que continuarão fazendo o que for necessário, inclusive continuar bloqueando a resolução política, mas queremos a normalização das relações com os países a árabes que são nossos clientes.

Deve ter sido necessária muita disciplina, da parte da mídia e dos intelectuais, para que fingissem não perceber tudo isto. O que acontece é que tudo isso é a perfeita obediência. Eles simplesmente seguem os passos de seu amo, como os passos de ganso. A mesma coisa acontece quando o entrevistam, repetem sempre que ele é muito comunicativo e que está cheio de esperança.

A declaração seguinte sobre política exterior foi um discurso do vice-presidente, Joe Biden, que também foi elogiado por ser muito comunicativo e por querer estender a mão da amizade ao Irã e à Rússia. Biden não é tão arrogante quanto John Bolton, que mandou que eles afundassem no lago mais próximo; pelo contrário, é muito amável e utiliza palavras simpáticas, no estilo sejamos todos bons amigos.

Mas o importante é se fixar no conteúdo. Sobre a Rússia ele disse que continuariam colocando sistemas de mísseis de defesa perto de suas fronteiras. Ele sabe muito bem que a Rússia considera isso como um potencial ataque a suas capacidades nucleares de dissuasão. É por isso que a Rússia se opõe, não tem nada que ver com o Irã.

Estados Unidos argumenta que é para impedir que o Irã dispare mísseis, que o Irã não tem, e armas nucleares que tampouco tem. Mas qualquer pessoa com a cabeça no lugar sabe que ainda que o Irã tivesse mísseis e armas nucleares, não atacaria a Europa a menos que quisesse ser borrado do mapa imediatamente, e não há nenhuma razão para supor que o Irã deseje tal coisa.

Então, acho que isto é uma grande fraude. Se estivessem verdadeiramente preocupados com uma ameaça iraniana, que não existe, teriam colocado o sistema de defesa de mísseis no sul, em algum lugar como o Azerbaijão, como foi proposta da Rússia. Mas isso não interessa a eles. O que realmente querem é ameaçar a força dissuasiva nuclear russa.

Os analistas estratégicos norteamericanos têm consciência disso. Pode-se ler nas publicações mais importantes. As bases de mísseis neste momento não provocam reações imediatas dos russos, isto não funcionaria, mas pode servir de base para Rússia reagir, além disso é uma provocação para a Rússia.

Biden insistiu em falar com voz baixa, em vez de ser arrogante, para dizer que vamos continuar com estas políticas. Continuar cercando os territórios russos na Europa.

E o que disse sobre o Irã? Disse que poderíamos abrir conversações desde que eles abandonem seus programas nucleares ilícitos.Quais são estes “programas nucleares ilícitos”? O Irã é um dos signatários do Tratado de Não Proliferação. Portanto, tem todo o direito de realizar seus programas nucleares e desenvolver a energia nuclear.

A grande maioria dos países do mundo está de acordo com isto, mas são membros dos países não alinhados, portanto “não existem”. Tudo o que se lê no ocidente é que o Irã está desafiando a comunidade internacional. A “comunidade internacional” quer dizer todo aquele que tenha armas suficientes para golpear a cabeça dos demais.

Se a maioria dos países do mundo não está de acordo com a “comunidade internacional”, não tem importância, pois estes países não existem. E o que pensa a opinião pública americana? Uma grande maioria considera que o Irã tem direito a desenvolver a energia nuclear. Mas assim como0 os países não alinhados, os cidadãos americanos tampouco fazem parte da comunidade “internacional”.

Assim que quando lemos artigos do New York Times ou da grande imprensa britânica sobre desafios á “comunidade internacional”, eles estão se referindo ao governo dos Estados Unidos.

Quais são estes programas ilícitos? São programas de armas? Talvez, mas a inteligência norteamericana não acredita nisso. Faz somente um ano que a inteligência norteamericana declarou ter certeza de que o Irã tinha interrompido seu programa de armas nucleares cinco anos antes. para o governo americano isso não pegou bem e por isto desapareceram as condições que permitiram que a mídia pudesse investigar este assunto, que assim, desapareceu dos meios de comunicação. Os comentaristas intelectuais não tocam mais neste tema.

Então agora, por ordem do governo, é um fato que o Irã está desenvolvendo armas nucleares. E se estiverem fazendo isso, eu francamente não me surpreenderia. Na realidade o que seria surpreendente seria que não o fizessem, ainda que somente como força dissuasiva. O Irã está completamente rodeado de países que possuem armas nucleares; os Estados Unidos têm mais gastos militares do que o resto dos países somados; e é um estado muito violento, acaba de invadir dois países. Seria surpreendente que o Irã não desenvolvesse dissuasivos nucleares. De fato, a cerca de dois anos, um dos mais destacados historiadores militares de Israel, Martin van Crevel, escreveu um artigo no Internacional Herald Tribune , no qual afirma que não é que deseje que o Irã tenha armas nucleares, mas que considera que se não está fazendo isto, é uma loucura, especialmente depois da invasão do Iraque.

Portanto, pode ser que o Irã tenha armas, pode ser que a inteligência norteamericana esteja errada, mas nada disso dá a Biden o direito de falar de “programas nucleares ilícitos”. Não há nenhuma evidência de que estes programas existam, o problema é que os Estados Unidos não querem que o Irã se desenvolva. E seu programa nuclear é precisamente o tema que está em discussão do ponto de vista dos Estados Unidos. Há outras questões em relação ao Irã, mas este é o que está em discussão, do ponto de vista dos Estados Unidos. O Irã tem muitos outros problemas, mas não faz parte do mundo tampouco, não possui armas suficientes para fazer pare do mundo. Por isto, do ponto de vista norteamericano e europeu, o único assunto que importa é o das armas nucleares e o que chamam de “apoio ao terrorismo”. Apoiar o terrorismo quer dizer apoiar a resistência aos atos criminosos dos Estados Unidos e de Israel,
isto para eles é terrorismo.

Esses são os temas que deveriam ser discutidos na negociação. Dizer que somente negociarão sob suas condições é o mesmo que dizer que não querem negociar. Este foi o conteúdo do discurso de Biden. Foi dito de forma amável, em tom amistoso e com palavras agradáveis e por isto é descrito como muito comunicativo. Do ponto de vista das elites norteamericanas e européias, este passo é muito positivo, já que desejaria, no fundo, apoiar a violência e as agressões. Consideram este discurso útil. Mas se fosse feito por alguém como Cheney ou Boulton, não poderiam acompanhá-lo, pois seu estilo é muito ofensivo e intolerante. O que querem é que alguém como Obama faça o discurso, ele fala de uma forma amável, vem da faculdade de Direito, é negro – e por isto eles podem fingir que não são racistas, embora o sejam até mais do que os norteamericanos, de modo que para eles este discurso é agradável.

Mas presta atenção no conteúdo, Condoleezza Rice está, mais ou menos, certa em sua apreciação. Nada indica o contrário.

POSADA CARRILES e GUANTÁNAMO

MV: Professor, uma das exigências que o governo venezuelano fez para melhoraras relações com o governo dos Estados Unidos, foi a extradição do conhecido terrorista Posada Carriles. Também solicitou a extradição dos dois ex-militares responsáveis pelos atentados a bomba em sedes diplomáticas em Caracas. O senhor acha que o governo norteamericano poderia entregar estes terroristas ao governo venezuelano? Afinal de contas eles vão fechar a base de Guantánamo e este gesto seria um sinal de respeito pelos direitos humanos.

Chomsky: Vão fechar Guantánamo porque não era útil e havia se convertido numa vergonha para os Estados Unidos, tanto a nível internacional como internamente. Além disso há uma enorme quantidade de textos e de pareceres jurídicos condenando Guantánamo.

Era mentira que tinham que conseguir evidências da tortura em Guantánamo. As discussões neste sentido eram muito elaboradas. Não é necessário ter evidências. O simples fato de que Guantánamo exista é suficiente para deixar claro que é um centro de tortura. Se não fosse, porque não estaria em Nova York? Disseram que era arriscado permitir que pessoas tão perigosas estivessem em Nova York. Mas não é perigoso. Se acham que é, porque não deixá-los em uma prisão de segurança máxima? Se bem que as prisões de segurança máxima dos Estados Unidos, não são tão diferentes de Guantánamo. Aqui também se tortura prisioneiros.

Guantánamo foi aberto em território estrangeiro para aparentar que está fora da jurisdição da lei doméstica e das leis internacionais. Não há nenhuma outra razão para que não tenha sido este o motivo.

Este fato nos mostra que é, efetivamente, um centro de tortura. Todas as evidências demonstram claramente que é assim. Esta prisão não tem nenhum sentido prático, assim como Abu Ghraib, é uma grande vergonha para os Estados Unidos. Por isso vão fechá-la, para não ter que envergonhar-se. Mas isso não significa que estejam dando um passo em alguma direção.

Quanto aos terroristas, Orlando Bosch é o principal, Posada Carriles é o outro e há uns quantos mais. Estados Unidos os tem protegido desde sempre. Faz parte da chamada doutrina Bush, que é considerada como princípio de fato da lei internacional, por destacados professores da Universidade de Harvard.

A doutrina Bush diz que um país que acolhe terroristas é tão culpado quanto os terroristas. Portanto devem ser tratados como tal. Isto significa que Bush está pedindo que bombardeiem os Estados Unidos. Ele deveria ter sido levado a julgamento por traição já que está explicitamente pedindo isso. Não há dúvidas de que essas pessoas são terroristas. No caso de Orlando Bosch já se passaram vinte anos.

O Departamento de Justiça e o FBI o acusaram de cerca de trinta atos terroristas. Queriam sua deportação por considerá-lo uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos. George Bush, pai, lhe concedeu o perdão presidencial. Atualmente passeia tranquilamente em Miami e, recentemente Posada se juntou a ele. Então, se é verdade que a doutrina Bush é um princípio de fato da lei internacional, os atentados de 11 de setembro seriam legítimos.

Mas eles não são os únicos, Emmanuel Constant, um dos principais assassinos dos esquadrões da morte do Haiti, foi de fato respaldado por Clinton, ainda que não se atreva a dizê-lo. Ele vive tranquilamente, há anos, em Nova Iorque. O Haiti pediu sua extradição, mas os Estados Unidos nem se incomodou em responder. Para que responder ao Haiti? Constant é responsável pelo assassinato de umas quatro mil pessoas, o que é bastante sério. Ele era o cabeça de uma organização terrorista no Haiti. Recentemente foi preso por uma pequena infração. Posadas também, foi julgado somente por ter violado as leis de imigração e não por ter colocado uma bomba no avião da Cubana de Aviação.

Não vejo nenhuma indicação de que as coisas estejam para mudar. Quase não existe pressão da opinião pública, porque quase ninguém tem essas informações, somente aqueles que estão envolvidos diretamente nestas questões. Se fosse feita uma pesquisa sobre o tema nos Estados Unidos, praticamente ninguém teria conhecimento do assunto.

O New York Times e a guerra midiática

MV: Professor, como funcionam os meios de comunicação nos Estados Unidos? Como o Sr. Vê a cobertura destas corporações midiáticas sobre a Venezuela? Por exemplo, em 2007 saiu um artigo no New York Times, escrito por Simón Romero, no qual ele afirma que os gastos militares da Venezuela chegaram aos níveis mais altos do mundo. Romero afirma que a Venezuela está chegando ao nível de compradores como o Paquistão e o Irã.

Chomsky: Tenho certeza de que a Venezuela gostaria muito de poder comprar armamentos dos Estados Unidos ou da França, mas não permitem que faça isso. É sempre a mesma história. Romero não é nenhum bobo, ele conhece a história da América Latina.

Quando, na administração de Eisenhower, os Estados Unidos quiseram derrubar o governo democrático da Guatemala (Jacobo Arbenz), começaram com ameaças – e os Estados Unidos não ameaçam de brincadeira – depois com a difamação, tachando-os de comunistas.

Quando a Guatemala tentou conseguir armas para se defender dos Estados Unidos, foi bloqueada. Tentou comprar armas da França e os Estados Unidos pressionaram para que a França não vendesse. Queriam obrigar a Guatemala a comprar dos países do leste. Finalmente a Guatemala conseguiu comprar da Tchecoslováquia, o que causou um grande escândalo, já que foi considerada como uma ameaça a todo o continente. Este argumento serviu como base para a propaganda que o governo dos Estados Unidos utilizou antes da invasão.

A América Latina não concordou, mas estava sendo aterrorizada pelos Estados Unidos. Apoiavam a Guatemala, mas não se atreviam a tornar público este apoio. Tentaram fazer a mesma coisa com Cuba. Realmente existem documentos que provam isto. A Inglaterra aconselhou os Estados Unidos a forçar Cuba a comprar armas nos países do leste europeu, para que tivessem um motivo para atacar. Os cubanos acabaram comprando armas da Rússia.

Tentaram a mesma coisa com a Nicarágua. Nos anos oitenta os Estados Unidos fizeram um grande esforço para conseguir que os sandinistas comprassem armas da Rússia, da Líbia ou de qualquer lugar que criasse um fato do qual pudessem se aproveitar. Mas os sandinistas não caíram na armadilha. Então os Estados Unidos espalharam que a Nicarágua tinha comprado armas da Rússia e se colocaram, claramente, contra a realização das eleições de 1984, já que seriam monitoradas e teriam credibilidade. Seriam seriamente fiscalizadas por especialistas internacionais, que diriam que as eleições foram limpas, mas isso era inaceitável.

Um país que está sendo desestabilizado pelo terrorismo em grande escala, não pode ter eleições justas e limpas. Isto é uma regra. E como conseguiram fazer um bloqueio de silêncio sobre as eleições nicaraguenses? Através de um bem sucedido esforço propagandístico. Enquanto se realizavam as eleições, a administração Reagan inundava o país com boatos de que a Rússia estava enviando armamento pesado para a Nicarágua. Claro que estas histórias eram falsas, mas ainda assim saíam estampadas nas capas e manchetes de revistas e jornais.

A opinião da elite norteamericana se dividiu de um modo interessante. O grupo dos falcões disse: está bem, vamos bombardear a Nicarágua; o grupo dos pombos, que incluía senadores mais moderados, disse que a notícia podia não ser verdadeira, que tinhamos que verificar antes, mas que se fosse verdade, temos que bombardear, porque não é permitido que a Nicarágua tenha armas.

Mas para que os nicaraguenses queriam armas? Necessitavam das armas porque a CIA tinha o controle total de seu espaço aéreo e usava isto para enviar instruções para o exército terrorista (os contras) para que soubessem como se esquivar do exército nicaragüense e para que atacassem alvos civis como as cooperativas de agricultores. Os contras não eram um grupo guerrilheiro comum, pois contavam com computadores e aviões que lhes davam diretrizes.

A Nicarágua quis defender seu espaço aéreo, portanto, se tivesse adquirido armas antiaéreas, isto teria sido totalmente legítimo. Mas na realidade tudo isto foi uma grande farsa para que a realização das eleições fosse esquecida. Segundo a história dos Estados Unidos elas não aconteceram. É muito difícil encontrar alguma referência a estas eleições nos livros de história.

Esta é uma técnica padrão. Gostariam de usá-la contra a Venezuela. A Venezuela fazendo ou não, cairia na armadilha. Mas é um golpe muito velho. Romero certamente conhece esta história. De qualquer modo, que tipo de ameaça a Nicarágua representava? A quem iria atacar? Se olhamos para trás, é difícil saber se Ronald Reagan era um ser humano ou não. Ele calçou suas botas de vaqueiro e decretou estado de emergência nos Estados Unidos por causa da ameaça à segurança nacional, representada pela Nicarágua. Disse também que o exército nicaragüense estava a dois dias do Texas e que, praticamente, seríamos destruídos. E as pessoas não acharam graça.

Isto me faz lembrar um incidente que aconteceu, suponho que em 1961, quando Kennedy estava operando para que a OEA apoiasse as sanções contra Cuba, já que esta era uma ameaça para a segurança do hemisfério ocidental. A maioria dos países concordou pelo medo que tinham dos Estados Unidos. Mas o México negou seu apoio. O embaixador do México disse a Kennedy que se voltasse para o México dizendo que Cuba era uma ameaça para a segurança, 40 milhões de mexicanos iriam morrer de rir. E é verdade, isto deveria provocar risadas.

Mas aqui não houve risadas, aqui a opinião pública acreditou na farsa. Aqui a Nicarágua era uma ameaça à segurança, Granada era uma ameaça à segurança. Os russos nem sequer podiam encontrar Granada nos mapas, mesmo sendo esta a capital mundial das nozes. Apesar disso representava uma ameaça à segurança e, por isso, tivemos que invadir.

Isto é o que é vendido à população nos Estados Unidos, e dá para entender. Os assuntos internacionais são conduzidos de forma mafiosa. Se alguém se atreve a desafiar o poderoso chefão, talvez algum comerciante que se negue a pagar sua taxa de proteção, a máfia tem que enviar seus homens armados para acabar com ele e para que sirva de exemplo.

Por mais insignificante que possa parecer, para eles qualquer desafio a suas regras é muito sério, já que pode parecer aos demais que tampouco têm a obrigação de pagar suas taxas. Por isto, como Maurice Bishop montou um sistema de cooperativas eficiente, em Granada, a administração Carter considerou que isto era uma ameaça para nossa segurança. Quanto mais fraco for o país, maior é a ameaça. Porque se um país pequeno pode desafiar as regras, um país vizinho pode achar que também pode fazê-lo.

Se examinarmos os registros de documentos, fica claro que os Estados Unidos são um país muito liberal, mais do que qualquer outro. Temos um significativo registro de documentação interna. No caso de Cuba, Guatemala e outros países, a ameaça consistia no que Henry Kissinger chamou de um vírus contagioso. Outros países iriam pensar que para eles também seria possível. Ele se referia ao Chile de Allende. Disse que Allende era um vírus que poderia se propagar no sul da Europa.

Mas Kissinger não acreditava que o exército de Allende fizesse parte de alguma ameaça. O que ele achava, e talvez tivesse razão, era que a democracia parlamentar que conduzia moderadas reformas socialistas no Chile, poderia fortalecer os grupos que na Itália e na Espanha caminhavam na mesma direção. Por isto tinham que cortar o mal pela raiz.

Este é um dos aspectos mais importantes nos assuntos internacionais, encontra-se nos registros históricos, aparece de forma explícita nos registros de documentos. É necessário um imenso esforço das classes educadas para que isto seja claramente visto. O que se vê facilmente são os pretextos que utilizam para cada caso. O caso de Romero simplesmente se encaixa numa velha tradição.


A América Latina e a Doutrina Monroe

MV: Para concluir, gostaria que o Sr. comentasse a guinada à esquerda da América Latina neste momento decisivo e também suas reflexões sobre as organizações de base na Venezuela, como os conselhos comunais, na tarefa de construção do Poder Popular.

Chomsky: A América Latina, a América do Sul particularmente, está passando por grandes mudanças. São mudanças muito significativas e que acontecem em quase toda a região. É hoje talvez o lugar mais emocionante do mundo e essas mudanças são produto dos movimentos populares. A Bolívia é um caso dramático, já que talvez possa ser considerada como o país mais democrático do mundo. Justamente por isto os Estados Unidos a denunciam como antidemocrática, e os Estados Unidos são demasiados democráticos para poder tolerar o que está acontecendo na Bolívia. Até certo ponto algo similar está acontecendo em toda a região, mas de forma diferenciada.

Em relação às organizações populares na Venezuela, o que elas estão fazendo é se assegurar de que a estrutura realmente funcione e que se transforme em instituições de Poder Popular que funcionem e trabalhem para mudar as relações sociais e culturais e para promover a mudança política que venha das bases.

O caso da Bolívia é dramático. Comparar a situação da Bolívia com a dos Estados Unidos é muito interessante. Eu já tinha mencionado que as últimas eleições nos Estados Unidos foram aclamadas pelas empresas publicitárias com uma vitória estrondosa – lograram comercializar um candidato como se comercializa um artigo para venda. Não sabemos muito sobre as políticas de administração de Obama, mas o que sim sabemos é que não provem das bases.

Não há organizações de base que influenciem estas políticas. Pode ser que algumas organizações dêem sua opinião, mas ninguém presta atenção nela. Na Bolívia acontece exatamente o contrario. Os bolivianos não estão esperando as ordens de Morales para que eles então pressionem Morales. Aqui se supõe que as pessoas esperem as instruções do líder para depois fazer pressão. Na Bolívia as políticas emergem das organizações de massa e foram elas que elegeram alguém de seu próprio meio.

È interessante ver a euforia que houve na Europa em torno da campanha eleitoral norteamericana; somente nos Estados Unidos pode haver tanta magia. Para os padrões europeus provavelmente isso seja correto; lá são mais racistas do que nos Estados Unidos. Mas para os padrões mundiais isso não significa nada.

É muito mais surpreendente que na Bolívia as organizações populares tenham conseguido eleger um presidente de seu próprio meio, do campesinato. Há muitos outros casos como este, mas aconteceram em lugares onde as pessoas são consideradas subumanas pelo Ocidente, porque para estes as pessoas são sujeitos e não agentes da mudança.

Na Bolívia não foram somente as organizações populares, havia problemas reais. Nos Estados Unidos os problemas são colocados à margem, porque esta não é a forma de comercializar candidatos. Na Bolívia se encaram os problemas: o controle de seus recursos, direitos culturais, justiça, diretos étnicos. O que aconteceu não foi que o povo um dia, simplesmente compareceu as urnas. O dia das eleições foi somente um dos cenários de uma luta popular que vem sendo travada há muitos anos. Isso sim é democracia.

Por isso é que aqui a mídia descreve a Bolívia como antidemocracia. O que motiva esta afirmação é o fato de que a Bolívia é verdadeiramente democrática, o que é intolerável. Acho que esse é o modelo a seguir. As sociedades têm suas próprias maneiras de fazer as coisas, mas este é um modelo inspirador para a Venezuela e os demais países.

MV: O Sr. acha que a Doutrina Monroe foi destruída pela unidade latinoamericana?

Chomsky: Está sendo desafiada. Em Santiago do Chile houve uma reunião da UNASUR durante a qual os estados fortes apoiaram Morales contra os movimentos separatistas da Bolívia. Isto foi de suma importância. Realmente, foi tão importante que não se divulgou nos meios de comunicação dos Estados Unidos.

A resposta de Morales foi agradecer este apoio e dizer que pela primeira vez em 500 anos a América Latina está tomando seu destino em suas próprias mãos. Ora, isso tem muita importância para que seja divulgado nos meios de comunicação deste país. Para os Estados Unidos isto é um desafio, e por essa razão são tão intransigentes. Há documentos secretos dos governos de Kennedy e Lyndon Johnson aonde se diz explicitamente que o problema de Cuba é ter conseguido desafiar as políticas norteamericanas, é ter conseguido desafiar a Doutrina Monroe.

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